Ortega y Gasset dizia: «a crítica é um sacramento de administração muito difícil».
27.08.23 | António Lúcio / Barreira de Sombra
Recupero neste espaço um texto que elaborei há 18 anos atrás para o Colóquio organizado pela Associação Grupo de Forcados Amadores de Caldas da Rainha “O Futuro da Festa – A Verdade do Toiro” – Caldas da Rainha, 5 de Fevereiro de 2005, e intitulado “O papel da crítica enquanto contributo positivo para a festa” e que volvido todo este tempo continua bem actual, com as naturais ressalvas em algumas referências.
Criticar não é o acto de dizer mal; bem pelo contrário: criticar é um exercício mental e de escrita que põe em evidência o que de bem foi realizado e, por contraposição, se aponta o que de mal foi executado, aduzindo-lhe os critérios de análise técnico-artísticos, e sabendo colocar o acento tónico na valorização do bem feito. Nunca deverá o crítico tornar-se desagradável nas posições assumidas mas tentar mostrar o que na realidade se passou na praça, frente ao toiro.
Muitos críticos esquecem, e os ditos aficionados também, que só o facto de um artista, a cavalo ou a pé, matador ou forcado, bandarilheiro ou cavaleiro, se colocar frente ao toiro, já é um facto digno de crédito. Depois, se souber fazer as coisas bem feitas no seu mester, se juntar a técnica à arte, então tudo será mais belo e mais difícil também de descrever. Por isso os aficionados falam, muitos anos depois, daquela faena ou lide deste artista, da pega deste ou daquele forcado, deste ou daquele toiro famoso de uma ganadaria. Por isso se correm muitos milhares de quilómetros atrás de um toureiro.
A este propósito o Dr. Joaquim Grave, no seu livro “Bravo!”, escreveu o seguinte:
“Com efeito, a prática responsável da crítica exige certos requisitos, sem os quais essa crítica perde rigor e credibilidade. Em primeiro lugar há que ter um conhecimento histórico do tema em questão. (…)
Depois, deve possuir um conhecimento técnico, isto é, deve saber como se executa a obra sobre a qual vai emitir opinião. Esta premissa no toureio é de grande importância. Ajuda imenso ter-se visto a Festa «lá de baixo», onde a condição humana dos toureiros é mais real. Deve igualmente possuir um conhecimento teórico, ou seja, ter uma ideia do que representa a actividade ou a obra criticada, em si mesma, ou em relação com a vida humana.
Um dos maiores encantos das corridas de toiros é que, sendo o toureio uma ocupação silenciosa dá contudo muito que falar… (…)
Quem sabe mais de toiros e de toureio, o que estuda e revolve crónicas e dados de um passado toureiramente morto ou o que viu mais tourear? Eu diria que o que mais viu tourear, mas sabendo ver. Quero dizer, sabendo tomar-lhe o gosto, o sabor ao que vê, ao que observa. Porque ver, só por ver, pouco adianta. Aquele que observa e critica, deve, do mesmo modo que o toureiro, ver claro. Este, se não vê claro o que tem pela frente não pode tourear, ou toureia mal, que é como se não toureasse. (…)
No meio disto tudo, só há um que tem o direito de não ver claro, é o toiro. (…)
No toureio tudo é verdade e tudo é mentir. Não quero com isto dizer que não se deva ser exigente. A exigência nasce do conhecimento e é salutar, mas a intransigência é filha do desconhecimento. A intolerância acaba sempre por ser contraditória. (…)“
Ser crítico taurino ou cronista taurino em Portugal não é muito diferente de o ser em qualquer outro País onde se realizem espectáculos taurinos. A diferença advém da importância concedida ao próprio espectáculo na sua aceitação nacional e na segmentação efectuada nos respectivos órgãos de comunicação social. Ou seja, os métodos serão idênticos porque reflectem tratamento e análise, ou apenas um breve sumário, em termos jornalísticos. Portugal, país sui generis na sua tauromaquia, também o é em termos de tratamento do crítico, analista, cronista, jornalista taurino.
