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BARREIRA DE SOMBRA

Desde 13.06.1987 ao serviço da Festa Brava

BARREIRA DE SOMBRA

Desde 13.06.1987 ao serviço da Festa Brava

33ª TEMPORADA: ATÍPICA EM ANO MARCADO PELA PANDEMIA DE COVID-19

12.10.20 | António Lúcio / Barreira de Sombra

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Dei por terminada a minha 33ª temporada enquanto crítico tauromáquico na passada segunda-feira, feriado nacional do 5 de Outubro, com uma corrida de toiros na “Palha Blanco” em Vila Franca de Xira. Uma temporada em que nada aconteceu dentro daquilo que gostaria tivesse acontecido e tudo por causa de um vírus que gerou uma guerra mundial sem que se tivesse disparado um único tiro e que tem criado miséria económica e sanitária por todo o Mundo. Cheguei a pensar que, com tudo o que o nosso Governo e seus apoiantes anti-taurinos têm feito contra a tauromaquia (e, diga-se, quase com nula contestação dos diversos sectores taurinos), não iríamos ter toiros neste ano.

Todas as restrições que foram impostas, algumas delas sem qualquer sentido, conduziram ao encerramento de grande parte da nossa economia e daquela a que respeita o espectáculo com todas as nefastas consequências que se conhecem mas não transparecem para a opinião pública devido a uma comunicação social manietada e subjugada pelo poder político e a favor do que acham de politicamente correcto.

Ouvi há dias alguém dizer no Canal Toros que “os toiros não se defendem, ensinam-se”. E é cada vez mais verdade que era ou é esse o caminho que teremos de percorrer, mostrando a grandeza ecológica das herdades onde pastam as ganadarias de bravo, a sua enorme diversidade de fauna e flora e o tratamento cuidado das reses desde que nascem até que, um dia, cumprirão o seu destino final: a lide numa praça de toiros. Mas esse destino final, por força das suas enormes qualidades durante a lide e a sensibilidade dos aficionados, toureiro e ganadeiro, pode ter um prémio especial: o do indulto, o do regresso à terra que o viu nascer e onde poderá transmitir as suas características genéticas para os futuros toiros.

Pois bem, houve quem deitasse mãos à obra e conseguisse devolver os toiros aos aficionados nesta temporada tão atípica, inclusive fazendo com que houvesse uma mini-temporada nesse ex-libris mundial da tauromaquia que é a Praça de Toiros Monumental do Campo Pequeno em Lisboa. Esse empresário foi Luís Miguel Pombeiro e, honra lhe seja feita, deu o verdadeiro murro na mesa que era necessário perante o impasse que se avizinhava. Depois deles houve um conjunto de empresas que foram montando espectáculos, ainda com inúmeras restrições (especialmente no que a lotação diz respeito) e chegamos ao início de Outubro com uns cerca de 40 espectáculos no total, o que, e face ás circunstâncias, foi excelente pois de 13 de Março a 10 de Julho, não houve um único espectáculo.

E não havendo espectáculos, todos perdem. Os ganadeiros mandaram imensos toiros para o matadouro sem os lidar e recebendo menos de 1/5 do valor de cada uma das reses numa corrida. Os artistas ficaram em casa com todas as despesas de alimentação de animais, cuidados veterinários, etc… E tendo de continuar a pagar aos seus empregados, os seguros obrigatórios e tudo o mais e sem receber nenhum apoio estatal como aconteceu em muitas empresas, como é do conhecimento geral. A tauromaquia voltou a ser o parente pobre do Governo e do seu Ministério da (in)cultura.

Financeiramente não terá sido recompensador para empresários, toureiros e ganadeiros, apesar de muitos espectáculos terem esgotado a lotação máxima permitida. Mas se os empresários montaram os espectáculos, todos tiveram de colaborar em termos de cachet e até houve novidades absolutas como as transmissões em streaming através da Ticketline.

