Há 35 anos, quando me iniciei nestas lides, tinha a suficiente formação e conhecimentos da matéria para poder embarcar nesta aventura e a ligação e conhecimentos que tinha com alguns bons taurinos de então, a postura que mostrava e a afición com que o fazia, foram-me abrindo portas para poder construir esta bonita história de quase 35 anos na crítica taurina, passando por rádios, jornais, revistas e até pela televisão. Um percurso de que me posso sentir, com propriedade, orgulhoso de ter construído.
Mas só o consegui porque respeitei todas as pessoas – empresários, ganadeiros, toureiros, forcados- que também me souberam respeitar ao longo dos anos. Dos outros, dois ou três, não reza a história pelos melhores motivos…
Quando comecei, e penso que desde sempre, existiam picardias mas acima de tudo, muita camaradagem e não se via a coisa do ponto de vista da competição e muito menos ainda de alguns comentários que não abonam em favor da festa nem dos envolvidos. A minha competição é comigo próprio e em querer ser cada vez melhor sem que isso se torne uma obsessão. Fiz sempre por deixar abertas as portas que muitos me abriram e assim continuarei.
Tenho o privilégio de escolher as corridas a que quero assistir e, se não me derem acreditação para fotografar e escrever, tenho duas opções: ir ou não ir. Comprar bilhete como qualquer aficionado e assistir ao espectáculo ou pura e simplesmente ficar em casa. E ponto. Não faço crónica nem fotos, não comento… Houve, uma vez, há bastantes anos, um senhor empresário que não entendeu o que eu havia escrito da actuação do seu filho e mandou um funcionário da sua empresa tirar-me o cartão de livre-trânsito. Na altura escrevia para o Correio da Manhã e estava destinado fazer a crónica dessa corrida. Fiz o que tinha de fazer: escrever sobre o sucedido e informar os leitores que não havia crónica da corrida. Nunca mais viu a minha cara ou lhe dei cobertura a qualquer espectáculo.
Posso escolher e sou livre de o fazer porque não vivo das crónica, das fotos ou das publicidades. Há quase 35 anos! E por isso, e porque importa fazer algo diferente e apoiar os toureiros portugueses que lutam por um lugar ao sol, pude decidir ir a Higuera La Real ver Juanito e toiros de Murteira Grave e não ir a Almeirim no dia seguinte apesar de todo o respeito que os actuantes nesta última corrida me merecem.
Temos de ter a cabeça bem assente. Nem sempre agradamos a gregos e a troianos. Nem sempre aquilo que escrevemos ou algumas fotos que publicamos eram as que desejávamos publicar. Às vezes é o que de melhor nos tocou fixar e escrever. Como nem sempre os toureiros conseguem a faena desejada ainda que lhes saia um bom toiro para lidar.
A mim, sempre que penso em escrever algo, olho para a folha em branco que tenho por diante para poder fazer a minha faena. Um coisa é certa: nunca será arma de arremesso mas sempre, e ainda que por vezes possa ser medíocre, aquilo que a alma e a consciência me ditam. E acreditem que durmo sem sobressaltos de que ordem for.
Boa Páscoa a todos.
António Lúcio, 11 de Abril de 2022