Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

BARREIRA DE SOMBRA

Desde 13.06.1987 ao serviço da Festa Brava

Estarreja 27 de Abril de 2014 - Casa cheia, muita aficion... agradável promoção.

28.04.14 | António Lúcio / Barreira de Sombra

 

Estarreja está para o tecido industrial do Norte, como o Barreiro esteve em tempos passados, com as suas industrias de petroquímica, similares e correlativas, para o Sul e arredores. E, se na química, com petro ou não, bem como outras matérias e materiais, é no trabalhar dos elementos que saem das bancas dos laboratórios que se consumam os resultados finais, em Estarreja, cidade localizada no Distrito de Aveiro, na margem direita do Rio Antuã, onde laboram um enorme numero de unidades fabris, produtoras de riqueza e geradoras de actividades promotoras de trabalho, a ousadia da realização de um espectáculo com tradição e cultura como o é a corrida de toiros, também é pôr em prática, o que o fervilhar de aficion transporta na maneira de sentir de quem o organiza. São realidades diferentes? Talvez, mas nem por isso exemplificativas de como também só assim, realizando, levando à prática, é possível tirar conclusões. E a conclusão desta não fácil contabilização, é que desde 2002, data da realização, por aquelas bandas, de um espectáculo tauromáquico, não estava actualizado o saldo, e por isso, não era considerada a grandeza da aficion de Estarreja. Daí que a corrida hoje, domingo, dia 27 de Abril de 2014, organizada pela Associação Desportiva de Santiais, que por via deste espectáculo, procura meios financeiros para suportar as actividades que desenvolve, além de um êxito empresarial que resultou da casa cheia, foi também êxito cultural. Um modo não só arrecadar meios para a Associação organizadora, mas também um modo de mostrar que existe mesmo muita aficion a Norte. Gente que para além de gostar muito de cavalos, a fazer fé no número de coudelarias e criadores que por ali vimos anunciados, os estarrejenses, são gentes interessadas e conhecedoras da lide de toiros a cavalo, que gostam, e com que se divertem.

 

Para este êxito empresarial fosse possível na praça desmontável de Estarreja, esteve a contribuição dos artistas que compunham o cartel, os toiros da Herdade de Camarate, o público que aguentou cerca de três horas e meio, e a sensatez da direcção da corrida, que soube entender onde estava, o que ali se passava.

 

Mas vamos aos detalhes técnicos.

 

Repartidos no peso e no comportamento, os toiros da Herdade de Camarate, passaram e deixaram  que seja de boa nota o seu desempenho, proporcionando assim, igual nota aos cavaleiros e aos forcados.

 

Joaquim Bastinhas, que continua a não saber deixar de ser profissional, conhecedor e simpático, abriu praça numa lide em crescendo. O toiro da Herdade de Camarate, um dos que ultrapassava os prometidos 500 kgs, foi recebido com três compridos, colocados ao estribo, com acerto e a deixar sinal de quem comandava a lide. Seguiram-se igual número de curtos, também em 'su sitiu', a que se seguiu um de palmo, rematando a lide com o famoso par a 'pedido', colocado por dentro, em terrenos muito apertados. Pegou, à segunda, aguentando uma 'barbaridade', Rui Pargana, dos Amadores da Moita.

 

Bastinhas, que lidou com a alegria, simpatia e saber que se lhe reconhecem, mas que nunca é de mais destacar e salientar, galvanizou o 'respeitável'. Respeitável que entendeu o esforço feito para tirar 'sumo' na lide do seu segundo, um Camarate com menos peso, e que se apagou ao segundo ferro. Mas, o toiro põem, e o profissional, dispõem. E Joaquim Bastinhas, não estava disposto a defraudar. Com entrega, muito labor e temeridade q.b., colocou três curtos, um de palmo, e rematou com um par, em terrenos de muito compromisso, e lindo de ver. Pegou à primeira, numa pega conforme, Fernando Grilo, dos Amadores da Moita.

 

A Batista Duarte, segundo cavaleiro em praça, teve no saldo das duas lides, nota razoável. Não sendo novo em idade, Batista Duarte, denotou preocupação em querer fazer tudo bem, mas por vezes muito apressado. Deixou ferragem de mérito técnico comprometido, que no conjunto das duas lides, acabou ser a parte menos que realça melhor a nota boa final, onde não pode deixar de ficar como registo, o 'violino' por dentro, no remate da lide do seu primeiro, os dois compridos a abrir a lide do seu segundo. Pegaram, o primeiro, João Eusébio, à primeira, com garra e bem ajudado, e à quarta, depois de muito porfiar, em curto e a sesgo, com o grupo a carregar, José Freire, ambos dos Amadores de Coimbra, num toiro que empurrava em alto e não queria ser incomodado.

 

A José Carlos Portugal, 'alma mater' da realização desta corrida, cavaleiro com grande grupo de apoiantes e amigos na área, não foi ainda desta vez que coube em sorte uma actuação em redondo, que procura e merece. Chegando com entusiasmo às bancadas, desenvolveu uma lide com muitos acertos, mas também com desacertos, evitáveis. Sempre com preocupação em querer fazer tudo certo, estar atento a tudo na lide decorre, para além do necessário, acaba por sofrer 'desacertos' na preparação e colocação da ferragem, algo que desfeia e tira brilho. Cumpriu. E cumpriu com entusiasmo, que o público soube sempre aplaudir e agradecer. Pegou o seu primeiro, à primeira, Fábio Silva, dos Amadores de Moita, e o segundo, o último da tarde, Marco Santos, dos Amadores da Moita, numa pega onde participaram também elementos dos Amadores de Coimbra.

 

Mas era também a tarde da 'primeira vez' da cavaleira amadora, Soraia Costa.

A Soraia Costa, que lidou o quarto da tarde, um 'novilho' de três anos, mostrou saber montar, querer agradar, estar com o público. Nervosa, esta foi a 'sua tarde', correndo e cravando, num afã próprio de quem quer mostrar tudo, de uma vez. Simpática e sorridente, com temperança, muito treino e mais oportunidades, pode ser a 'cavaleira do Norte', assim tenha sorte. Acarinhada pelo público, cumpriu, e soube ser agradecida, ao pedir que a ganadera repartisse consigo a volta a praça que o público reclamava. Pegou, também pela primeira vez, e á primeira, Pedro Silva, numa pega sem reparos, dos Amadores de Coimbra.

 

Uma última nota, para destacar a simplicidade de um grande senhor, Joaquim Bastinhas, que em dois gestos, demonstrou de que classe se fazem os melhores. Fez questão de chamar à praça, no seu segundo, para um efusivo brinde, a 'menina' que ali toureava pela primeira vez. Depois, ao iniciar a volta, merecida e reclamada pelo público, enquanto aguardava que o forcado saísse à praça, reparando que o barrete do mesmo estava ali ainda no meio do barro da arena, foi apanhá-lo e fez questão de ser ele a entregar-lhe. Gestos que ficaram também a marcar mais esta tarde de toiros em Estarreja, numa corrida que foi dirigida pelo Senhor Francisco Calado, representando a IGACulturais, que foi assessorado pelo Senhor dr. João Maria.

 

            PS: - Sobre os cerca de trinta 'amigos dos animais' que com diligência ali fizeram questão de dizer que estão vivos, o relevo vai para a novidade de agora também trazerem para este 'trabalho', os filhos menores.

Se foi só para melhor assinalarem o seu 'amor aos animais', está dito! Nem as criancinhas, Meu Deus escapam à 'tortura'.

 

Crónica de José Andrade