Como sempre, e respeitando o nosso lema de que «só falamos do que vemos», iremos abordar o que consideramos terem sido os destaques da temporada 2016 do “Barreira de Sombra”.
Os nossos destaques não podem ser, nem mais nem menos, aqueles que foram titulares das nossas crónicas. E como referimos na introdução, o grande destaque foi o toureio a pé e, em particular, o que teve lugar no Campo Pequeno e que continua a dar que falar no panorama taurino nacional e internacional.
Juan José Padilla
Escolhemos o matador de toiros de Jerez para iniciar os nossos destaques pelo facto de ter aberto por duas vezes numa temporada a Porta Grande do Campo Pequeno. Aqui ficam excertos das crónicas dessas duas corridas:
“Lisboa, 14.07.16 - PADILLA DÁ 5 VOLTAS À ARENA, PÚBLICO DE PÉ E SAÍDA EM OMBROS PELA PORTA GRANDE
Goste-se ou não… seja um toureio mais virado para o grande público que para o aficionado mais exigente… seja pela simpatia que irradia… pela forma como chega ao público. Goste-se ou não, Juan José Padilla tem uma conexão fantástica com o público, toureia bem e triunfa. E Lisboa não foi exceção numa noite de entrega total como é seu apanágio e que não deixa ninguém indiferente. Goste-se ou não, o público pôs-se de pé várias vezes e para aplaudir quem? Padilla, está claro. O toureio a pé venceu mais uma batalha nesta noite de 14 de Julho em Lisboa.
Juan José Padilla recebeu o seu primeiro com largas cambiadas de joelhos, seguidas de boas verónicas rematadas com meia e não foi muito feliz no tércio de bandarilhas. Mas com a muleta, o arrojo e decisão que o marcam como toureiro, levaram a um bom início com toureio de joelhos em terra, séries pelo lado direito e uns quantos naturais de boa nota, para terminar “montado” no toiro em toureio de cercanias, metido entre os pitóns e com os habituais desplantes.
No que foi sexto da ordem, de melhor nota, repetiu a dose de capote incluindo chicuelinas e uma serpentina de remate. O seu bandarilheiro cravou um par e como o público exigia, deixou 3 bons pares de bandarilhas. A faena de muleta teve intensidade, de novo de joelhos em terra e no centro da arena, para prosseguir com bons derechazos e naturais, alguns deles de muita classe. No final da muleta o habitual toureio mais próximo dos pitóns e que agrada imenso a uma grande faixa de público e que, de pé, se fartou de aplaudir. No final deu 3 voltas a que somaram as 2 dadas no seu primeiro e que lhe permitiram sair
em ombros no final pela Porta Grande.”
“Lisboa, 29.09.16 - APOTEOSE DE PADILLA NO CAMPO PEQUENO: 5 VOLTAS Á ARENA E SEGUNDA SAÍDA EM OMBROS
A praça estava de pé aplaudindo Juan José padilla após a lide do quinto da noite. Três voltas ao ruedo, uma delas na companhia do ganadeiro Manuel Veiga. O público não se cansava de ovacionar o toureiro de Jerez que, pela segunda vez consecutiva nesta temporada viria a sair em ombros pela Porta Grande da praça lisboeta. Uma grande faena a um bom toiro ao qual fez sobressair as suas melhores qualidades onde se pode ver Padilla num nível muito bom com a muleta por ambos os pitóns e depois de ter cravado 3 grandes pares de bandarilhas e de se ter luzido de capote. Foi um reencontro idílico com a afición lisboeta e de Portugal, em prol da festa de toiros.
No seu primeiro Juan José Padilla havia dado duas voltas á arena depois de ter estado decidido com o capote em 3 largas cambiadas de joelhos, de ter cravado 3 aplaudidos pares de bandarilhas (2 de violino) e uma curta mas boa faena.”
