TRISTE 33ª TEMPORADA (1987/2020…
Nunca esperei voltar a viver uma temporada taurina sem poder ir aos toiros: no campo, nas ruas, nas praças. Em 1995 devido ao brutal acidente que sofri, em pleno Colete Encarnado, vi-me forçado a suspender a temporada e o programa de rádio que tinha na Oásis FM em Sobral de Monte Agraço. Foram 9 longos e duros meses sem ir aos toiros. Ou quase, porque em Fevereiro de 1996 consegui ir ver um espectáculo à Nazaré. E em Abril desse ano, um mês depois de ter tido alta hospitalar, voltei a fazer rádio e a ir ás corridas e aos tentadeiros.
Este ano de 202, quando tudo parecia encaminhar-se para poder voltar a fazer uma temporada em grande, revistando praças emblemáticas como Olivença, Sevilha e Madrid, eis que o COVID-19 tudo fez parar. Cumpriu-se apenas Olivença na parte espanhola, na Feira que comemorou este ano o seu 30º aniversário. E por cá fiquei pelo Campo Pequeno no seu Dia da Tauromaquia e uma aula prática de toureio na Moita.
Que forma de comemorar a 33ª temporada… Diz-se que a Ressureição de Cristo, crucificado aos 33 anos, aconteceu no Domingo de Páscoa, correspondendo esta data ao reatar a sério de cada temporada nas mais importantes praças de toiros do Mundo. E Lisboa não era excepção! Esse ressurgir é algo que agora se vê com muita dificuldade. Não que as gentes do toiro não estejam capacitadas para montar grandes corridas, de máxima categoria, capazes de chamar os aficionados e o público em geral, mas antes porque o confinamento, o isolamento social, o afastamento a que estamos obrigados, irá ser bem mais difícil de superar. Será um enorme desafio sentar as pessoas umas ao lado das outras, com confiança, como sempre sucedeu…
E este 2020 será, garantidamente, um sério e enorme desafio para a Tauromaquia em todas as suas vertentes, com algumas festas históricas e e cheias de significado em muitos pontos do País já anuladas e outras em vias de o serem devido ao Estado de Emergência. Alguém imaginaria que não se realizariam a Feira de Maio de Azambuja, a Feira Nacional de Agricultura em Santarém, a Sardinha Assada em Benavente e que até a Quinta Feira da Ascensão na Chamusca e o Colete Encarnado em Vila Franca, ficariam, como se diz na gíria, “em águas de bacalhau”?
Mas também o mês de Agosto e as importantes Feiras de Abiúl e do Barrete Verde de Alcochete parecem condenadas, como o 15 de Agosto em Reguengos e Caldas da Rainha, as Festas de Arruda dos Vinhos e de Coruche, Messejana e Reguengos, não esquecendo a Figueira da Foz e a Nazaré, entre tantas outras.
Portugal parou e o retomar do caminho, da actividade económica e do relacionamento social será extremamente difícil e moroso, não tenho dúvidas. A abertura da economia com as empresas a começarem a laborar de forma faseada com as necessárias restrições por causa da saúde pública, vai perdurar no tempo e mais ainda na memória.
Estava longe de pensar que ia viver uma temporada de guerra. Não uma guerra convencional com exércitos e armas convencionais em que homens e mulheres de armas em punho defendem o seu espaço, mas estamos a viver uma luta contra um inimigo invisível , provavelmente criado em laboratório e destinado a exterminar parte da nossa civilização. Um inimigo que ninguém sabe muito bem como combater, ao contrário de outras epidemias como a gripe, o sarampo, a tuberculose.
Sinto um nó na garganta e o coração apertado por saber que apesar do meu confinamento/isolamento, a minha impossibilidade de ir onde quero e de estar com quem quero, possa ser suficiente para a solução do problema.
Quando se abrirem as portas, espero que todos os que estão ligados à Festa Brava vejam aí uma janela de oportunidades para fazer bem mais e bem melhor do que até aqui e que a união de todos seja uma realidade para começarmos do zero e atingir o êxito.
António Lúcio