Em Portugal não existe uma escola de jornalismo taurino. Cada um aprendeu à sua custa, movido pela sua afición e com ajuda da sua formação académica. Alguns dos críticos taurinos, nos quais me incluo, também passaram pelas arenas, aprendendo a conhecer e a sentir de outra forma os terrenos em que se movimentam. Se nos anos 50, 60 existiam brilhantes cronistas taurinos, Manuel Azambuja, Leopoldo Saraiva, Paco Camilo, Samuel Reis e tantos outros são grandes referências assim como os jornais de então, ao lado da então Emissora Nacional e da Radiotelevisão Portuguesa, se existiam muitos meios de comunicação com páginas dedicadas à tauromaquia, garantidamente foi nos anos 70 e 80 que se forjou a maioria dos actuais críticos taurinos. Recordo-me que, bem miúdo, ficava sempre atento ás transmissões directas do exterior – as nocturnas do Campo Pequeno – e ao Sol e Toiros na rádio. Nesses anos outros nomes aparecem no pequeno ecran e os programas voltam, de novo, a cativar-nos. Francisco Morgado, Maurício Vale, Eduardo Leonardo, Virgílio Palma Fialho, são nomes que nos influenciaram.
Em Portugal, país pequeno em tudo ou quase tudo, onde é quase delito ter opinião, especialmente se formos contra o status quo de alguns artistas e empresários que se acham intocáveis – ficamos à porta e temos de pagar bilhete se quisermos ver o espectáculo! – o crítico taurino não tem o seu papel facilitado. Os órgãos de comunicação social tratam o tema taurino como um parente pobre, dedicando-lhe o menos espaço possível porque não é politicamente correcto dar muito destaque pela positiva aos toiros. Os empresários têm, a pouco e pouco, vindo a reconhecer mérito aos críticos taurinos regionais e locais pelo seu trabalho desenvolvido em prol da Festa Brava. Penso que será de elogiar esta mudança de atitude mas a verdade é que ela não foi assim enquanto houve programas de índole nacional na Rádio e TV. Alguns toureiros e ganadeiros apostam, finalmente, em dar-se a conhecer, a promover a sua imagem nos mais diversos meios de comunicação, o que apraz registar. O nosso trabalho é um trabalho de grande persistência e de enorme aficion, que não restem dúvidas.
O GÉNIO VISTO PELA OBJECTIVA DE HENRIQUE DE CARVALHO DIAS
27.08.23 | António Lúcio / Barreira de Sombra
Não é mais um livro. É uma obra de qualidade com dezenas de fotos a preto e branco do génio de La Puebla del Rio, José António Morante Camacho, "Morante de la Pubela" nos cartéis, e aqui retratadna objectiva aficionada de Henrique Carvalho Dias.
É uma obra para os bons aficionados e apiaxonados pela fotografia e que pode ser adquirida enviado o seu pedido para henriquecarvalhodias@outlook.com.
Praça de Toiros do Campo Pequeno – Lisboa – 24/08/23 – Corrida À Portuguesa
Director: Lara Gregório de Oliveira – Veterinário: Jorge M. Silva – Lotação: 80%
Cavaleiros: João Moura Jr. (volta – volta com o ganadeiro), Francisco Palha (volta – saudou nos médios apesar de autorizada a volta), Andrés Romero (rejoneador) (silêncio – volta)
Forcados Amadores de Montemor(volta, volta e volta) e Évora (volta, volta e volta)
Ganadaria: Murteira Grave (volta após a lide do 4º toiro)
Foi uma noite de enorme ambiente a que se viveu na noite de quinta-feira em Lisboa. Uma corrida que despertou o interesse de milhares de aficionados, muitos vindos do Alentejo, para assistirem a uma grande corrida toiros onde o ganadeiro Joaquim Grave foi um dos triunfadores, com dois toiros de muita bravura e classe (2º e 4º da ordem), um primeiro de categoria mas com o peso (622 kg) a não ajudar tanto, e com quinto e sexto a serem de boa nota, justificando-se plenamente a sua chamada à arena após a lide do 4º da noite.
Abriu praça o cavaleiro João Moura Jr. E que bem que o fez, recebendo bem o imponente toiro. Dois compridos à tira serviram para aquilatar da qualidade das investidas. Bem na brega, cuidada e a deixar o toiro de largo, seria aqui que ganharia claramente a aposta pois deixou o toiro investir de largo e cravou dois excelentes curtos. A lide terminaria de forma abrupta dada a tentativa de invasão de arena por parte do activista anto-touradas Peter Janssen prontamente dominado e detido pela PSP que escutou fortíssima ovação. No que foi quarto da noite, bravo e codicioso, de novo o recital à Moura, com boas preparações e remates e duas extraordinárias “Mourinas” a encerrar, e ainda um palmito que não conseguiu deixar à primeira. Volta aclamada com Joaquim Grave, o ganadeiro, e o forcado.
