AMADORISMO E PROFISSIONALISMO NA COMUNICAÇÃO SOCIAL TAUROMÁQUICA
Esta foi uma das questões abordadas durante o colóquio que teve lugar na passada sexta-feira no Grupo Tauromáquico Sector 1, em Lisboa. E a conclusão, óbvia, é a de que existem muitas pessoas que colaboram com um ou mais órgãos de comunicação social o fazem de forma perfeitamente amadora, sem cobrarem pelo seu trabalho. Tanto aqui em Portugal como em Espanha (como referiu Álvaro Acevedo). E não é mentira nenhuma até porque não estávamos em 1º de abril…
Ser profissional de uma determinada área, implica que se viva, se dependa economicamente, do trabalho desenvolvido nessa mesma área. E a tauromaquia não é diferente de todas as outras áreas. Quem não obtém resultados financeiros dessa área, e vive exclusiva ou maioritariamente dessa área, nunca será profissional, por muito que os seus trabalhos de índole jornalística o possam dar a entender. E foi isso, também, que ficou claramente demonstrado nesse colóquio, pois à excepção de Álvaro Acevedo e de Miguel Alvarenga, não me parece que João Queiroz tenha da revista Novo Burladero a sua principal fonte de receita ou que o José Cáceres sobreviva da festa brava, enquanto eu próprio sou funcionário de uma seguradora há mais de 20 anos.
Outra questão tem a ver com a abordagem jornalística que se possa fazer da temática taurina seja nos sites e blogues, nos jornais e revistas, na rádio ou na televisão. E aí também, como se diz na gíria, «a porca torce o rabo». Porque, jornalistas de carteira profissional, devem ser 3 ou 4 no máximo os que ainda escrevem e falam sobre toiros… Por muito que outros queiram também passar por tal. E, se calhar, nem todos têm as quotas em dia… A postura, o respeito pelas normas deontológicas da profissão de jornalista, que alguns gostam de apregoar quando lhes dá jeito, obrigam a uma série de deveres que são incompatíveis com algumas posturas e alguns “trabalhitos” que se fazem durante o ano.
Depois existem situações, que também foram relatadas, como as das publicidades de toureiros e de empresas. É um ciclo vicioso pois a esmagadora maioria aposta em publicidade apenas em casos especiais e se os órgãos de comunicação onde investem esse seu precioso dinheiro “não chatear muito” – e a expressão é minha – nas crónicas e se até der algum destaque com entrevistas e outros eteceteras. Por isso se falou muito de que quem quer seguir um caminho independente – não depender das publicidades dos toureiros e das empresas – tem sempre um preço a pagar.
Neste âmbito, o espanhol Álvaro Acevedo foi muito mais longe ao afirmar que a publicidade em Espanha e nas revistas e portais taurinos funcionava quase como uma «extorsão» em duplo sentido: dos responsáveis do órgão de comunicação que pressionam artistas dando a entender que se não anunciarem as críticas menos positivas saem com destaque e dos toureiros para garantirem que não existem críticas depreciativas. Claro que falamos de um mercado enorme e que movimenta muitas dezenas de milhar de euros, ao contrário de Portugal onde se contam tostões.
E há que entender, em definitivo, que em todos os períodos da história da tauromaquia em que em Portugal não houve uma ou várias figuras que enchessem as praças de toiros, as questões sempre se colocaram desta forma. Existiam antigamente mais profissionais do jornalismo que se dedicavam à crítica tauromáquica, fruto da proliferação dessa informação na generalidade dos jornais e revistas. Não havia televisão, a rádio não era de ampla cobertura nacional mesmo em onda média, e as notícias viajavam á velocidade do telégrafo… Mas não eram profissionais só da comunicação social tauromáquica. Na generalidade, tal como hoje, eram aficionados que escreviam e falavam de algo de que gostavam e conheciam imenso, alguns deles sendo mesmo aficionados práticos.
E o grande problema que existe hoje em dia, com a proliferação dos sítios na internet, é que todo e qualquer indivíduo coloca umas linhas de texto muitas vezes mal escrito, com má técnica de português, ou algumas fotos que nem sempre ajudam, e que demonstram fraquíssimo conhecimento da história da tauromaquia, da sua técnica, do toiro de lide, etc, etc.
A Festa Brava em Portugal, nos dias de hoje, é o resultado de anos e anos de falta de exigência em todos os campos. E apenas os melhores sobreviveram, porque se souberam adaptar ás realidades de cada momento, porque mantiveram a sua postura de independência e rigor na análise dos fenómenos. Porque ganharam o respeito da generalidade dos artistas, das empresas, dos ganadeiros, mas e acima de tudo, do grande público que os lê e escuta. Porque souberam ouvir, tentaram decifrar, e conseguiram lograr interpretar a arte do toureio, contando com honestidade e isenção aquilo que viram e sentiram em cada corrida de toiros. Quanto ao resto, estamos conversados!!!