Como sou aficionado, lá me plantei frente ao televisor para não perder o anunciado arranque da temporada. A Feira de Olivença, seguindo as insistências dos mais proclamados conhecedores do mundillo português, se não fosse acompanhado com fé e penitência, podia vir pecado. E agora que um moço novilheiro iria debutar com picadores, a coisa até prometia.
Passe a ironia com que uns tantos pensam caçar mais um tansos, como aficionado, reservei um pouco do meu tempo, não só para poder ver os miúdos que iriam fazer o passeio em Olivença, onde o ‘nosso’ Juanito iria mostrar figura, como, através daquilo que na tela poderia registar, tentar adivinhar, por comparação com o que durante o defeso li e vi, qual a matéria-prima que nos poderia ser oferecida, pelo menos nas arenas espanholas.
Quanto aos novilhos, com pesos entre os 420 e 480 quilos, com trapio, compostos de carnes, e na generalidade a cumprirem, registavam como anos de nascimento, 2012 e 2013. Novilhos lá, grandiosos toiros cá. Feras de fazer tremer algumas figuras do toureio a cavalo, já que a pé, infelizmente, temos poucos artistas e muito mal apoiados e acarinhados.
Já aqui disse que me parece um crime, obrigarem a que novilheiros, moços que muitas vezes só conseguem uma ou duas actuações por ano, corram riscos desnecessários, enfrentando rezes com tanto peso, volume e idade. Dar oportunidades destas, não é ajudar. Podem classificarem como quiserem, ajudar alguém assim, é um erro que sai caro. Uma questão de tempo.
Mas, apesar dos muitos quilos, e do volume dos novilhos, gostei do que vi na novilhada de abertura, na sexta-feira. Os novilhos de El Freixo, cumpriram, deixando-se lidar ao som de muita música, coisa que animou o ambiente e os actuantes, disfarçando o frio, o vento, e a chuva, não esmorecendo a entrega.
Fria, estava também a manhã de sábado, embora na primeira parte o vento não fosse preocupação.
Preocupação e desencanto, foram os dois novilhos da ganadaria de Talavante que couberam em sorte ao Juanito. Dois intratáveis e (in)lidáveis montes de carne.
Juanito bem arriscou, quer no capote, onde mostrou que tem maneiras no lidar, valentia e saber, que na muleta. Mas sacar água de um poço seco, só mesmo por milagre. Ficou desiludido o novilheiro português, ficaram desiludidos os espanhóis, que aplaudiram o esforço e as ganas que mostrou.
Mais uma vez, cumpriu-se o ditado:- corrida de expectação… corrida de desilusão!
As laranjas de Olivença, mais uma vez foram amargas para os portugueses… mas nem por isso mais doces para os novilheiros espanhóis, que tiveram mais sorte no sorteio e conseguiram cumprir melhor no trasteio dos enganos.
José Andrade