23 de Agosto de cada ano, é o dia do Santo Padroeiro de Baião, S. Bartolomeu, o orago que esconjura os medos. Dia de festa na vila, dia de tourada. Casa cheia garantida, que os baianenses não são gente a quem a tradição e o passado criem complexos e tiques urbanos. Se a inclusão da corrida de toiros, de à uns anos a esta parte, deixou de ter mencionada ou fazer parte do cartaz onde se publicitam todas as iniciativas das Festas do Concelho, isso não apaga a memória, a história, muito menos faz diminuir a tradição. É uma retirada que só desmerece quem a tal obrigou, e fê-lo, mais por taticismo politico eleitoral, que por convicção ou devoção, aliás, como se comprova pela meia dúzia de barulhentos ‘torturadores caseiros de animais’, que com a dita ‘liberdade de minoria’, sempre neste casos aparece para ‘fazer prova de vida’ e sacar uns euros à autarquia.
Aliás, ao que apuramos, um dos cabecilhas animadores, tem lugar agora garantido na folha de salários da autarquia local. Mas essa exclusão do ‘programa oficial das festas’, não fez diminuir a presença e participação das gentes Baião, quer nos actos religiosos, de animação folclórica, ou na ‘ida aos touros’. Tem gente para tudo, e uns tantos, muitos, que vão a todos. E o único medo que por aqueles lados preocupa quem lá vive, é o de ataques de estupidez que, diga-se, ao que se sabe, não é a especialidade nas invocações e esconjuros de S. Bartolomeu. Daí que o chefe da força da GNR que no local era responsável, não possa também pedir ajuda ao Santo, para o livrar do medo que teve em impor respeito pelo direito que os cerca de dois e quinhentos espectadores que pagaram o seu bilhete, num espectáculo devidamente autorizado, licenciado, e dirigido por um representante do Poder Central, que, ao que também soubemos, pediu ao dito ‘agente da ordem pública’, como gostam de ser tratados, que fosse respeitado o silêncio devido a quem tinha pago o seu bilhete, e não tem de suportar insultos e barulhos que ferem a audição. Pedido que aquele, dito ‘agente da autoridade’, entendeu por bem, fazer ouvidos de mercador.
Se o senhor ‘guarda’ não gosta de touradas, tinha aqui uma boa razão para mostrar ao que anda. Não pode é querer ganhar o gratificado, e fazer de conta que não está lá, no mínimo. Esperamos que o Relatório da Senhora Directora da corrida, Sandra Strech, que esteve muito atenta e dirigiu com muito acerto e cuidado o espectáculo, está de parabéns, reflita também este aspecto. Se as touradas, as corridas de touros, a tauromaquia, é um acto cultural, tradicional, legal, Constitucional, e tem de ser presidido por um representante do Poder Central, é de boas práticas, e bom serviço público, que os Ministérios se organizem, coordenem, e sobretudo, não exponham os seus agentes a situações de menoridade perante agentes desordeiros, só porque as ‘minorias’ também têm direito. E o direito das maiorias que lhes pagam o seu bilhete, sustentam o sistema, lhes permitem as mordomias? Juízo senhores políticos, ou candidatos a isso! Enquanto têm tempo.
Mas foi uma agradável tarde de toiros a que neste dia de S. Bartolomeu se viveu em Baião. O cartel assim o prometia. Está de parabéns o Luís Pires, antigo cabo dos Amadores de Coimbra, Grupo de Forcados que ali também actuavam, que montou uma corrida com todos os ingredientes para agradar. Cartel tão agradável e apelativo, que motivou a deslocação do Porto, de um Grupo de Aficionados do Norte, que já tinham marcado presença também em Tomar. Corrida à Portuguesa, isto é, só com cavaleiros, actuaram, Marcos Bastinhas, Miguel Moura, e a cavaleira praticante, Soraia Costa, que lidaram toiros de duas ganadarias, S. Martinho, o (1º. e o 5º), e de António Valente, os (2º., 3º. E 4º), com as pegas a cargo dois Grupos de Forcados, os Amadores de Coruche, e de Coimbra, capitaneados por José Pedro Tomás e Pedro da Silva.
Com Marcos Bastinhas em duas actuações a cumprir o que os toiros de duas distintas procedências deixavam, mas com comportamento semelhante, brindou a concorrência com entrega, cravou ferragem com preparação e variada, não faltando o ‘par a duas mãos’ e, se mais não foi possível, agradou e saiu agradado com o carinho que premiou a sua passagem por esta praça que seu querido pai tantas vezes empolgou.
A actuação de Miguel Moura, que lidou também toiros das duas ganadarias presentes, não foi de molde a animar. Cumpriu no primeiro que lhe coube em sorte, atacando, tomando a iniciativa, com ferros antecedidos de ladeios, que resultam muito bem se o diâmetro da arena for de grandes dimensões, e o toiro tiver entrega, que neste caso serviu para rememorar lides com a marca Moura. Na lide do último da tarde, por razões que a Razão não entende, foi de menos a menos, sem garra, a cumprir, com um desentendimento que contabilizou umas quantas batidas nos quartos traseiros dos cavalos.
Aqui não foi confirmou o ditado de ‘não há 5º. mau’. Foi o terceiro da ordem. O único da tarde destinado à cavaleira praticante Soraia Costa. E Soraia mostrou, e demonstrou, porque está cada vez mais no top da arte de lidar toiros a cavalo. Desenvolvendo uma lide em crescendo, soube entender o desafio que tinha pela frente, da casa António Valente, adequando o andamento, os terrenos e as sortes, numa lide que teve dois bons compridos, e seis ferros curtos, a merecer bem ter sido a triunfadora desta agradável tarde de toiros de Agosto em Baião. Uma nota mais para a forma como cada vez conduz melhor os seus cavalos, que denotam serem companheiros de muito trabalho de casa, e merecerem cuidados de apuro e atenção dos tratadores.
Nas pegas, o 1º. da ordem, foi pegado à segunda tentativa por Luís Carvalho, dos Amadores de Coruche, que também pegaram o 4º. ao primeiro intento, por Tiago Gonçalves. Aos Amadores de Coimbra coube pegarem o 2º. Da ordem, por Edgar Graciano, à primeira, e o 5º. Também à primeira, por André Macedo, um jovem do Norte, de Barcelos. Gesto simpático, o do Grupo de Coruche, que convidou o de Coimbra para, num misto, participarem na pega do 3º. da tarde, pega só concretizada, a sesgo à quarta tentativa, pelo jovem Eduardo Pereira.
Conduziu esta tarde de toiros, com acerto, serenidade e muita atenção, a delegada do IGAC, Sandra Strech, que teve no dr. Carlos Santos o responsável pela parte veterinária.
Texto e fotos: José Andrade