![13 e 14 setembro 1999 13 e 14 setembro 1999]()
Em 1999 regressei à Praça de Toiros de Sobral de Monte Agraço na condição de crítico tauromáquico e após alguns anos de ausência. A crónica que se segue ilustra esse regresso.
“Praça de Toiros de Sobral Monte Agraço – 13.09.99
João Moura - Rui Salvador - Mário Miguel
Forcados de Santarém e Lisboa
6 toiros de João Moura
Regressámos à Praça de Toiros do Sobral após alguns anos de ausência e, na verdade, não ficámos com muitas saudades do espectáculo a que tivémos oportunidade de assistir já que uma série de condicionantes não permitiram que este atingisse o brilho que seria de desejar e a moldura humana não era condizente com o cartel apresentado. Motivos, pois, para todos nos questionarmos sobre esta situação.
![13 setembro 1999 13 setembro 1999]()
A presença de João Moura não foi suficiente para que a lotação de 2936 lugares ficasse completa; antes pelo contrário, a lotação rondaria os ¾ fortes, o que convenhamos é pouco. Os preços elevados também terão afastado muitas pessoas. E, no final do espectáculo, a desilusão era patente na maioria das faces dos aficionados.
Lidaram-se toiros de 4 anos de idade, bonitos de pelagem e de cornamentas, com pesos entre os 440 e os 480 kg, da ganadaria de João Moura. Dos 7 toiros que saíram à arena apenas o 1º e o último, o sobrero, cumpriram. Todos os outros foram mansotes, sonsos, sem codícia, padecendo de uma tremenda falta de forças, com o 1º do lote de Mário Miguel a cair em plena arena por duas vezes. Assim, não transmitiram emoção às lides, tendo os artistas de se aplicarem a fundo para sacar algum partido. Para cúmulo, o 5º da tarde partiu um corno ao derrotar na trincheira após o 2º comprido e o senhor director de corrida, senhor Rogério Valgode e o veterinário Dr José Manuel Lourenço, mandaram recolher o toiro.
João Moura teve duas lides sem grandes rasgos, a cumprir calendário, sem se aplicar a fundo, comodamente instalado, lidando a palmos da cara do oponente e cravando a ferragem da ordem destacando-se nos curtos, na série de 5, no primeiro a quarteio e nos segundo e terceiro em sortes cambiadas bem executadas. Frente ao 4º da tarde e após dois compridos em sortes à tira, cravou com classe e saber três ferros em sortes a quarteio a que se seguiram outras tantas em sortes a sesgo com destaque para o último, bem rematado.
Rui Salvador não foi feliz nos dois compridos mas depois de boa brega, cravou 4 ferros curtos em sortes a quarteio bem executadas com destaque para o remate da sorte no segundo e para o quarto curto em que atacou o toiro e cravou bem a quarteio. O 5º, como já referi, partiu um corno contra as tábuas após 2 compridos e não tinha que ser substituido pelo sobrero. Mas Rui teve de lidar o sobrero em último lugar e em boa hora o fez pois assinou o triunfo da tarde frente ao único toiro que transmitiu emoção e teve algum poder. Três bons compridos após ter recebido o toiro com este a carregar com pata em duas voltas à arena e, na ferragem curta, primeiro e segundo de boa nota em sortes a sesgo e ainda mais três ferros em sortes a quarteio bem apontados.
Mário Miguel teve de bailar com a mais feia, saindo-lhe dois toiros que não permitiam o triunfo que ansiava pois recebeu o seu primeiro com a garupa da montada na porta dos curros aguentando bem a investida do toiro e cravando dois compridos à tira, o segundo de boa nota. As coisas complicaram-se um pouco após o primeiro curto em sorte a quarteio, com o toiro a vir a menos e Mário a falhar 3 vezes seguidas a cravagem do ferro. Deixaria ainda mais 3 ferros em sortes que resultaram de pouca emoção. Esteve muito bem ao recusar-se a dar volta à arena. Frente ao 6º da ordem, encastou-se após um precalço com forte toque na montada e apontou 2 compridos à tira. Com os ferros curtos conseguiu bons momentos com os dois primeiros em sortes a sesgo com destaque para o segundo bem rematado e para os quarto e quinto em sorte a sesgo bem executada e a quarteio respectivamente, assinando uma boa prestação frente a este toiro cumpridor mas de poucas forças.
Os Forcados de Santarém efectuaram as suas pegas de caras por intermédio de Afonso Lebre, bem à primeira tentativa; António Braga também fácil à 1ª tentativa e André Durão bem à 1ª tentativa. Pelos Forcados de Lisboa foram solistas Gonçalo Gomes bem à 1ª tentativa; Alexandre Carriço, bem à córnea à 2ª tentativa, lesionando-se com fractura da clavícula direita, e Manuel Piteira bem à 1ª tentativa.
De realçar a bonita ferragem utilizada nesta corrida, da autoria de João Diniz, «João do Sobral», com duas bandeiras a dizerem Paz em Timor.
