DAR VOLTAS “PENDURADO” EM...
Quando leio algumas das crónicas, e releio algumas das minhas, sobre corridas de toiros, sou confrontado, por vezes, com a expressão que «fulano deu volta à arena pendurado no forcado» e muito raramente se verifica o contrário, ou seja, que o forcado se “pendure” no cavaleiro para dar a volta à arena. No meu modesto entendimento a expressão «pendurado em» deveria estar sempre entre aspas pois é utilizada em sentido figurativo e, como tal, ninguém vai ao colo de outrém nem nele dependurado até porque em alguns casos seria bem díficil atendendo à estatura de alguns cavaleiros.
Poderá parecer que aquilo que vos escrevo/digo é uma anedota ou uma forma jocosa de passar o tempo com trocadilhos linguísticos tão ao gosto de uns quantos. Mas não. Quero apenas expressar alguns dos meus pontos de vista sobre a matéria.
- O cavaleiro, que já deu voltas e mas voltas à arena a cavalo e após cada ferro, salvo raras e contadas excepções, nunca faz muito finca-pé em que o forcado, que até nem esteve bem ou com uma pega que o toiro não permitiu o brilho e se concretizou só ao fim de algumas tentativas, o acompanhe;
- Normalmente, o forcado recolhe-se junto dos seus colegas e entrega o barrete ao cavaleiro;
- Se a lide do cavaleiro foi de fraco nível e a pega até foi boa, o forcado faz sempre questão de chamar o cavaleiro nem que seja para que este venha até aos médios;
- Se a lide foi razoável e a pega excelente, os dois dão volta e se há chamada aos médios, o forcado faz questão de chamar o cavaleiro;
- Se a pega foi extraordinária e a lide razoável e o público exige a segunda volta para o forcado, normalmente o que acontece?
- O forcado vai aos médios e chama o cavaleiro
- O cavaleiro aproveita a “embalagem” e a humildade do forcado e acompanha-o na volta
A minha pergunta é esta: por que motivos o forcado chama o cavaleiro se o público o quer premiar a ele com a segunda volta? Há alguma razão especial para que o forcado tenha sempre de chamar o cavaleiro? Não deveria dar volta sózinho à arena se o público assim o exige?
O forcado emancipou-se de alguma forma, é verdade. Mas continua a não agir em conformidade com o seu mérito na esmagadora maioria dos casos das voltas à arena. O prémio é seu, de mais ninguém. E se os forcados seguissem a vontade do público, não havia voltas de alguém “pendurado” em outrém.