QUANDO UMA FIGURA SE RETIRA POR TEMPO INDETERMINADO…
Apanhou-nos a todos de surpresa, como havia acontecido com Talavante. Mas se tomarmos em atenção algumas declarações públicas de Enrique Ponce conseguimos compreender o quão difícil é puxar uma carroça de chumbo como o fez na temporada passada e ver o que se passa neste ano de 2021…
Enrique Ponce, na minha modesta opinião, fartou-se deste sistema, ao qual sempre pertenceu e onde venceu com um enorme mérito e capacidade para se reinventar tarde após tarde, temporada após temporada e já iam 30… O mérito tem de ser valorizado no momento da contratação, na eleição das melhores datas e das melhores ganadarias, sem fugir á competição com toureiros mais jovens como sempre o fez e ainda mais na forma como o fez na primeira temporada Covid.
Mas agora o Covid é o responsável por tudo, pelas incapacidades de alguns, com responsabilidades, sacarem a carroça para diante e montarem bons espectáculos, exigindo das autoridades governamentais e sanitárias o respeito que a Cultura deve e tem de ter pois não há conhecimento de casos ou surtos surgidos após as corridas de toiros. As limitações de lotação, com critérios incompreensíveis, mais não representam que uma séria limitação dos direitos dos profissionais do toureio e do público pagante do bilhete. Lá, cá, em todo o Mundo.
Manda a Nova Ordem, não há vislumbre de um futuro risonho a curto prazo. O Big Brother de Orwell está aí, é uma clara evidência. Os empresários baixam os valores de compra de toiros para valores miseráveis; os ganadeiros, ou mandam matar e ganham apenas o valor da carne, ou aceitam lidar a qualquer preço porque sempre ganham mais uns euros; os toureiros têm de cobrar valores irrisórios face ao que cobravam anteriormente, ou ficam em casa; e com a diminuição da lotação máxima vendável (30 ou 50%), os preços sobem e sobrem bem. A culpa de tudo é do Covid…
E continuará a ser…
Mas como se ouviu no ano passado em Salamanca e em alguns programas de toiros espanhóis, fala-se muito, fazem-se muitas propostas mas não existe união nem um projecto comum de todos os intervenientes na Festa.
Admiram-se que uma figura com o passado e o peso de Enrique Ponce se tenha fartado? Eu não. Resta saber se é uma paragem curta para um retiro de reflexão ou se este “indeterminado” terá outra duração. Quem fica a perder é a Festa Brava e são os aficionados. Ponce tem a sua história, a sua carreira, a sua vida… muito para contar aos descendentes.
Que seja breve essa retirada Maestro!
Texto e foto: António Lúcio