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O toureio a cavalo está presente em mais de 90% dos espectáculos presenciados em 2015 pela nossa equipa e registaram-se alguns momentos que merecem ser recordados nesta nossa análise. Houve mais competição, com os mais novos a romperem em força, casos de João Moura Jr, Moura Caetano, Marcos Bastinhas, João Ribeiro Telles, só para dar alguns exemplos, e com estes toureiros a imporem-se claramente.
Começamos com o festival de Março em Santarém, onde assistimos a um bom triunfo de Marcos Bastinhas frente a um bravo toiro de Núncio.
Com efeito, o toiro saído em terceiro lugar, com ferro e divisa de Branco Núncio, teve imensa qualidade nas suas investidas, codicioso, arrancando-se de todos os lados desde que provocado, com alegria, a carregar depois dos ferros. Foi bravo e com raça e com ele se entendeu bem Marcos Bastinhas, com dois bons ferros compridos e um terceiro curto de excelente nota pela forma como entrou nos terrenos do toiro. Uma lide muito promissora em arranque de temporada.
João Moura Jr, na abertura da temporada lisboeta a 9 de Abril, mostrou firme vontade de se afirmar e encerrou com chave de ouro uma noite que até aí era algo fria:
João Moura Jr foi, sem margem para dúvidas, o grande triunfador da noite, nomeadamente pela forma como se entregou nas séries de curtos, não deixando contudo de estar bem na brega e na ferragem comprida. Em ambos os toiros, os de melhores condições da ganadaria de Pinto Barreiros, soube aproveitar a nobreza das investidas, colocando-se muitas vezes de largo para provocar as investidas e encurtando distâncias cravar bons ferros. Por três vezes em cada toiro fez o público levantar-se das bancadas e tributar-lhe fortes ovações o que atesta a qualidade das duas lides.
Em Vila Franca de Xira, a 10 de Maio, Duarte Pinto teve uma actuação de grande nível frente a um toiro de Veiga Teixeira:
Duarte Pinto teve uma grande actuação frente ao terceiro da ordem, iniciada com dois compridos de largo em tiras bem desenhadas, e uma série de cinco curtos em sortes muito bem executadas, aproveitando ao máximo as investidas do toiro e cravando com acerto.O público tributou-lhe fortes ovações.
Em termos de conjunto, quase brilhante, a corrida de 14 de Maio em Lisboa com os Telles a darem uma grande noite frente a bons toiros de Murteira Grave:
A corrida da Dinastia Telles fica marcada pelo regresso do toureio à portuguesa à catedral mundial do toureio a cavalo, pelos triunfos dos toureiros e do ganadeiro, num espectáculo que teve momentos extraordinários para aqueles que gostam do toureio de caras, a entrar nos terrenos dos toiros, a fazer vibrar o público nas bancadas e onde os toiros também foram, em grande parte. Cúmplices ideais para o bom toureio executado e que motivaram a justa chamada à arena do ganadeiro Joaquim Grave após a lide do quinto exemplar.
As sortes à tira, ou as de gaiola; os ferros de caras, a entrar nos terrenos do toiro, sem concessões, um toureio puro e duro como há muito se não via. As preparações e remates de muitas das sortes… Tudo conjugado com doses de bravura, nobreza, codícia, da generalidade dos toiros (o segundo destoou um pouco dos restantes), e o resultado só podia ser brilhante.
Na Moita, a 24 de Maio, novo triunfo de Marcos Bastinhas na corrida comemorativa do 40º aniversário dos Forcados do Aposento da Moita:
Marcos Bastinhas foi o triunfador maior da tarde, com uma lide onde, na ferragem curta, fez aquecer ainda mais o público nas bancadas. Marcos cravou bem os dois compridos em sortes à tira bem executadas mas foi na ferragem curta que subiu a fasquia para um nível muito elevado, com sortes frontais e a atacar o toiro ao piton contrário que lhe valeram fortes ovações e o estatuto de triunfador. Foram momentos empolgantes nomeadamente nos três primeiros curtos em que pisou terrenos de muito compromisso, rematando com um par de bandarilhas.
Marcos Bastinhas que voltaria a triunfar, uma semana depois, e desta feita em Azambuja, a 31 de Maio, com uma boa primeira lide, premiada como a melhor da tarde:
Marcos Bastinhas esteve em plano de destaque frente ao seu primeiro que foi de boa nota. Recebeu bem e cravou dois compridos à tira. Com uma brega muito criteriosa, com muito sentido de lide, aproveitou bem a codícia do toiro e deixou 3 curtos de muito boa execução, com sortes bem desenhadas e cravando a preceito. No final, a cereja no topo do bolo foi o par de bandarilhas muito bem cravado e que lhe valeu o prémio de melhor lide.
Em Santarém, a 6 de Junho, destaque para Vítor Ribeiro na corrida comemorativa dos 100 anos do G.F.A.Santarém.
Em sexto lugar saiu um toiro de 530 kilos, castanho, que teve boas investidas muito bem aproveitadas por Vítor Ribeiro para assinar uma bela exibição nesta corrida. O seu segundo comprido foi muito bem executado. Com entrada ao pitón contrário deixou o seu primeiro curto de muito boa nota, assim como cravaria mais dois de muita classe e emoção, sob fortes aplausos.
