HOJE TOUREIO EU… A ÚLTIMA DO CAMPO PEQUENO EM 2022
Muito se tem falado de que a temporada do Campo Pequeno deveria ter mais espectáculos do que os anunciados 4 e que no próximo dia 8 terá o último desses 4 espectáculos tauromáquicos. Pois bem, concordo em pleno que a temporada na Monumental lisboeta deveria ter pelo menos uns 8 a 10 espectáculos e não me incomodava enquanto aficionado que fossem ao sábado ou ao domingo ou até à sexta-feira se isso significasse um número pujante de espectáculos, uma massiva presença de espectadores e uma acérrima competição entre artistas, ganadeiros e forcados.
Poderia dizer que ainda sou do tempo em que o Campo Pequeno dava entre 14 a 20 espectáculos taurinos por ano, a começar nos espectáculos cómico-taurinos de Carnaval, prosseguindo no domingo de Páscoa e por aí fora com as Fabulosas de Verão, a Corrida da Rádio, a Corrida TV e assim sucessivamente com algumas corridas a esgotarem com vários dias de antecedência e o mercado da revenda a funcionar em pleno… Pois é, mas isso foi há mais de 30 anos…
Hoje, tudo se torna mais complicado. E não acredito que não haja outras datas sem espectáculos musicais e onde o espectáculo tauromáquico pudesse encaixar. Outros valores se levantam e, quiçá, os nossos “taurinos” não se tenham apercebido de que, se não derem as mãos e se unirem com o actual empresário, ou outro que possa vir a ocupar o lugar de Luís Miguel Pombeiro, para que haja uma temporada grande e em grande no Campo Pequeno, podemos correr o sério risco de, um dia destes – e pode não estar tão longe quanto isso – a realização de corridas de toiros no Campo Pequeno não passe de uma memória, tal como já sucede em Espinho, Viana do Castelo, Póvoa de Varzim, Setúbal e Albufeira…
Luis Miguel Pombeiro criou o slogan “Este é o momento. Estamos com o Campo Pequeno” mas parece que poucos entenderam a profundidade da mensagem e o seu conteúdo subjacente. Porque o estarmos com o Campo Pequeno é muito mais do que um simples slogan, uma simples ideia publicitária. Todos nunca seremos demais para tomar atitudes de defesa da Festa Brava e os senhores toureiros, apoderados, ganadeiros, forcados, etc, etc, etc, têm a obrigação de tomar atitudes que protejam a festa contra outros interesses menos claros dos que pretendem com ela acabar, por decreto ou outra qualquer forma.
E a falta de união das gentes da festa é gritante. Dão-se espectáculos a mais, fora de datas festivas relevantes, em praças que distam 30 a 40 kms ou 30 a 40 minutos de carro. Incrível como ainda há público para tanto espectáculo, repetitivo nos cartéis, e praças a encher e até a esgotar (que é o que se quer).
Em cada momento, nos últimos anos, verifico que alguns não querem ir a Lisboa ao Campo Pequeno, ouvimo-lo nas apresentações das temporadas em que Rui Bento foi gestor e quiçá se tenha passado o mesmo com Pombeiro nestes 2 anos. Não entendo até porque depois e salvo raras excepções, toureiam em aldeias e vilas com menos capacidade remuneratória do seu labor… Mas é tudo uma questão de gestão e carreira e de imagem.
Importa que olhem para o Campo Pequeno de outra forma, como uma praça onde um triunfo signifique poder voltar a aí tourear, a elevar o cachet, a abrir outras portas. Mas para isso é essencial que se possa voltar a organizar 10 a 12 corridas mais 1 a 2 novilhadas por temporada. E mais ainda, que haja um verdadeiro espírito de colaboração entre todos e todas as associações para que possamos ter um Campo Pequeno activo e criativo e não mais uma memória de tempos idos.
Sobral de Monte Agraço, 31 de agosto de 2022
António Lúcio
Foto: Ana Serra