Morante De La Puebla
“Lisboa, 30.06.16 - QUE GRANDE NOITE DE MORANTE EM LISBOA: 30 DE JUNHO, UMA DATA PARA A HISTÓRIA
Faltam, quanto a mim, adjectivos para qualificar as duas enormes lides de Morante na noite de 30 de Junho e que ficará para os anais da nacional tauromaquia como mais um triunfo enorme e inequívoco do toureio a pé. Arte, cadência, temple, arte pura, toureio puro, triunfo sério de um génio do toureio que dá pelo nome de Morante da la Puebla.
E se criadores de moda, de perfumes de raras essências e fragâncias únicas, os criadores de vinhos de mais rara e fina qualidade têm um material de base minimamente garantido, a verdade é que no toureio, se o toiro não é partícipe empenhado para que o êxito aconteça, essa arte efémera, de momento e vivências únicas não pode acontecer. Mas em Lisboa estava Morante e fez Arte!
E de novo abriu o frasco daquelas essências a que apenas os poucos eleitos têm acesso para derramar gotas sobre o albero lisbonense e, de novo, colocar o público em alvoroço com as mais extraordinárias e cadenciadas verónicas, de mãos baixas, mandando uma barbaridade e rematando com outra meia que fez muitra gente levantar-se dos assentos. Que dizer da faena de muleta? As paixões que desata, os sentimentos que desperta esse toureio de queixo bem metido no peito, mãos baixas, pés bem assentes no chão, nos muletazos por baixo, nos trincheirazos, nos passes do desprezo, nos remates de peito que pareciam não ter fim, nos derechazos enormes, profundos… Foi Arte, foi Morante, foi Morarte!”
Finito de Córdoba
“Lisboa, 27.02.16 - FINITO DE CÓRDOBA BORDOU O TOUREIO COM EXCELENTE NOVILHO DE
PAULO CAETANO
O festival taurino que abriu na tarde de hoje a temporada de 2016 no Campo Pequeno, que comemora 10 anos sobre a data da sua reinauguração, teve em Finito de Córdoba o grande triunfador após uma excelente e artisticamente bela e profunda faena de muleta. Um entendimento perfeito das condições de lide do excelente novilho de Paulo Caetano.
De capote Finito esteve muito bem nas verónicas de cartel de toiros e depois de ter iniciado a faena de muleta com passes junto à trincheira rematados com um soberbo passe de trincheira, desenhou uma faena de muleta onde a profundidade, a suavidade, a classe e a estética foram notas dominantes, fazendo soar olés e aplausos fortes. Momentos por ambos os pitóns que ficarão para a memória e que as imagens recolhidas também ajudarão a perpetuar. Uma faena “cumbre” de Finito de Córdoba.”
“Lisboa, 29.09.16 - Finito de Córdoba teve duas prestações de interesse para o aficionado. Bem com o capote em ambos os toiros (algumas verónicas foram de cartel de toiros), desenhou alguns dos melhores derechazos e naturais da noite, com impacto, templados e profundos ao primeiro da noite. No seu segundo voltou a luzir-se de capote e com a muleta teve bons detalhes e muletazos preciosos por ambos os pitons.”
Juan Del Álamo
“Lisboa, 14.07.16 - Juan del Álamo recebeu o terceiro da noite com uma larga afarolada de joelhos, verónicas e chicuelinas e teve uma interessante faena de muleta, metendo o toiro na flanela e com alguns bons muletazos pelos 2 lados. O toiro veio a menos, ficando curto, e o toureiro justificou a sua presença com garra a sacar-lhe os passes. No que encerrou praça e onde lanceou de capote apenas a provar investidas, conseguiu uma boa faena de muleta. Conseguiu dar a volta ao toiro que era distraído e saía solto para tábuas, levando bem para os médios, mudando terrenos e sacando boas séries de muletazos, deixando a muleta na cara do toiro para o impedir de se desligar. Bons momentos que foram aplaudidos com força pelo público e que agradou sobremaneira aos aficionados.”