E de novo Santarém, apenas 4 dias mais tarde, a 10 de Junho, triunfou, e com que classe, Duarte Pinto.
A segunda parte da corrida abriu com a lide de Duarte Pinto, todo um compêndio de toureio clássico, de verdade, procurando dar vantagens ao bom toiro que teve por diante e que, pela importância que lhe deu, o fez ir a mais durante a lide. Esteve bem com os compridos mas foi nos curtos que, francamente, impressionou. Deu distâncias, colocou-se de largo, avançou de forma pausada para os terrenos do toiro e cravou os ferros. Na fase final, mais em curto, provocou o toiro em dois ferros de muita exposição e que fizeram vibrar o público.
João Moura Caetano, no Montijo a 27 de Junho, obteve o prémio para a melhor lide depois de uma segunda actuação de grande nível.
Mas seria frente ao quarto da ordem, de Vinhas, um toiro que foi de mais a menos, que Moura Caetano teve o momento da noite, para recordar, um ferro em que deu primazia de investida ao toiro, que saiu com ímpeto para o cavalo, e aguentou até aos limites marcando na justa medida a sorte ao pitón contrário e cravando um fabuloso compridos, dos melhores que vi nos últimos tempos. A lide foi bem construída, baseada na boa brega e na colocação do toiro nos melhores terrenos para deixar três bons ferros e sagrar-se triunfador.
No dia 1 de Agosto, em Abiúl, assistimos ao triunfo de Filipe Gonçalves, frente a um toiro da ganadaria Passanha.
Mas foi no quinto da tarde que assinou o triunfo maior numa lide bem medida na série de curtos, com boa brega, boa eleição dos terrenos e bons ferros que fizeram levantar o público das bancadas. O quinto foi de muito boa execução entrando bem de frente tal como seria o par de bandarilhas a duas mãos com o toiro nos médios, rematando com um ferro em sorte de violino.
Ser profeta na sua própria terra não é fácil e Rui Salvador conseguiu esse triunfo em Tomar a 7 de Agosto frente a um bom toiro de Ascensão Vaz.
(…)Mas o momento ou os momentos altos da corrida estavam guardados para a lide do quinto da ordem, que cumpriu bem, codicioso, e frente ao qual esteve a um grande nível na cravagem em sortes frontais, por vezes pisando terrenos de maior compromisso, mais em curto ou mais de largo consoante os terrenos. Uma grande actuação de Rui Salvador.
Em Caldas da Rainha, a 15 de Agosto, duas lides soberbas de António Telles, daquelas para o registo histórico.
As actuações de António Telles foram de enorme mérito, com classe, marcando a diferença pela forma como esteve na brega, a procurar constantemente os melhores terrenos, a encontrar as distâncias certas, a abordar os cites a deixar-se ver, provocando os toiros e deixando grandes ferros em que pisou os terrenos dos toiros para reuniões justas e ser aplaudido com força pelo público. Se no que abriu praça esteve francamente bem, quiçá no segundo tenho sido mais expressivo e isso sentiu-se na forma como lidou e cravou e como o público reagiu e se entregou à verdade do seu toureio frontal, sem concessões. Parabéns António pois foi um enorme gosto ter assistido a estes momentos de verdadeiro toureio a cavalo.
Luís Rouxinol venceu o troféu em disputa para melhor cavaleiro em Arruda dos Vinhos no dia 16 de Agosto, com um conjunto de duas interessantes lides.
O segundo da noite foi mansote e com ele esteve bem Luís Rouxinol numa lide em que deixou boa ferragem, com destaque para os três curtos, rematando com um de palmo a sesgo. No quinto da noite, o melhor de Pinto Barreiros, Rouxinol assinou uma boa lide, mexendo bem no toiro e a cravar bons ferros curtos, o segundo deles excelente pela forma como aguentou em tábuas a viagem do toiro. Foi um justo vencedor do troféu para o melhor cavaleiro em praça.
Na Feira da Moita do Ribatejo, e na corrida que mais interesse despertava em termos de toureio a cavalo, a de dia 17, os destaques foram a grande lição de toureio a cavalo no primeiro da noite e a cargo desse grande senhor que é Paulo Caetano, e a lide de Diego Ventura ao toiro que encerrou praça (sobrero).
A lide de Paulo Caetano ao bom primeiro toiro da corrida foi todo um compêndio de bem tourear a toda a sela. Souplesse nas ajudas às montadas, sem brusquidão, com serenidade, a levar o toiro empapado na garupa das montadas fosse nas preparações ou nos remates das sortes. Ferragem deixada com classe, de forma artística, procurando as entradas ao piton contrário. Remates primorosos que também fizeram com que o público reagisse, e bem, com fortes ovações.
Diego Ventura (…) lidou em último lugar o sobrero, cumpridor e de muita presença, e aí foi vê-lo sacar de todos os seus recursos lidadores e das suas montadas em momentos extraordinários de equitação e de preparação ou remate das sortes, sem que o toiro apertasse um pouco para dar emoção. Foram momentos em que alguns dos ferros fizeram o público levantar-se das bancadas e exigir mais ferros, deixados dois palmitos em sortes de violino, no registo de um grande triunfo.