QUE MEDIDAS CONCRETAS PARA O SECTOR TAUROMÁQUICO NO PÓS ESTADO DE EMERGÊNCIA?
Lemos e ouvimos que existe, da parte do Governo, um conjunto importante de medidas para os diversos sectores da economia portuguesa. Mas também é verdade que no que se refere ao sector tauromáquico, não vislumbramos que estejam a ser tomadas ou preparadas quaisquer medidas de ajuda para a sua manutenção no pós estado de emergência e ao que conhecemos dos representantes do sector tauromáquico “tudo como dantes, quartel-general em Abrantes”.
É de todos sabido que o Governo e a maioria dos deputados não são favoráveis à tauromaquia enquanto cultura (a subida do IVA para os 23% foi a última medida contra este sector) e a própria Ministra da Cultura ignora-o por completo. Não entendem os governantes a tauromaquia enquanto cultura, o que se lamenta.
Mas não podem escamotear a verdade e ignorar o peso económico da Festa Brava e quanto representa direta e indiretamente para as contas do Estado (taxas e impostos). São muitos milhões e percebo também que alguns não os queiram mostrar claramente. Não interessa politicamente que a generalidade das pessoas saibam quanto vale economicamente a tauromaquia e quantas centenas de famílias dela dependem.
Se cada corrida de toiros/espectáculo tauromáquico tiver um custo em taxas, licenciamentos, bombeiros, pessoal de praça, transporte de toiros, publicidade, segurança, banda de música emboladores etc. na casa dos 6 a 10 mil euros e se se realizarem em média 200 espectáculos, teremos, logo aí valores entre 1.2 milhões e 2 milhões de euros.
Em 200 espectáculos tauromáquicos lidam-se 1200 reses cujos valores poderão oscilar entre 1500 e 2500 euros/cabeça, ou seja, gerar receitas entre 1.8 e 3.0 milhões de euros a que se deverá somar um valor médio de 500 euros por carcaça abatida e que representará cerca de 600 mil euros. Isto apenas tendo em conta as reses lidadas em espectáculos tauromáquicos enquadrados pelo Regulamento Geral do Espectáculo Tauromáquico em praças licenciadas para o efeito.
Mas no que se refere a reses bravas há ainda que contar com os festejos populares como as capeias raianas e forcão, largadas e esperas de toiros, touradas à corda e que geram mais umas largas centenas de milhares de euros entre proprietários de gado que os alugam para estes espectáculos, e, marginalmente para a economia de cada umas das localidades onde se realizam.
Existem cerca de 80 ganadarias que ocupam largos milhares de hectares de áreas agrícolas de pouca aptidão para outro tipo de culturas e onde trabalham muitos portugueses. Serviços de veterinária, alimentação dos animais, etc são geradores de importantes custos/receitas que se traduzem também em receitas para o Estado.
Uma corrida é composta, em termos gerais, por 3 toureiros, 2 grupos de forcados, seis bandarilheiros, campinos e cabrestos, para além dos toiros. O que significa muita gente envolvida para além deles: camionistas e tratadores de cavalos, moços de espadas, apoderados, mais de 30 forcados em praça, 2 campinos… Centenas de famílias envolvidas.
Nas coudelarias que criam produtos destinados ao toureio repetem-se os números e o valor dos cavalos ascendem, muitas vezes, a largos milhares de euros, transaccionando-se bastantes no decurso da temporada e no defeso.
A média de espectadores ascende a cerca de 2900 por espectáculo, o que soma cerca de 580 mil. Os preços médios do espectáculo rondam entre os 25 e os 35 euros por pessoa, o que poderá gerar receitas entre os 75 mil e os 101,5 mil euros por espectáculo, havendo casos como o de Lisboa/Campo Pequeno em que uma lotação esgotada poderá render cerca de 240 mil euros. E o IVA até Janeiro deste ano era de 13%...
Estes valores são meramente especulativos e resultam das observações efectuadas ao longo dos anos.
Mas ainda mais importante do que estes números e do que possam representar da realidade da tauromaquia, é aquilo que se possa perspectivar para o futuro imediato da Festa Brava e da sobrevivência dos seus intervenientes mais directos no período pós estado de emergência e para os anos que se seguirão. E não me parece que esse futuro seja menos que cinzento com a inoperância a que venho assistindo por parte das diversas entidades representativas dos diversos sectores e da sua incapacidade de gerar notícias e informação que possam chegar ao grande público e obrigar os governantes a olhar com outros outros olhos, olhos de ver, e ouvidos capazes de escutar.
Com as regras de afastamento social que o PM já anunciou a vigorarem muito para além do final do estado de emergência (e provavelmente até haver uma vacina), imaginemos que numa praça como Vila Franca, o público sentado fila sim fila não e com 2 lugares livres entre cada pessoa, não estarão mais de 1200 pessoas. Qualquer espectáculo que aí se realize nessas condições é verdadeiramente ruinoso. Santarém não contaria com mais de 3500 lugares, o Campo Pequeno com 2000…
Pergunto: que medidas têm sido trabalhadas pela APCTL, ANGF, ANDT e PROTOIRO junto do Governo para apoios imediatos aos criadores de toiros e de cavalos(Agricultura), aos artistas tauromáquicos (Cultura) para proteger a raça brava de lide e os cavalos Lusitanos, Árabes e Cruzados? O Ministério da Cultura foi contactado para incluir os toureiros nos apoios excepcionais à cultura?
Meus caros amigos, não podemos continuar á deriva e a aguardar que alguma notícia chegue por qualquer uma via que não a das Associações que representam o sector. E a continuarmos calados, inactivos junto do Poder. Estaremos a potenciar um futuro ainda mais negro para a nossa Festa Brava. Raúl Solnado dizia “Façam o favor de ser felizes” e eu peço apenas “Mexam-se!”
António Lúcio
Foto: Maria Mil Homens - Porta dos Sustos