A TEMPORADA 2015 EM ANÁLISE - OS GRANDES MOMENTOS DA TEMPORADA: TOUREIO A PÉ
Êxitos existiram vários, alguns deles com fortes repercussões mas, creio, nenhum terá atingido a dimensão da saída em ombros em Lisboa de El Juli, ou de Juan José Padilla na Moita, numa temporada onde o toureio a pé voltou a marcar uma forte presença, consubstanciada também nas actuações de Pedrito de Portugal (Vila Franca, Moita e Caldas), de Juan del Álamo em Lisboa, António João Ferreira em Caldas da Rainha no 15 de Agosto, Manuel Dias Gomes em Sobral de Monte Agraço em Setembro. Motivos mais do que suficientes para eleger o toureio a pé como o grande triunfador da temporada.
Comecemos então pelo Campo Pequeno e pelo que escrevemos a 18 de Junho sobre a histórica noite de El Juli:
Faltam os adjectivos para classificar a passagem de Julian López “El Juli” pela arena da capital portuguesa: único, irrepetível, inenarrável, sublime, portentosa… Tudo o que se queira adjectivar sobre as três lições de toureio do matador madrileno! Uma actuação histórica, com a praça cheia, de pé, em ovações fortíssimas, culminando no terceiro toiro com 3 clamorosas voltas ao ruedo, três, público a romper as mãos de tanto aplaudir e os gritos de “Torero, Torero, Torero” a ecoarem como ainda não haviam ecoado após a reinauguração da Praça de Toiros do Campo Pequeno, mostrando que, afinal, quando as figuras vêm a Lisboa e com ganas de triunfo, o público reage e sabe distinguir o verdadeiro toureio, comprando bilhetes e enchendo a praça. A saída em ombros, após as 6 voltas à arena (1 no primeiro, 2 no segundo e 3 no terceiro) mais não foi que o corolário lógico de um idílio iniciado logo nos primeiros lances da capote ao bom segundo toiro da noite. Obrigado El Juli por tudo quanto nos fizeste sentir e pelo que nos emocionaste na histórica noite de 18 de Junho de 2015!!!
Juan José Padilla apresentou-se na Moita em mano-a-mano com Pedrito de Portugal; foi a 15 de Setembro e… saiu em ombros!
Grande ambiente para a primeira corrida da feira 2015 da Moita do Ribatejo, com o público a preencher mais de metade da lotação da “Daniel do Nascimento” mesmo com a chuva persistente que marcou presença até finais da lide do quarto da ordem, num ambiente extraordinário e onde houve motivos para celebrar e festejar o êxito dos matadores, com Padilla à cabeça e a sair em ombros pela porta grande depois de ambos os matadores terem sido passeados em ombros na derradeira volta á arena. Porque é que só Padilla saiu em ombros??? Mistério… Não! Prerrogativas da Sociedade Moitense de Tauromaquia.
A saída em ombros de Juan José Padilla é inquestionável e qualquer apreciação que se queira fazer a este espectáculo não poderá basear-se neste facto, quando os matadores se transcenderam na lide dos seis toiros de Falé Filipe, com presença suficiente para o tipo de espectáculo, mas aos quais faltou romper, alguns deles mansos e complicados, excepção feita ao segundo e sexto que foram um pouco mais potáveis nas suas investidas. Um curro que em nada facilitou a vida aos toureiros e que acabou por valorizar tudo aquilo que os matadores fizeram e o público soube aplaudir no momento certo.
Juan José Padilla é de outra galáxia. Não é um toureiro de arte, é certo, mas a sua entrega, a forma como lidou os três toiros que lhe tocaram por sorteio, a relação que estabeleceu com o público e com o aficionado, marcaram a tarde onde não faltaram dois sustos, o primeiro com uma voltareta e um puntazo na virilha esquerda e o segundo ao iniciar a faena de muleta ao sexto.
Pedrito de Portugal é outro dos protagonistas da temporada 2015 e a sua primeira faena na tarde de 27 de Setembro em Caldas da Rainha é memorável.
