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BARREIRA DE SOMBRA

Desde 13.06.1987 ao serviço da Festa Brava

HÁ QUE MUDAR COMPORTAMENTOS… EM PRAÇA E FORA DELA

21.09.19 | António Lúcio / Barreira de Sombra

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Muito se fala sempre que um acidente acontece numa praça de toiros. Quase sempre nada se faz depois que possa vir a ser um exemplo, uma medida correctiva para que se tentem evitar situações idênticas pois nas corridas de toiros/espectáculos tauromáquicos, o comportamento do toiro não é controlável… para bem e continuidade da festa brava.

 

Agora que aconteceu o acidente com o Fernando Clemente, com certa gravidade, muitos se questionam sobre quem deve ou pode estar na trincheira seja nos burladeros seja noutro local porque não existem burladeros. Como se nunca estes acidentes tivessem acontecido. Só quem não vai a corridas de toiros.

 

Da mesma forma o socorro que pode e deve ser prestado a quem assiste a uma corrida na bancada ou aos intervenientes e outros que se encontram nas trincheiras, burladeros, etc. Fala-se muito quando acontece um acidente grave mas, depois… Fica tudo em águas de bacalhau.

 

Comecemos por uma questão principal que é a das movimentações nas trincheiras. Com os fotógrafos e outros representantes da comunicação social arrumados dentro dos burladeros – nas praças que os têm e permitem que, de dentro se consiga trabalhar – assistimos, muitas vezes a que toureiros e apoderados (e não só), se assomam ao balcão, como se estivessem na cervejaria da esquina, debruçados na trincheira. Comportamento reprovável mas que não tem consequências… A mudar urgentemente!

 

Outra das situações, e que tem a ver com os movimentos na trincheira, é a dos forcados. Assim que se coloca o segundo curto e o cabo começa a seleccionar os 8 que irão pegar a rês, andam de um lado para o outro, batem com os braços e os peitos na trincheira e começam logo a dirigir-se para o local onde saltarão à arena. Será que não podem aguardar que o cavaleiro saia da arena e depois iram para o local? Será necessária tanta agitação como se estivessem no ginásio a aquecer os músculos? A mudar urgentemente! E os os fotógrafos e outros representantes da comunicação social continuam arrumados dentro dos burladeros, onde os há!...

 

Acidentes na arena e nas bancadas. Nestas, os bombeiros são quase sempre os primeiros solicitados e a chegar para os primeiros socorros. Na arena, há praças onde os bombeiros vão à arena e outras que não. Mas a questão principal é ter uma equipa médica em condições, com equipamento que permita prestar esses primeiros socorros, numa enfermaria que esteja minimamente apetrechada tendo em conta o tipo de espectáculos e de lesões mais correntes. Já vi de tudo ao longo destes anos. Evacuar rapidamente um artista lesionado para o hospital mais próximo, acompanhado pelo INEM após avaliação do médico local, pode ser a melhor situação. Mas já era tempo de termos nas nossas praças equipas médicas como, por exemplo a do Dr. António Peças ou do Dr. Luís Ramos, com uma enfermaria móvel como acontece em Espanha.

 

Custa bastante dinheiro? Talvez. Mas nada que se compare ao custo de uma vida humana, num espectáculo com custos que podem ser superiores à centena de milhar de euros. Às empresas tem de ser exigido mais rigor neste tipo de serviço, de segurança para todos. A mudar urgentemente!

 

À IGAC enquanto entidade que superintende o espectáculo, muito mais do que estar preocupada em contra-ordenações e coimas porque os fotógrafos correm dentro da trincheira para sacar a melhor foto, deveriam preocupar-se em exigir burladeros em condições, de cimento, com espaço para que quem neles se encontre se possa sentar e ter apoio para os pés e que garantam que se um toiro saltar as pessoas estão protegidas; exigir que esses burladeros, numerados, identifiquem claramente a quem se destinam; exigir que as equipas médicas lhe sejam comunicadas com antecedência e os seus Curriculuns Vitae; que essas equipas médicas cheguem munidas dos equipamentos exigidos; ou que existam as tais enfermarias móveis com capacidade para RX e pequenas cirurgias; que as actualmente chamadas de enfermarias não sejam apenas um pequeno espaço para uma maca, primeira observação e despacho dos feridos para um hospital que pode estar a 20 minutos ou a mais de de 1 hora de distância. A mudar urgentemente!

 

Às empresas: a trincheira não pode ser uma passerelle para uns quantos se mostrarem ainda que, como empresários, lhes devam favores olhes tenham trazido patrocínios; há que reduzir drasticamente a quantidade de pessoas que nada têm a ver com o espectáculo. Os representantes da Comunicação Social são o menor número de pessoas por classe nesse lugar. Disciplinar os que estão nesse espaço a respeitá-lo também não deverá ser difícil. Os aficionados agradecem. E no capítulo dos cuidados de saúde, contratar profissionais de qualidade reconhecida e enfermarias devidamente apetrechadas. A mudar urgentemente!

 

Enquanto aficionado e por vezes presença na trincheira, mesmo dentro de um burladero, não me sinto minimamente seguro em muitas das praças que frequento, se um dia tiver o azar de um acidente que tanto pode ser uma queda numa bancada ou atingido por um toiro que salta a trincheira.

 

Temos que mudar comportamentos e atitudes. A segurança é uma exigência e tal como a vida, não tem preço!

Texto: António Lúcio

Foto: Nuno Almeida