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BARREIRA DE SOMBRA

Desde 13.06.1987 ao serviço da Festa Brava

BARREIRA DE SOMBRA - TEMPORADA 2015 - 3.ª - EMISSÃO 25/MARÇO/2015

25.03.15 | António Lúcio / Barreira de Sombra

Também fui, sou, dos que se indignaram contra o que foi escrito a propósito da reaparição de Vicente Ruiz, 'el Soro', na Feira de Valência. - Cá, sabemos ser mais respeitadores, quer gostemos ou não, quando alguém arrisca a vida, têm valor, superando-se, superando a adversidade, sabemos respeitar. E 'el Soro', tem uma carreira de valor, de superação, de arriscar perante muitas adversidades. Ao reaparecer, toureando naturalmente, em Valência, merece, devia ter merecido, um mais respeitável acolhimento. Escolheu a Feira de Valência, a mesma Feira onde em tempo, há já alguns anos, o nosso Vítor Mendes, triunfou e deixou marca. Uma marca de pondunor, de arte e valentia, que ainda hoje é indelével e incontornável no escalajon do toureio espanhol. Mas se Vítor Mendes é agora aqui recordado, foi-o também por aqueles que entenderam e aplaudiram, souberam compreender, o gesto de regresso ás arenas, e concretamente à Feira de Valência, de Vicente Ruiz, de 'el Soro'. - E, quando lidar toiros, esse gostar de enfrentar um toiro, superando os medos, ultrapassando as adversidades, esse saltar do muro, no natural amor à vida, são complementados, envolvidos em gestos de valentia, coragem, os empurrões da vida,   ficam registados como referência nas memórias da historia de cada um, na história da Festa Brava, e daqueles que ficam como marco na história da Festa dos Toiros, da Fiesta. E como a Festa dos Toiros é rica em estórias incontáveis de grandes paixões, dramas e superação, inumanas, o que sucedeu com 'el Soro', na vida vivida de Vicente Ruiz, já é história. A sua reaparição nas arenas, em Valência, foi verdadeiramente emotiva. Foi um despertar de paixões. Um alvoroço não só pela reaparição, após vários anos sem tourear, como também pela ousadia de arriscar em fazê-lo numa Feira, e na sua terra, numa praça onde nos anos 80, integrante do célebre trio de matadores-bandarilheiros com Luís Francisco "Esplá" e o português Vítor Mendes, "El Soro" demonstrou estar de novo em forma.

Em forma física e emocional. Apesar do percalço que sofreu, a ousadia, o que incomodou alguns, foi o não se privar de brilhar no tércio de bandarilhas tanto tempo depois de um afastamento que esses mesmos gostavam fosse para sempre. O que esses críticos queriam, o que a esses críticos custava admitir, era que, à ousadia da reaparição, ainda tivessem de testemunhar um regresso com valor, coragem e saber. Custava, mas manda a verdade que se ateste que, naquela tarde em Valência, era 'el Soro', que ali estava. Ali, na sua Valência, que tinha voltado. Voltou e cortou uma orelha no primeiro toiro, e deu duas aplaudidas voltas à arena no segundo.

'el Soro' ali estava, e muito bem acompanhado. Alternou com Enrique Ponce, que festejava ontem naquela praça o 25º aniversário da sua alternativa. Obteve uma orelha no primeiro toiro e foi ovacionado no segundo. E tinha outro regressado, José Mari Manzanares, como testemunha.

Como em tudo na vida, os grandes gestos, neste caso no mundo da tauromaquia, quer enfrentando um toiro de haste limpa, quer aparado ou embolado, por serem atitudes contra a corrente, muitas vezes insanos, resultam quase sempre em grandes tormentas de sentimentos, que vão do aplauso à insulto, para aqueles que, o fugir 'à cêpa torta', soa como afronta, inveja. E a reaparição de Vicente Ruiz, 'el Soro', na sua Valência, na sua feira taurina, nas suas Fallas, foi para alguns desses comuns mortais, um insulto à sua cobardia. Daí a amplitude nas criticas. Onde a grande maioria, vê valentia, para outros, uns quantos, tais gestos, não são mais que uma forma de alguém se mostrar, de estar em bicos de pés.

Foi a diversidade da natureza humana, no seu pior estado de exaltação. Exaltação, onde o egoísmo e inveja se confundiram, confundindo a mesma diversidade que diferencia o Homem Bom, do Bom Homem.

Seja bem vindo Vicente Ruiz.

Seja bem vindo 'el Soro', e que sejam questionados aqueles que se opuseram a que na próxima Feira de Madrid, na Isidrada, uns quantos jovens novilheiros pudessem tomar alternativa. Um tema a que por certo aqui voltaremos, porque se gostamos de aplaudir, também sabemos patear. Patear e denunciar.

E denunciar, quando está em causa 'cortar as pernas' a gente que tantos sacrifícios faz, impedidos, derrubados, não na arena, sem dignidade, mas nos gabinetes, contem comigo.

Do Norte, com um abraço

José Andrade