HOJE TOUREIO EU…
Hoje apetece-me escrever sobre algo que venho a pensar há já bastante tempo e que ganhou maior importância desde a data em que sofri o enfarte do miocárdio, tive de ser operado e parei a minha temporada taurina de 2022. Está quase a cumprir-se um ano sobre essa data e, na realidade, o tempo que estive parado fez-me reflectir sobre a velocidade vertiginosa a que acompanhava o fenómeno taurino há tantos anos e das cinco corridas em cinco dias consecutivos sem nunca faltar ao meu trabalho, dormindo pouco e correndo muito.
Pois bem, esse tempo acabou no mesmo dia em que fui parar ao Hospital e em que vi a morte bem perto.
Felizmente dei a volta, fiquei cá para contar mas também percebi que era tempo de parar… não o consegui completamente mas diminui drasticamente o número de espectáculos a que assisti e não descarto a possibilidade de uma retirada por tempo indeterminado, porque em definitivo só existe a morte.
Vivi nestes 36 anos ligado à crítica tauromáquica momentos únicos e inolvidáveis, sensações estranhas e envolventes; momentos de verdadeira paixão. Escrevi textos e fiz programas de que me orgulho. Muito mesmo.
Criei e estreitei amizades; sinto o respeito de aficionados e profissionais do toureio. Sinto-me acarinhado por muita gente boas. Vivi momentos grandes de grandes figuras, nacionais e internacionais. Grandes palcos de Portugal e de Espanha.
Vivi intensamente as primeiras edições da Feira Mundial do Toiro na FIBES em Sevilha e as nossas Feiras do Toiro em Santarém. Fiz televisão e escrevi no jornal que actualmente é o de maior tiragem nacional, o Correio da Manhã. Participei em 2 congressos nacionais de tauromaquia e na organização de um dos congressos mundiais das vilas e das cidades taurinas. Partilhei momentos que muitos gostariam de ter vivido e partilhado.
Fui e sou um privilegiado por estar ligado a uma actividade em que o sentimento, a paixão, a arte, e a tragédia, convivem de mãos dadas e nos permitem emoções tão sublimes. Aprendo todos os dias com aqueles que querem comigo partilhar os seus conhecimentos. E sou-lhes grato. Como sou grato aos meus pais, que descansam no céu junto ao Criador, por me terem feito aficionado.
Um dia destes retirar-me-ei, por tempo indeterminado. Não sei quando, sei apenas que já esteve mais longe.
António Lúcio
Sobral de Monte Agraço, 11 de setembro de 2023
Foto: Fernando Clemente