FIM DE ANO, MUDANÇA DE LINHA?
Estamos no final do ano de 2011. Será que, face a todos os condicionalismos criados ao longo dos anos e agora mais sentidos que nunca, significará isso uma necessária mudança de linha, de estilo, de acção? Os tempos não são de bons ventos e impõem uma necessária mudança.
Mudança na gestão e concepção do espectáculo. Mudança na atitude dos empresários e dos apoderados dos toureiros. Mudança na estratégia dos toureiros e dos ganadeiros. Mudança na abordagem crítica do espectáculo. Mudança no regulamento que rege o espectáculo tauromáquico.
A gestão do espectáculo deve, cada vez mais, estar a cargo de empresários com credibilidade e capacitados financeiramente para cumprirem os pagamentos na íntegra a todos os intervenientes. Não pode nem deve haver atropelos, antes um planeamento cuidado de contratação de artistas e de datas de espectáculos, potenciando um elevado número de espectadores em cada espectáculo face à qualidade do elenco apresentado. A própria concepção e duração do espectáculo deve ser repensada: tempos de lide cumpridos com rigor por todos os intervenientes, ausência de intervalos desnecessários, recolha das reses preferencialmente pelos bandarilheiros, por exemplo. Poupar-se-iam minutos importantes na duração total do espectáculo.
Mudança na atitude dos empresários e dos apoderados dos toureiros. Apesar do mercado ser curto, tal como o País, é inadmissível que se programem espectáculos à mesma hora ou no mesmo dia em localidades que distam entre si pouco mais de 20 ou 30 kilómetros. Provoca-se a dispersão do público com resultados negativos para todos os intervenientes. E os senhores apoderados, se procurarem menos e melhores corridas para os seus toureiros, deixando o circuito das portáteis para os artistas mais novos ou em vias de se afirmarem, conseguirão melhores resultados económicos e artísticos. Tourear em qualquer lado e a qualquer preço não prestigia a carreira de um artista. Ainda nas adjudicações das praças a concurso, o preço a pagar pelo aluguer deve ser o mais baixo possível, de acordo com a situação actual da conjuntura económica e devem respeitar-se aqueles que nessas praças têm vindo a desenvolver um trabalho sério e de promoção da Festa Brava.
Os toureiros têm, também, de repensar a sua estratégia. Ponto final ao comodismo de lidar apenas reses de algumas ganadarias que não trazem emoção alguma ao espectáculo e mais fazem parecer um treino de montadas que uma corrida, ainda para mais, com o público a pagar bem caro o seu bilhete. A estratégia dos toureiros deverá passar, também, por não aceitarem tourear em qualquer lado e a qualquer preço, fazendo valer, isso sim, a sua categoria e a sua respeitabilidade e preferência pelo grande público. Cada corrida tem de ser um acontecimento. Os senhores ganadeiros, com todas as dificuldades que sabemos existirem e que encarecem brutalmente a criação do toiro bravo, têm de apresentar toiros rematados, de 4 anos, com trapio, com mobilidade e que mostrem raça, casta e bravura para colocarem os artistas «en su sitio» e manter o público nas bancadas sempre pendente do que vai acontecer.
Falo também na necessidade de mudanças na abordagem crítica do espectáculo. Temos de ser mais rigorosos, respeitosamente, nas nossas análises ao que se passa na arena, ao que faz ou não cada artista em função do toiro que tem por diante, apontando pormenores negativos se os houver sem medo de represálias, venham elas de onde vierem. E nada melhor que não depender económica ou financeiramente de empresas e de toureiros que compram espaços de publicidade, etc, e depois se acham no direito de serem sempre considerados em grande plano. O seu a seu dono, o triunfo a quem triunfa. Mas para isso também faz falta que alguns dos que escrevem sobre toiros tenham mais e melhores conhecimentos daquilo sobre o qual escrevem. Não é por acaso que alguns são respeitados nos seus muitos anos de carreira e com outros se passa o que infelizmente se passa.
Finalmente, a necessária e urgente mudança do regulamento do espectáculo tauromáquico. É imperioso que seja colocado em vigor e que seja cumprido na íntegra. Que implique maior seriedade no espectáculo e que os delegados técnicos tauromáquicos tenham directrizes impostas para cumprir escrupulosamente e capacidade para as impor. Só assim se poderá aspirar a uma maior importância do nosso espectáculo tauromáquico.
2012 poderá ser a mudança na linha, a mudança de agulha que a Festa Brava em Portugal precisa? A dúvida permanece mas faço votos que seja um ano diferente e para melhor.
foto: sorisomail.com