Barreira de Sombra - Temporada de 2016 - 10ª. Crónica – 29/Junho/2016
Não será vitupério da minha parte, neste espaço, vir tecer uma opinião sobre o retorno financeiro, que advêm, ou pode advir, de realização de corridas de toiros. Quando se fala tanto em retorno, elevando a economia a deusa soberana de tudo, a que não escapa, naturalmente, o mundo dos toiros, quer na vertente empresarial da realização de corridas de toiros, quer no âmbito geral da actividade, no seu todo, mais que um mero interesse ocasional, é compreensível, quem acompanha a Festa, que tenha interesse no seu todo. Daí ser grato poder tomar conhecimento, ou poder registar o público conhecimento, de quanto se investiu, e quanto desse investimento teve retorno, coisa que aqui pelo nosso muito português mundillo, é atitude rara e, diria, sacrilégio. O segredo, atitude cultivada pelos organizadores, os empresários tauromáquicos, mas também, pelos responsáveis autárquicos e agentes económicos locais, parece assim ser coisa fora do tempo, coisa que já não se usa numa economia moderna. Esta atitude dos empresários nacionais - já sabemos que o ar de Lisboa é perigoso para a boa saúde mental – é portanto incompreensível, e indefensável, pelo que as excepções, se é que as há, só confirmam a regra. Dúvidas? Só mesmo para quem não conhece o meio politico e empresarial, e do país, ou nos contactos, não vai além dos chico-espertos. E a esperteza, ou melhor, a inteligência, manda olhar o que se vai passando no mundo. É que a aldeia global, apesar de tudo, continua cada vez mais aldeia e saloia, mas é uma parolice mais polida. Daí não estranhar que cá, ou por cá, pelo mundillo português, o segredo do negócio, é cultivado com carinho, coisa muito diferente daquela que os nossos vizinhos espanhóis, talvez mais abertos, inovadores e dinâmicos, praticam. Assim, sobre o retorno que provém dos eventos onde a Festa dos Toiros é o aspecto central, em Espanha, que me recorde, só até esta altura da temporada, em estudos, ensaios, e outras formas de sério rigor comprovável, são vários os trabalhos que por terras de D. Quixote já foram publicados e apresentados, o último dos quais, importante e interessante, sobre a Feira de Hogueras, que decorreu este fim de semana em Alicante. A divulgação pela A.N.O.E.T. (Associação Nacional de Organizadores de Espectáculos Taurinos) que a Feira de Hogueras deve ter tido um impacto económico de mais de (oito milhões de euros) - 8.325.000 euros só na cidade de Alicante, é um acto e exercicio que merece registo e atenção. - Só nos sectores turísticos, hoteleiros e de transporte, os milhares de aficionados que se deslocaram a Alicante, devem ter gerado um impacto económico de 4.450.000 euros.
Mas isto é lá, em Espanha. Cá, por cá, os únicos números, falaciosos, deturpados, que são apresentados como sendo os dados da verdade, são aqueles que os anti-taurinos, não se cansam de propagandear, e que o silêncio de quem tem interesse e responsabilidade no meio, faz parecer verdade. Uma mentira dita muitas vezes, até acaba por se tornar verdade, dizem, e eles, os anti-taurinos, que são poucos, insignificantes, mas sabem usar a mentira e a repetição, para fazerem valer como verdade os seus fins.
Das duas tardes que o Canal Toiros transmitiu, o meu destaque volta a ser para a entrega de todos os intervenientes, com muitas orelhas. Depois a colhida muito feia e grave de Manuel Escribano, e também o bom jogo que deram a quase totalidade dos toiros lidados, isto apesar de ser uma praça de terceira categoria. Isto é, sem a obrigação de apresentar toiros ‘especiais’, que têm por imposição legal de receberem duas varas. Uma praça e uma aficion que parece que vai aos toiros para se divertir, para ser emocionada, e deixar que a empolguem com arte, e entrega. E a Feira de Hogueras em Alicante, foi uma fogueira que aqueceu a Festa.
Do Norte, com um abraço
José Andrade