Um último comentário para a questão da utilização do toiro de reserva, ou sobrero. O Regulamento não obrigava a empresa à substituição do toiro que se inutilizou durante a corrida, já com ferros cravados. O público não entendeu essa situação mas o senhor director e o senhor veterinário cumpriram o estipulado no Regulamento. A Empresa, a solicitação do Director de Corrida, mandou lidar o sobrero evitando assim uma situação que poderia ter causado alguns dissabores.
A crónica que apresentamos a seguir é assinada pela Ana Sara Rogério que, pela primeira vez, escreveu sobre uma corrida de toiros a que assistiu.
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“Praça de Toiros de Sobral de Monte Agraço - 14 de Setembro
Pedro Franco- António Manuel Pereira - Rui Santos
Forcados do Aposento da Moita
Forcados Amadores de Caldas da Rainha
6 toiros de Manuel José da Ursula
No passado dia 14 de Setembro, Terça-feira, assistiu-se a um espectáculo que primou pela pouca presença de público e pelas actuações menos conseguidas por parte dos intervenientes.
O primeiro cavaleiro a entrar em praça foi Pedro Franco. Coube-lhe em sorte um touro com 530 Kg (N.º 72 / 3 anos), que foi recolhido por não estar nas melhores condições após a saída dos curros. Em seguida, saiu um touro com 570 Kg (N.º 73 / 3 anos). Nesta lide, Pedro Franco cravou três ferros compridos aceitáveis e quatro curtos, em que podemos destacar o 1º, após boa brega, e o 4º. Fechou a sua actuação com um ferro de palmo. Quanto à pega, esta foi executada pelo grupo de Forcados das Caldas da Rainha, pelo forcado Nuno Serrano à quarta tentativa.
Em segundo saiu um touro com 560 Kg (N.º 76 / 3 anos), que coube em sorte a António Manuel Pereira. António Pereira cravou 3 ferros compridos aceitáveis. Na ferragem curta, apenas podemos destacar o 2º ferro deixado. A segunda pega da tarde esteve a cargo do grupo das Caldas da Rainha, sendo esta realizada à segunda tentativa pelo forcado Bernardo Gomes.
Quanto a Rui Santos, podemos dizer que teve uma actuação de altos e baixos. Coube-lhe em sorte um touro com 540 Kg (N.º 78 / 3 anos). Deixou cravados 2 ferros compridos e 5 curtos, tendo sido o 4º de boa nota. A pega foi efectuada pelo grupo do Aposento da Moita à primeira tentativa pelo forcado Hélder Carvalho.
O quarto touro da tarde era o sobrero, pesava 450 Kg (N.º80 / 3 anos). Nesta lide, Pedro Franco cravou 3 ferros compridos, tendo ficado o 2º ligeiramente descaído. Na ferragem curta deixou três aceitáveis e fechou a sua actuação, uma vez mais, com um ferro de palmo de boa nota. A pega esteve a cargo do grupo do Aposento da Moita, sendo efectuada na primeira tentativa, pelo forcado Rodrigo Castelo.
A António Manuel Pereira coube-lhe em sorte o touro mais pesado da corrida, com 580 Kg (N.º77 / 3 anos). Com este touro, António M. Pereira cravou 3 ferros compridos aceitáveis, tendo ficado o 1º ligeiramente descaído. Nos quatros ferros curtos que deixou, o destaque vai para o 3º e 4º. A pega esteve a cargo do grupo do Aposento da Moita, efectuada à primeira tentativa pelo forcado Sérgio Cruzado.
No sexto touro com 535 Kg (N.º69 / 3 anos), Rui Santos não teve uma lide afortunada, uma vez que o touro não ia ao cite e procurava, constantemente, refugiar-se em tábuas. Rui Santos cravou 3 ferros compridos, após falhar o primeiro à porta gaiola. Na ferragem curta deixou três, destacando-se o 2º e 3º de boa nota. A pega esteve a cargo do grupo das Caldas da Rainha à terceira tentativa pelo forcado Henrique Frazão.
Neste relato sem pretensões, da corrida da passada Terça-feira, não se pode dizer que tenha havido um triunfador, uma vez que as lides não tiveram muito rigor toureiro. Esta corrida ficou marcada pela recolha do primeiro touro, sendo precisos quase 40 minutos. Neste tempo, o Sr. Director de Corrida podia ter dado ordem para se informar o público da razão pela qual o touro tinha que ser recolhido. Foi um erro grave, pois o público estava a ficar impaciente e algumas pessoas começavam a abandonar a praça.
Por isso, quando chegou a lide do sexto touro já era praticamente noite escura. É pena que a praça de touros do Sobral não seja melhor aproveitada e que só sirva para duas corridas anuais, e que esteja mal cuidada. Já era tempo de colocar uma nova iluminação, para casos como o da passada Terça-feira.
Como nota final é de enaltecer o minuto de silêncio por Timor guardado no início da corrida.” – Ana Sara Rogério
Alguns cartazes dos anos 90 em Sobral de Monte Agraço (clique nas setas para avançar ou retroceder)