Manuel Dias Gomes
“Mourão, 31.01.16 - Manuel Dias Gomes teve momentos verdadeiramente extraordinários com o capote com belas verónicas flectindo o joelho e rematando com meia de muito boa nota. Por baixo iniciou a faena de muleta, passes com mando e temple pelo lado direito, bem ligados. Mérito maior ao dar distâncias bem largas ao citar
para o primeiro passe, trazer a investida bem metida na muleta, aguentar e ligar como o fez em duas vezes pelo lado direito. Os naturais tiveram classe, largos e profundos, rematando a sua actuação com mais passes pelo lado direito, com muito gosto e agradando profundamente aos aficionados. Um bom cartão de apresentação com vista à temporada.”
“Lisboa, 29.09.16 - Apresentava-se em Lisboa o nóvel matador de toiros português Manuel Dias Gomes. Cumpriu no seu primeiro toiro e exibiu-se a um nível elevado no que encerrou praça e que foi premiado com volta à arena. Dias Gomes executou uma faena muito sentida (com sentimento), com muitos muletazos de grande expressividade e qualidade, os quais foram aplaudidos pelo público em muitos momentos, sendo premiado com duas voltas à arena, ganadeiro incluído.”
António João Ferreira
“Vila Franca, 02.10.16 - O terceiro toiro foi destinado ao toureio a pé e muito bem recebido por António João Ferreira de capote com verónicas bem desenhadas e um quite por cingidas chicuelinas. A faena de muleta foi de poderio, aguentando bem as enraças e encastadas investidas do toiro em três tandas de derechazos e outra de naturais, com a muleta sempre bem colocada. A faena manteve o elevado nível durante quase todo o tempo e no final houve umas quantas manoletinas antes de simular a estocada.
O último da corrida também mostrou raça e foi recebido por verónicas e um quite por gaoneras. No que diz respeito à faena de muleta, o toiro exigia que a mesma estivesse bem colocada pois tinha o defeito de derrotar por alto sempre que a muleta estava ao alcance. Houve momentos de muito interesse com muletazos muito bem desenhados, em especial una derechazos que foram largos e profundos.”Juan Leal
JUAN LEAL
ARTE E TEMPLE NO TRIUNFO DA TARDE COM DUAS VOLTAS À ARENA
“Sobral M. Agraço, 25.04.16 - Recebido o quinto da tarde por verónicas de muita classe, de mãos baixas e um bonito e sempre vistoso quite por “lopecinas”. E a faena de muleta foi daquelas para verdadeiros aficionados tal a sua plasticidade, verdade nos muletazos, largos e profundos, com temple e aproveitando a bondade das investidas do eral, permitindo passes de enorme qualidade e sabor, de perfumadas essências, dominando por completo e fazendo com que o público também se rendesse à magia dos voos da muleta de Juan Leal que brindara ao presidente da Câmara Municipal de Sobral de Monte Agraço. Momentos “cumbre” de uma tarde para recordar.”
David Fandila El Fandi
“Moita, 15.09.16 - Mas a noite foi de El Fandi em especial pelo que realizou frente ao excelente segundo toiro. Um toiro sério, com classe, nobreza e suavidade nas investidas e que foi justamente aplaudido na recolha e motivou a chamada do ganadeiro para volta á arena. Fandi recebeu o toiro com uma largada cambiada de joelhos, seguida de boas verónicas. Após um tércio de bandarilhas bem preenchido e com um excelente segundo par de poder a poder, a faena de muleta teve enorme qualidade, foi variada na forma e execução dos passes pelos dois pitóns, mandando e templando como se exigia. Houve profundidade e alguns muletazos foram largos, enormes na sua expressão, aproveitando ao máximo as boas condições do toiro. Uma faena que parecia não ter fim porque o toiro respondia sempre que lhe colocava a muleta por diante.”