O dinheiro envolvido na realização das touradas à corda, na ilha Terceira, nos Açores, corresponde a 2,47% do Produto Interno Bruto (PIB) da região e a 11,4% do PIB da ilha, segundo um estudo do economista Domingos Borges.
"De acordo com a estimativa mais recente, a totalidade das touradas à corda em 2015 foi de 226 e corresponderam a 2,47% do total do PIB da região", salientou, em declarações à agência Lusa.
A nova época de touradas à corda na ilha Terceira arranca no domingo e estende-se até 15 de outubro, sendo habitual que nesse período de tempo se realizem entre 230 e 250 touradas todos os anos.
Nas touradas à corda, os touros correm nas ruas, amarrados por uma corda, num percurso delimitado, enquanto a população assiste nas varandas ou no caminho.
Estes espetáculos tauromáquicos não são pagos pelo público, mas têm um forte peso na economia da ilha, como comprova o estudo de Domingos Borges, que aponta para valores na ordem dos 91,3 milhões de euros, em 2015.
O economista contabilizou os custos diretos das touradas à corda, como o pagamento das touradas aos ganadeiros e as licenças para a sua realização, mas também os custos indiretos, como a manutenção das moradias que se situam no percurso onde passa a tourada, a deslocação da população para assistir às manifestações ou a venda de DVD e recordações.
Outro dos custos indiretos prende-se com a preparação para a tourada à corda, que envolve a apresentação de uma mesa com comida e bebida, para oferecer a amigos e familiares, e que é conhecida na ilha como quinto touro (já que correm quatro touros nas ruas e no final os amigos e familiares são convidados a ir à mesa).
Natural da ilha Terceira, onde se desloca com frequência no verão, Domingos Borges considera que as touradas à corda têm potencial turístico, desde que seja explicado aos turistas o conceito de 'taurinidade'.
"Não é dada qualquer informação aos turistas que chegam à Terceira acerca do que é a tourada à corda e da história que a envolve", salientou.
Para o economista, o conceito de 'taurinidade' é mais amplo do que o espetáculo tauromáquico, como comprova o estudo que elaborou, mas se não for explicado os turistas ficam confusos.
"Há casos anedóticos de pessoas que são convidadas para entrar nas casas e para ir à mesa e depois ao sair perguntam se têm de pagar alguma coisa", adiantou.
Para Arnaldo Ourique, da Associação de Mordomos das Festas Tradicionais da Ilha Terceira, a tourada à corda ainda é vista como um "parente pobre", porque apesar de se realizarem cerca de 250 espetáculos em cinco meses e meio, em todas as freguesias da ilha, não há apoios públicos para esta manifestação.
A Associação de Mordomos defendeu há cerca de um ano a elevação da tourada à corda a Património da Humanidade da UNESCO, mas, segundo Arnaldo Ourique, o processo é "complexo".
"Se tivéssemos o apoio do Governo Regional já podíamos estar a trabalhar com a UNESCO em Portugal. Não nos querem ajudar, gostam de entreter com coisas mais simples, com as quais todas as pessoas concordam", criticou.
Segundo Arnaldo Ourique, a associação está atualmente a fazer uma lista "exaustiva" do património da tourada à corda em cada freguesia da ilha Terceira, com o intuito de a integrar no inventário do património municipal, regional e nacional.
"Independentemente de se gostar ou não das touradas à corda, a cultura existe. Não temos de julgar a cultura de um povo", frisou.
Informa: Prótoiro