Como disse tinha expectativas para esta temporada que se não se cumpriram não foi por falta de entrega dos toureiros, pela qualidade de alguns toiros e por algumas belas pegas de caras que vi consumar nos 21 espectáculos a que assisti, assim como também voltei a marcar presença em Olivenza naquela que foi a 30ª feira taurina. Queria ter ido a muitos mais locais do que aqueles a que fui mas esta história (ainda muito mal contada) da pandemia não permitiu.

E porque falamos da pandemia, houve muitas regras impostas para que os espectáculos se pudessem realizar, algumas perfeitamente aceitáveis como o uso de máscaras, a higienização com álcool gel, a separação das pessoas nas bancadas… Mas, depois, algumas outras sem sentido e que se viu á distância que não foram criadas por alguém que assista a espectáculos, ou então… Saída por filas e sectores dos números mais baixos para os mais altos; não existência de serviço de bar, mas permitiu-se venda ambulante de bebidas (alcoólicas incluídas) na bancada; forcados na rua enquanto os outros pegavam, sendo que estes eram os únicos intervenientes na festa a fazer testes de Covid antes de cada actuação; toureiros e apoderados nas bancadas nas lides dos seus alternantes…Enfim.

Um dos aspectos positivos destas regras foi a diminuição significativa da duração dos espectáculos: cortesias encurtadas, ausência de voltas à arena, supressão do intervalo. Mas como sempre, alguns directores de corrida permitiram que os tempos mortos, em especial nas corridas e novilhadas com toureio a pé, se prolongassem sem qualquer justificação (alisamento da arena foi um deles). Vamos a ver como será em 2021 se a Covid o permitir!...

Assim, em 2020, e com todas as condicionantes, estive nas praças de toiros de:

  • Campo Pequeno (7 espectáculos)
  • Vila Franca de Xira (4)
  • Moita do Ribatejo (2)
  • Almeirim (1)
  • Azambuja (1)
  • Caldas da Rainha (1)
  • Estremoz (1)
  • Nazaré (1)
  • Olivenza (1)
  • Santarém (1)
  • Vila Nova da Barquinha (1)

Quanto ao tipo de espectáculos presenciados, ficaram distribuídos da seguinte forma:

  • Corridas à Portuguesa (12 – 57.14%)
  • Corridas Mistas (4 – 19.05%)
  • Só matadores (2 – 9.52)
  • Novilhadas (2 – 9.52%)
  • Festivais (1 -4.76%)

E em termos de média de espectadores, calculada com base nas restrições impostas pela DGS, fixou-se em 2212, o que é bastante bom em termos gerais.

No que se refere a empresas/entidades promotoras, elas foram:

  • Ovação e Palmas (8)
  • Tauroleve (6)
  • Paulo Pessoa de Carvalho (1)
  • Santa Casa Miserc. Almeirim (1)
  • Praça Maior (1)
  • Costume Genuíno (1)
  • SRUCP (1)
  • Confraria N. Srª. Nazaré (1)
  • Ruedo de Olivenza (1)

Quanto às empresas/entidades promotoras é justo destacar o papel da Ovação e Palmas, de Luís Miguel Pombeiro, o primeiro entre muitos a passar das palavras à acção e a debloquear os caminhos para que se desse início aos espectáculos em Julho e por ter tido a ousadia de organizar os espectáculos do Campo Pequeno. É, para mim, o grande triunfador desta tão diferente temporada. Depois, a Tauroleve. Pela ousadia de duas feiras taurinas com vários espectáculos em dias consecutivos e pela forte aposta na juventude e no toureio a pé. De parabéns pelos resultados. Ainda a empresa de Paulo Pessoa de Carvalho por ter levado por diante o tradicional espectáculo de 15 de Agosto em Caldas da Rainha e a Costume Genuíno de José Gonçalves por ter sido a primeira empresa a apostar numa transmissão em live streaming, utilizando as novas tecnologias. Finalmente, a Praça Maior pelo êxito de Santarém com 5750 lugares vendidos e preenchidos cumprindo todas as regras da DGS.

Texto: António Lúcio

Foto: Fernando Clemente