Barreira de Sombra - Temporada de 2016 - 16ª. Crónica – 03/Outubro/2016
Diz o poeta, e confirma o conhecimento e experiência, ‘a palavra é uma arma’. E que arma!
A palavra, certa ou errada, é uma arma poderosa. Capaz de ser manipulada por insensatos, facilmente manobrável, de municiação e aquisição simples, natural, a palavra, até na falta dela, é perigosa. Se o ‘silêncio é de ouro’, uma vez dita, escrita, disparada, a palavra mata. Sendo a palavra uma coisa, neste caso uma arma que se consegue sem grande esforço, quando não usada com precaução, com os cuidados devidos, pode ser até letal.
Pela palavra se pode morrer, ser morto, ferido de gravidade, ou vegetar. Claro que é com palavras que os homens se entendem, relacionam, estabelecem contactos. Homens e mulheres, que isto hoje de igualdade de sexos, é politicamente relevante saber conjugar bichos, bichas e nem uma coisa nem outra, antes pelo contrário.
Mas que raio de coisa se passou, dirão os que nos leêm, que leva a que num espaço dedicado à Festa dos Toiros, se divague sobre a boa, ou má, utilização das palavras?!
Nesta Crónica, o sentido do uso da palavra como meio de transmitir um acontecimento, uma opinião, é de indignação.
Os que gostam, acompanham a Festa dos Toiros, aficionados ou não, sabem, reconhecem, que, quer na escrita, quer na oralidade, aqueles que ousam transmitir a outrem, ou a outros, quer através de crónica, relato escrito ou falado, o fazem com elegância. E isto também é válido quando se usa a voz como suporte a imagens, transmitindo o que se passa, ou passou, numa corrida , ou sobre a vida envolvente no mundo dos toiros. A linguagem na Festa dos Toiros, arma-se do que de melhor existe no vocabulário, no dicionário. A elegância no mundo dos toiros, não se circunscreve só aos trajes e arranjos dos intervenientes, homens e animais. Exige-o a Tradição, impoem-no a Cultura, é comportamento natural na fidalguia. Lidar toiros, é tudo o que atrás referi, a que se somam coragem, valentia, arte e sofrimento. Sofrimento fisico, mas sobretudo, sofrimento moral, intimo, de respeito e gratidão. Quando se enfrenta um toiro, joga-se a vida. E quando está em jogo a vida de seres humanos, é coisa que devia de preocupar responsavelmente quem, por dever de oficio, ou encantamento lúdico, escreve, ou descreve o que viu, ou vê, testemunha.
Daí que, confesso que estou, fiquei, indignado, para não dizer outra coisa menos elegante, ao ler num dos portais espanhóis que com assiduidade navego, o Mundotoro, este naco de prosa que a seguir reproduzo, sem tradução: La final del Camino hacia Las Ventas comenzó con la anécdota de ver al sobresaliente haciendo su particular paseíllo.
A “… anécdota de ver al sobresaliente haciendo su particular paseíllo”, no dizer do escriva de serviço, como mais adiante escreve, é porque o dito cujo sobressalente, cumprindo uma promessa antiga, iniciou o ‘paseíllo’ de joelhos. De ‘rodillas’, que horror! Ousar iniciar umas cortesias, me Las Ventas, de joelhos, ainda que só uns metros, é uma afronta, denuncia o escriba.
Será que este escriva, este pedaço de asneira, este pedante, não conseguiu entender o que ia na alma deste ‘sobresaliente’? Na sua pesporrência de ‘sumidade em touradas’, não compreendeu a coragem, a generosidade humana do ‘sobresaliente’, cumprindo uma promessa, agradecendo a oportunidade de pisar em traje de luces, uma arena que é uma miragem na recusa como figura que tudo fez para por ali caminhar, pisar?
Ou a ‘anédocta’ em castelhano quer dizer coisa diferente de como a entendemos por cá? Por certo existe palavra muito mais bonita para brindar este momento e o gesto!
Triste mundo touro!
Por hoje é tudo.
Do Norte com um abraço
José Andrade