Póvoa de Varzim 11/08/2018 - Corrida de Homenagem aos Emigrantes - Sim, lágrimas… mas de raiva, por terem sido enganados.
Póvoa de Varzim 11/08/2018 - Corrida de Homenagem aos Emigrantes
Sim, lágrimas… mas de raiva, por terem sido enganados.
Não foram poucos os aficionados poveiros que ontem testemunhamos com lágrimas nos olhos. Lágrimas de revolta, por se sentirem traídos, por se sentirem enganados. Aquelas frases inscritas nas t-shirts que o Movimento a favor da Festa dos Toiros na Póvoa de Varzim criou, eram muito mais que um grito de revolta, sinal de luta, incompreensão. Eram o Ala-riba, grito de ânimo, característico dos poveiros, quando era preciso juntar forças contra a adversidade. E aquela esquisita e insólita proposta e decisão dos orgaos autárquicos de tornar o concelho ‘espaço animalista’, além de contra-natura e estapafúrdia, é uma rasteira na personalidade dos poveiros, gente com honra e amante da Cultura e tradição. Numa terra que tem um enorme grupo de caçadores, amantes da cinegética, criadores de cães, escolas de equitação, com vários clubes de tiro, e um equipamento moderno a ele dedicado, onde decorrem campeonatos mundiais, com esta traiçoeira decisão, vêm a sua liberdade de gosto posta em causa.- Hoje são as tradicionais touradas, amanhã serão as provas de galgos, os torneios de tiro, talvez a pesca desportiva, os peixes também são gente e, quiçá, o Festival de Internacional de Música, que este ano completou o seu quadragésimo aniversario, e as classicista, «Correntes d’Escrita’. Com esta estúpida decisão, os políticos caseiros, honra seja dada ao CDS/PP, escancararam a porta ao seu descrédito e ignorância. Daí não admirar as lágrimas de raiva que testemunhamos.
E, se o brinde emocionado e sentido do cabo do grupo de Forcados Amadores de Coruche, “que não deixem que um presidente que elegeram vos tire o que gostam, que é vosso”, traduziu um sentimento que esteve ali presente, foi também um toque a rebate, um gesto de solidariedade, um abraço de ânimo. Na verdade, os gostos não são decisões que se imponham, e o património cultural propriedade para moeda de troca no jogo dos votos.
Mas vamos ao resumo da função.
Casa praticamente cheia, cerca de quatro mil entradas.
Abriu praça o cavaleiro Luís Rouxinol. Deixou os compridos da ordem de forma regular, e a série de curtos de boa nota, com reuniões cingidas, já que o Santos Silva tinha pata e não desarmava com facilidade, arrancando de toda e qualquer parte. Terminou deixando um palmito e o habitual e sempre muito requerido par de bandarilhas.
A Sónia Matias tocou o segundo da ordem, que saiu solto dos curros, o que levou a que a mesma fosse surpreendida e tivesse sofrido um forte derrote, felizmente sem consequências. Com a ferragem comprida algo descaída, e dado que o toiro foi a menos. Ficando reservado e paradoxe, deixou curtos de boa nota, com destaque o quarto da ordem, um ferro cravado ao estribo, numa reunião algo comprometida.
A Filipe Gonçalves, tal como a Sónia Matias, surpreendido com saída inabitual do astado, com muita pata e impulsivo, teve de resolver a papeleta sem se comprometer. Após deixar os compridos, mudou para os curtos, baseados em sortes onde a batida ao pitón contrário foi pedra de toque de resultados nem sempre os melhores, apesar de segundo e terceiro deixarem o público em delírio. Terminou com um ferro de violino e um palmito em terrenos cambiados, com o publico a exigir ‘mais um’ e o director muito sensatamente a não consentir.
Manuel Telles Bastos, que abriu a segunda parte da noite, cavaleiro de escola clássica, honrando a dinastia da Torrinha, teve uma lide por sortes frontais, com ferros cravados ao estribo e de alto abaixo, frente a um toiro com problemas de visão, complicado por isso mesmo. De destaque o segundo curto da ordem, um ferro bem cravado ao estribo, que procurou salvar a honra do convento, com descrição.
Marcos Bastinhas, brindou emocionado, mas não teve em sorte o toiro que desse para brilhar. Com dois compridos algo traseiros, a pontaria não melhorou nos curtos. Como o oponente se adiantava às montadas, e era saltador nato, saltou a trincheira e ensaiou uma repetição, curtos acabaram por merecer boa nota.
Fechou a noite Rouxinol Júnior. Com um toiro que apertou bastante, o cavaleiro acabou desenvolvendo uma lide que transmitiu emoção, deixando as bancadas ao rubro. Bancadas que souberam agradecer a entrega do jovem cavaleiro, que cravou os segundo e terceiro curtos de nota mais, bem como no último palmito que deixou em sorte de violino, depois de um primeiro palmito algo aliviado.
Noite bastante dura e difícil para a forcadagem que teve nos Santos Silva toiros com pata e a chegarem às pegas com muita força e pouca vontade de se deixarem pegar, muito menos consentir em servir de transportadores de homens.
Pelo Grupo do Montijo, comandados por Ricardo Figueiredo, pegaram, Isidoro Cirne à 3ª., Rúben Pratas ao 4º. intento e José Pedro Suíças, a 6º. e a sesgo.
Pelo Grupo de Coruche, comandados por José Tomás, foram caras, João Prates ao 1º. Intento, aliás a única pega da noite ao primeiro intento, em pega que teve um derrote muito violento, António Tomás à 5ª. e José Macedo Tomás, a sesgo, à 4ª. tentativa.
Corrida dirigida por Francisco Calado, com serenidade e muita competência, que teve como assessor veterinário o Dr. Carlos Santos.
A Volta à praça de todos os intervenientes, pouco usual por estas bandas, e com o público que não arredou pé, empolgado a aplaudir, foi também um forte sinal enviado, numa noite, que apesar de Agosto,em que nem o vento, incomodo, fez arrefecer a aficion poveira.
Texto de José Andrade