Francisco Palha entendeu-se perfeitamente com o bravo segundo, um toiro que cresceu ao castigo, indo a mais no decurso da lide. Um bom primeiro comprido em sorte de gaiola e outro bom, e depois três curtos de excelência, de fazer parar os corações, deixando o toiro investir de largo e aguentando enormidades fechado em tábuas para cravar de forma emotiva; saiu no momento certo sob fortes aplausos. No que foi quinto da ordem, e que se desembolou após o primeiro bom curto, voltou a dar vantagens e a aproveitar o que o toiro tinha de bom, numa actuação de classe.
Andrés Romero não se entendeu com o terceiro, que foi ganhando os terrenos e começando a adiantar-se, sofrendo diversos toques nas montadas e não dando volta. No que encerrou praça já foi possível ver o seu toureio mais alegre e movimentado e com destaque para a série de curtos onde segundo e terceiro foram bons.
Para as pegas perfilaram-se dois Grupos com pergaminhos: Montemor e Évora, estes a comemorar 60 anos de existência. Noite dura mas de grande valor pela estoicidade dos forcados da cara e dos ajudas e porque, efetivamente, houve pegas de outro mundo, com uma raça e um valor dignos dos maiores de todos os tempos. Por Montemor abriu Praça Francisco Maria Borges numa colossal pega à 2ª tentativa, suportando fortes derrotes do imponente “Murteira” em ambas as tentativas e com grande 1ª ajuda dos eu cabo com quem daria volta no final; Vasco Ponce esteve enorme consumou rija cara ao primeiro intento assim como José Maria Pena Monteiro. Os Amadores de Évora tiveram na cara do 2º da noite o forcado Ricardo Sousa numa excelente cara ao segundo intento e suportando fortíssimos derrotes, seguido por José Maria Passanha numa rija cara ao primeiro intento e com o cabo José Maria Caeiro a fechar-se com garra e determinação numa grande pega à segunda tentativa. Honra e glória às jaquetas alentejanas de Montemor e Évora.
Dirigiu o espectáculo a delegada técnica tauromáquica Lara Gregório Oliveira assessorada pelo médico veterinário Jorge Moreira da Silva.
A bonita e acolhedora praça de toiros de Vila Viçosa recebe no próximo dia 9 de setembro pelas 17:00 horas a sua tradicional corrida de toiros integrada nas Festas dos Capuchos.
Um dos fortes aliciantes desta tarde é o regresso da ganadaria de José Luis Cochicho à arena da sua terra após anos de ausência, fazendo-o com um imponente curro de toiros com 5 anos e tremendo trapío, e que será lidado por uma terna de cavaleiros com estilos diferenciados – Emiliano Gamero, Paco Velásquez e Tristão Ribeiro Telles. As pegas estarão a cargo dos emblemáticos grupos de forcados amadores de Santarém e Montemor.
Os bilhetes estarão disponíveis para aquisição nos locais habituais e através do número 934 502 478.
DEPOIS DO TRIUNFO EM MADRID, ACTUA ESTA 5ª FEIRA EM LISBOA
22.08.23 | António Lúcio / Barreira de Sombra
O rejoneador Andrés Romero, que triunfou em Madrid no passado domingo e viu a presidência negar-lhe a 2ª orelha e consequente saída em ombros, toureia esta quinta-feira em Lisboa. No domingo em MAdrid confirmou alternativa o cavaleiro portugês Paco Velásques. No prósimo domingo dia 27 será a vez de actuarem em Madrid Marcos Bastinhas , que também confirma alternativa, e Francisco Palha.
No dia 2 de Setembro, Andrés Romero prepara-se para um feito histórico: tourear 4 corridas no mesmo dia: Ronda (10h30 hora portuguesa), Cuba (17h), Aldeia da Luz (18h30) e Montijo (22h), deslocando-se de helicóptero entre as diversas praças de toiros.