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BARREIRA DE SOMBRA

Desde 13.06.1987 ao serviço da Festa Brava

PELO CAMPO BRAVO: PATRIMÓNIO GENÉTICO ÚNICO

HERDADE DAS COVAS - GANADARIA FALÉ FILIPE

17.01.22 | António Lúcio / Barreira de Sombra

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A raça brava de lide constitui um património genético único que urge preservar. Os ganadeiros, utilizando zonas de fraca aptidão agrícola, aproveitando o montado de sobro e azinho, promovem a ecologia e a defesa da diversidade animal nos seus terrenos, permitida apenas e só pela presença dessa raça única e que permite imagens de rara beleza nesse seu espaço.

A garantia da sua continuidade está ameaçada pelos urbano-depressivos, por muitos dos que nunca viveram no mundo rural e dele tiraram o seu sustento, desde remotos tempos, dos nossos antepassados de há muitas gerações atrás. Ser ganadeiro de reses bravas de lide é. nos dias de hoje, uma autêntica loucura, pelas ameaças vindas do exterior, pelos preços elevadíssimos das rações, e pela evolução dos tempos (em muitos casos é mais regressão do que outra coisa) e falta de respeito pelos que defendem a terra e o toiro…

A evolução paga-se caro e, no caso da ganadaria que visitámos, a do nosso amigo Carlos Falé Filipe, a necessidade de construção de uma linha de comboio, não teve o mínimo respeito pela especificidade de aí pastar uma ganadaria brava, rasgando e esventrando a terra, dividindo a Herdade das Covas em duas e deixando já um impacto negativo no maneio das reses.

Em dois dos vastos cercados da herdade, está a garantia do futuro próximo da ganadaria e da raça. São os cercados onde pastam as vacas afilhadas, sempre atentas e protectoras, não nos deixando aproximar muito. A variedade de pelagens e de cornamentas é enorme e os pequenos bezerros que, esperamos, atinjam a idade de 4 ou 5 anos para os vermos lidar uma praça, trotam placidamente e olham-nos com curiosidade, nem se aproximando muito nem fugindo para longe. Estão alí os que um dia nos farão bater palmas numa praça…

Noutros cercados pastam erales e novilhos, alguns mais adiantados do que outros irmãos de camada, seja porque nasceram primeiro, seja porque comem mais que os outros. A variedade de pelagens, entre o negro, o negro mulato, os choreados, os burracos, os colorados fazem parecer uma pintura com os fundos verdes dos prados e as árvores em seu redor… Um espaço único onde se podem movimentar com facilidade com pouca intervenção humana mas agora demasiado próximo do local onde, daqui a uns tempos irão passar muitos, muitos comboios de enorme comprimento e onde o ruído que até agora não existia e passará a ser uma constante. É o custo do progresso…

A Herdade das Covas é relativamente abundante de água e os pastos têm qualidade, assim como existem muitos espaços bem resguardados nas inclemências das chuvas ou do sol. Local propício para o desenvolvimento em plenitude do toiro bravo de lide. Como pudemos apreciar, os toiros de “saca”, ou seja, os que estão prontos para serem lidados estão imponentes e nessas zonas mais resguardadas. São imponentes em trapio os de 4 e 5 anos como se pode comprovar pelas nossas fotos.

Mas como a preservação das espécies não se refere apenas ao toiro, na Herdade há um conjunto de árvores centenárias de onde se destaca uma magnífica sobreira de frondosa e enorme copa e com um diâmetro de tronco considerável.

O nosso obrigado ao ganadeiro Carlos Falé Filipe por este magnífico dia de campo para abrirmos a nossa 35ª temporada no activo.

Texto e fotos: António Lúcio