HOJE TOUREIO EU… NOTAS SOBRE A TEMPORADA 2023
Esta é, ou tem sido, para mim, uma temporada atípica pois não tenho estado presente em tantos espectáculos como era habitual, fruto de uma série de condicionantes e da minha condição física e de saúde, quase a cumprir-se um ano sobre a data em que sofri um enfarte de miocárdio que obrigou a intervenção cirúrgica e a uma demorada recuperação, como é de todos sabido. Boa desculpa dirão uns, confirmo eu.
Mas esta temporada tem tido momentos marcantes e que fazem dela, pelo menos nos espectáculo que já presenciei, cerca de 30, uma temporada de relevo, com algumas excelentes lotações, algumas praças esgotadas como há muito se não via, cartéis mais interessantes, competição mais acesa e público a entregar-se em muitos momentos ao que de excelente víamos os toureiros realizar na arena. É sem dúvida a temporada que pode marcar uma reviravolta no marasmo em que nos encontrávamos.
E a televisão voltou a transmitir corridas de toiros, apesar de ser um canal estrangeiro, o ONETORO, a fazê-lo, com pompa e circunstância, em dois dias seguidos e, mostrou-se claramente que o facto de as corridas serem transmitidas pela televisão em nada afectou a afluência de público à praça: os que viram pela televisão assistiram a dois grandes espectáculos e as transmissões foram de grande qualidade. Foi um grande escaparate para a lusitana tauromaquia e principalmente para os toureiros que nelas actuaram com destaque maior para Manuel Dias Gomes no primeiro dia e Miguel Moura no segundo.
É de extraordinária importância que esta dinâmica que se criou em Lisboa não venha a perder-se. Que os toureiros e seus apoderados percebam a transcendência dos momentos e o que pode catapultar a lusitana tauromaquia e seus artistas para patamares bem superiores. É preciso que haja um bom trabalho de bastidores para que as lusitanas televisões voltem a transmitir boas corridas de toiros e possamos ter mais espaço junto dos meios de comunicação generalistas como, aliás, estamos a ter com a publicação de crónicas no Correio da Manhã, no Diário de Notícias e no Novo Semanário, este onde me estreei nesta temporada. É a Festa Brava a voltar a ter espaço nos jornais de grande tiragem e em especial no digital.
O Campo Pequeno, apenas com 4 corridas e 2 delas logo em dias consecutivos, registou as suas melhores entradas de público desde a pandemia; Vila Franca esgotou no Colete Encarnado, a Moita na Feira de Maio, Santarém, Nazaré, Figueira da Foz e tantas outras encheram-se corrida a corrida de um público ávido de toiros, participativo, aplaudindo os toureiros.
Houve toiros de bandeira e destaco alguns dos toureados a pé, pela maior exigência a que são submetidos, outros lidados a cavalo, com honras de volta à arena e alguns até voltaram para o campo. Destaco um toiro de Murteira Grave lidado por João Moura Jr no Campo Pequeno, dois de Falé Filipe lidados por Juanito em Abiúl, um de Vinhas lidado nas Caldas da Rainha lidado por Luís Rouxinol Jr, outro de Jorge Carvalho lidado por Nuno Casquinha em Arruda dos Vinhos, o novilho de Calejo Pires lidado na Moita por Tomás Bastos, os curros de toiros de Paulo Caetano lidado em Vila Franca de Xira, o de Varela Crujo no Montijo e os de Charrua em Lisboa, entre outros de boa nota. Toiros com presença, com trapio, com boas condições de lide e que marcaram, claramente, o bom momento das ganadarias bravas portuguesas.
Nesta temporada, e em escalões completamente distintos, distinguem-se, claramente, Miguel Moura e Tomás Bastos. Um, o herdeiro do apelido, da dinastia Moura e que se afirmou de forma inequívoca como figura, como toureiro a seguir pelos aficionados tal a qualidade e seriedade do seu toureio. E o benjamim do toureio, o jovem Tomás Bastos, sobrinho-neto dessa grande figura que foi o maestro José Júlio, anda nas bocas do Mundo pelas qualidades inatas que mostra em cada tarde, em cada triunfo, em cada saída em ombros ainda como aspirante a novilheiro e que convenceu a afición presente na Moita que pode ser a estrela que Portugal precisava no toureio a pé.
Não deixam ninguém indiferente as sortes de gaiola e os ferros curtos de Francisco Palha como sucedeu com os graves em Lisboa; ou a arte, a sensibilidade e a souplesse do toureio caro e fino de Moura Caetano; o toureio electrizante de Marcos Bastinhas e uma actuação de Salgueiro da Costa no 1º de Maio no Cartaxo, entre tantas outras de boa nota e que levaram tanto público às praças como foi o caso da alternativa de António Telles filho num esgotado Campo Pequeno. Momentos que marcam a nossa 36ª temporada no activo, não esquecendo algumas grandes pegas de caras a que assistimos nos cerca de 30 espectáculos em que marcámos presença.
Voltarei a estes assuntos em breve.
António Lúcio, Sobral de Monte Agraço, 18 de Setembro de 2023