Pedrito de Portugal teve, finalmente, um toiro em que pode exprimir toda a classe e profundidade do seu toureio. Foi o seu primeiro, de muita nobreza e suavidade, de Torre de Onofre. Lanceou à verónica, mãos baixas, mandando nas investidas, e rematou com meia e serpentina. No toureio de muleta, cadenciado, com mando e temple, repousado, esteve extraordinário na forma como desenhou os passes, com profundidade, com sabor. Tandas que fizeram soar olés, que nos fizeram voltar atrás no tempo. Faena das que fazem aficionados e que fez com que muitos se levantassem nas bancadas para o aplaudir com calor e intensidade. Intensidade que havia tido a faena e que permitiu essa comunhão com os aficionados. E quando assim é, o triunfo é bem mais forte e importante.
Juan del Álamo, triunfador das principais feiras taurinas de Espanha, veio ao Campo Pequeno, e triunfou, na corrida de homenagem a José Mestre Batista.
Duas boas actuações somou Juan del Álamo e desde que recebeu os toiros de capote os ensinou a investir e qual o caminho a seguir. Bem de capote por verónicas rematadas com duas meias no primeiro, lanceou apenas a fixar o segundo. A faena de muleta ao quarto da noite é de muito bom gosto, belos e profundos os muletazos, temple e sabor, tudo bem ligado e com classe. No que encerrou praça voltou a mostrar o seu valor em séries bem ligadas, com profundidade e a aproveitar ao máximo o toiro para sacar o máximo partido deixando muito bom ambiente.
António João Ferreira não teve muitas oportunidades de tourear em 2015 mas aproveitou, e de que maneira, um bom toiro de David Ribeiro Telles no 15 de Agosto em Caldas da Rainha.
A António João Ferreira saiu um bom primeiro toiro, com o qual de capte apenas lanceou a fixar. Repartiu o tércio de bandarilhas com seu irmão João Ferreira que tirou a alternativa de bandarilheiro o qual deixou dois bons pares enquanto Antóbio encerrou o tércio com outro bom par. A faena de muleta teve qualidade e interesse, ante um toiro sério, com bons momentos pelo lado direito, com o toureiro a gosto e os passes a saírem com qualidade. Houve uns quantos naturais mas a faena teve interesse pelo lado direito.
Após tomar a alternativa em França, com uma corrida toureada nos Açores, Manuel Dias Gomes toureou em Sobral de Monte Agraço no dia 20 de Setembro e triunfou forte.
A praça de toiros de Sobral torna-se um talismã para Manuel Dias Gomes pois mais uma vez triunfou, forte diga-se em abono da verdade, no regresso do toureio a pé à corrida forte das Festas e Feira de Verão, realizada numa tarde de sol e calor já que na semana anterior a chuva havia levado ao seu adiamento.
Manuel Dias Gomes esteve excelente no manejo do capote no seu primeiro toiro, recebido por verónicas bem desenhadas a que se seguiram umas quantas chicuelinas e um quite por “lopecinas”. A faena de muleta foi de excelente qualidade, muito templada, com variedade e bom gosto, e muletazos largos e profundos, daqueles que fazer brotar os olés das gargantas. Houve derechazos e naturais que deixaram marca, pela forma como foram executados e, acima de tudo pelo perfeito acoplamento entre toureiro e toiro. Foram momentos para mais tarde recordar. E a sua segunda actuação, ainda que sem conseguir o tão elevado nível da primeira, também teve momentos para recordar, como os bons naturais em que enganchou bem as investidas e as conduziu de forma bem larga, muito templada. Uma boa actuação que os aficionados premiaram com fortes ovações.
No capítulo dos novilheiros e praticantes, o destaque vai para João Martins (Escola de Toureio José Falcão) do qual registamos algumas boas actuações, nomeadamente em Toucinhos, e na feira da Moita destacou-se o local Sérgio Gonçalves.