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BARREIRA DE SOMBRA

Desde 13.06.1987 ao serviço da Festa Brava

QUE FUTURO PARA A FESTA BRAVA DEPOIS DO COVID-19

10.04.20 | António Lúcio / Barreira de Sombra

M Grave.JPGEste tempo de confinamento e de isolamento social que o Governo nos impôs, são propícios à meditação e a pensarmos no nosso futuro enquanto pessoas, no do nosso País e, por consequência, no futuro da nossa Festa Brava.

Uma coisa me parece ser uma grande verdade: nada será como antes do aparecimento desta pandemia. Nem na forma como nos relacionaremos com os outros; na forma como a grave crise económica que se avizinha irá impactar no emprego e nos rendimentos; na forma como o trabalho será reorganizado; ou como viveremos as nossas paixões, tauromaquia incluída.

A nossa débil economia não resistirá muito tempo a este fechar de portas a que nos obrigaram e que se, por um lado, nos pretende alegadamente proteger do mal, por outro lado, nos poderá matar com a sua cura. As empresas não têm, no geral, disponibilidades de caixa que financeiramente as suportem sem receitas durante 3 longos meses; o desemprego ameaça milhares, poderão ser centenas de milhares, de portugueses. Reerguermo-nos vai ser muito mais difícil do que nunca (por questões estruturais) a não ser que o Governo e o Presidente da República não aligeirem um pouco estas medidas restritivas e permitam que a economia recomece a funcionar permitindo a abertura (condicionada) da maioria dos estabelecimentos e indústrias e a circulação de pessoas (ainda que condicionada).

Preocupam-me, claramente, as repercussões sérias que daí advirão Não questiono decisões clínicas porque não tenho formação na área e mesmo os que a têm não são unânimes. Mas posso questionar decisões políticas que não considero minimamente transparentes nas formas como são tomadas e comunicadas, não sendo devidamente esclarecedoras. Não concordo com Costa nem concordo para Marcelo e vejo com muita preocupação o meu País caminhar para o abismo.

Sem empregos não há dinheiro. Mesmo que venha do subsídio de desemprego, a Segurança Social não terá capacidade para em tempo útil, processar os pagamentos. Não vejo medidas políticas capazes de contrariar o que esta situação pode vir a causar no que a manutenção de rendimentos mínimos diga respeito.

Se eventualmente o estado de emergência não for levantado (ainda que com algumas restrições menos severas e que se compreendem para que não haja um novo surto) até ao final de Maio, com a limitação do número de pessoas em eventos públicos ao ar livre a manter-se por um período de 90 dias, significa isto que antes de Setembro não se realizarão corridas de toiros em lugar algum, com todas as consequências que são fáceis de adivinhar.

Restam-nos Setembro e Outubro e quiçá meia dúzia de corridas de toiros para esta temporada de 2020. Ganadeiros já enviam toiros para o matadouro sem os terem lidado porque economicamente já começam a avolumar prejuízos; os empresários fazem contas e têm alugueres para pagar sem dar espectáculos; toureiros sem conseguirem ganhar dinheiro para fazer face às enormes despesas que têm…

Qual será o futuro? Quantas corridas se poderão organizar ainda este ano? E em 2021 haverá capacidade financeira (dos empresários e dos espectadores) para manter uma temporada tradicional de 180/200 espectáculos?

Sejamos conscientes de que será necessário um grande esforço de reconstrução da economia do País e do nosso espectáculo para que possamos seguir em frente apesar das nuvens negras. Como católico tenho fé no amanhã, que seremos capazes de afastar essas nuvens e que consigamos uma união que, mais do que nunca, é essencial á sobrevivência da nossa tauromaquia.

Falé.JPGAntónio Lúcio, 10/04/2020