Barreira de Sombra - Temporada de 2015 - 26ª. Crónica – 07/Outubro/2015
Através da televisão, voltei a ter oportunidade de assistir, acompanhar, até em diferido, a Feira de Outono, que no passado domingo, terminou em Madrid.
Louvo a oportunidade que este conjunto de espectáculos proporciona a uns tantos novilheiros, e também à oportunidade que dá a uns tantos ganadeiros que, só deste modo, podem mostrar os seus produtos na Meca do toureio. Mas se louvo a oportunidade dada aos novos, aos mais novos, e se registo a possibilidade de alguns criadores de gado bravo poderem fazer constar nos seus portfólios uma passagem por Madrid, também mais uma vez, quero manifestar a minha indignação, pela falta de cuidado, para não dizer uma outra coisa mais dura e violenta, sobre o peso e a idade, daquilo que eles chamam novilhos, hastados, todos com quatro anos feitos, e alguns, até muito próximos dos cinco. Não, não é admissível que se ponha a vida, o sonho, a qualidade dos jovens novilheiros em jogo, dando-lhes uma oportunidade, que pode ser única e fatal, aliás como já mais de uma vez sucedeu. Haja respeito pela vida humana. E também respeito pela festa dos toiros.
Parece não existirem dúvidas que a arte de lidar toiros é um exercício temerário, arriscado, onde a vida é uma constante posta em causa. Lidar toiros é uma arte, e não um ritual, que tenha como clímax o sacrifício da vida humana!
Podem as circunstâncias obrigarem a que o artista, matador ou cavaleiro, como tal, e como ser humano, homem ou mulher, seja colocado em posição de não poder recusar o jogo, eximir-se ao confronto. E esse confronto, tendo a arena como palco e o toiro como oponente, pode ter como motivação incontornável, o dinheiro, a paixão, o gosto, ou a vergonha toureira. E, podendo ser cada uma das razões atrás invocadas, fruto destas circunstâncias, individual, em parte, ou todas juntas, isso não o transforma o acto de enfrentar um toiro, em sacrifício obrigatório da vida humana. E, se o artista, com a sua temeridade, valentia, coragem, joga a vida, isso, só por si, merece todo o respeito. Goste-se ou desgoste-se, concorde-se ou não.
Quem vai a uma praça de toiros, sabe que vai estar perante um espectáculo onde o drama está sempre presente. Onde a temeridade não pode, nem deve ser confundida com irresponsabilidade. Onde a valentia, coragem e ousadia, são para serem servidas em doses certas, nos momentos certos, como os condimentos que nos cozinhados fazem sobressair o essencial do prato a degustar. A ida aos toiros é uma festa, não um velório. Ainda que nos velórios modernos, muitos só compareçam para se mostrarem, e façam das cerimónias fúnebres uma passerelle de vaidades.
Como somos dos que gostam da vida, aqui fica o nosso registo de uma Feira de Outono que rondou em muitos momentos a colhida fatal, a morte. Que o diga Paco Ureña, a quem tocou lidar o último toiro.
Por hoje é tudo.
Do Norte com um abraço,
José Andrade