SEGUNDA ABORDAGEM À TEMPORADA 2024 DO BARREIRA DE SOMBRA
Como escrevi ontem, “nisto de aliciantes muito haveria para dizer ou para escrever.” E a falta de aliciantes, e novidades impactantes, de competição séria, aliada à vetustez das praças de toiros e das suas bastante incómodas bancadas, afastam público e não permitem o superavit financeiro que os empresários deveriam primeiro procurar, depois conquistar. Sim porque dinheiro existe. Basta vermos os concertos anunciados para as grandes salas de espectáculos, para os grandes certames musicais, esgotados não importa qual o preço, ou até para o futebol onde também não é barato assistir a jogos dos grandes e mais ainda se se tratar de competições europeias.
Há 40 anos atrás havia um leque variado de aristas tauromáquicos e de opções oferecidas ao espectador que levavam a uma maior procura de bilhetes, e ao grande número de espectáculos que se realizavam e que chegaram a perto dos 300 por ano, com proliferação dos que se realizavam em praças portáteis/desmontáveis e que permitiram “democratizar” o acesso do público de localidades que não estavam tão perto dos grandes centros. E havia ganadarias da chamadas duras, daquelas que obrigam os toureiros a pensar antes de agir, a lidar, a dominar… Hoje???
Sempre houve corridas deficitárias em termos de público e financeiramente. Sempre. Mas havia outra visão, ofereciam-se mais e melhores espectáculos. E havia grandes centros onde não faltavam corridas de toiros. Não falando de muitos pequenos tauródromos cuja enunciação seria fastidiosa e que encerraram por não comportarem as actuais exigências regulamentares, desapareceram várias praças de toiros que eram autênticos faróis. De Norte para Sul, e com risco da alguma falha, Viana do Castelo, Póvoa de Varzim, Espinho, Cascais, Malveira, Setúbal, Albufeira (para só falar de praças de alvenaria). E o que se fez/faz para recuperar esse património? É um autêntico «deixa andar». E não se admirem de o povo deixar de ir aos toiros. E não é só porque não tenham muito dinheiro e tenham que optar entre ter comida na mesa ou dinheiro para o bilhete.
O espectáculo taurino tem que se tornar mais atractivo, ter maior competitividade entre artistas e modalidades, ter melhores condições para quem assiste (modernização das bancadas), melhores preços e menor duração. Sim, porque numa bancada de cimento, com os joelhos do vizinho de trás nas nossas costas e os nossos no vizinho da frente, durante mais de 3 horas e pagar 40 euros…. Ninguém aguente.
Mas passemos agora aos nossos números da temporada que iniciámos, como referido, em Mourão na festa das Candeias, e terminámos na Moita no festival da escola de toureio local. Foram menos de 30, 28 mais propriamente os espetáculos onde marcámos presença, alguns deles pela 1ª vez como a festa do forcado em Évora.
No que se refere a tipo de espectáculos, começarei por referir alguns daqueles que tiveram toureio a pé e que me fizeram emocionar. Se desprimor para os festivais de Mourão (fevereiro), Évora (Março) e Sobral de Monte Agraço (Abril), foram Vila Franca de Xira e Nazaré que marcaram pontos fortes quanto a esta modalidade. Em Vila Franca os novilheiros Tomás Bastos (Colete Encarnado e Outubro) a par de Marco Pérez (Outubro) protagonizaram momentos inolvidáveis, como na Nazaré o fez o matador Borja Jiménez e o novilheiro Tomás Bastos. Ou ainda em Santarém as actuações de Roca Rey (praça esgotada). Em todos estes espectáculos as lotações foram muito boas, fruto da qualidade e da promoção dos cartéis e do interesse que despertaram no grande público.
E é por aí que os senhores empresários devem começar a estruturar a próxima temporada, mais do que preocuparem-se em tentar ficar com mais esta ou aquela praça, não importa quanto possa custar a concessão.
Texto: António Lúcio