Na noite de 23 de julho do corrente ano de 2015, na Praça de Toiros do Campo Pequeno, tive a satisfação de assistir à actuação de um GRUPO DE FORCADOS, que me fez lembrar saudosos tempos. Apresentação, compostura, valentia, decisão, coesão e oportunismo dos ajudas. Conhecimento e correção no cite e no receber o toiro. Estoicismo quando foi necessário, deram a conhecer um GRUPO DE FORCADOS. Bem estruturado, bem orientado, a sua qualidade foi reconhecida pelo público que esgotou os lugares da praça, e o aplaudiu com expansivo entusiasmo. No fim do espectáculo, saída pela PORTA GRANDE --porta principal da Praça, por onde saem os que tiveram relevante comportamento na arena.
Os toiros eram de David Ribeiro Telles, pesados - dois com perto de 600 quilos e quatro a ultrapassar esse peso. Todavia, sem problemas de maior, embora não fossem muito colaborantes. Pablo Hermoso, cujo valor e entrega cativou a aficion portuguesa, apesar do seu empenho pouco conseguiu fazer. João Moura jr, no seu segundo ainda teve ocasião de mostrar as suas qualidades. O mesmo aconteceu a João Ribeiro Telles, que brilhou no seu segundo.Todos ouviram fartos aplausos. A assistência compreendeu e premiou o esforço feito para agradar. Mas...um dos motivos que valorizava a corrida, era a homenagem feita ao GRUPO DE FORCADOS AMADORES DE SANTARÉM, pelos seus CEM ANOS!! de existência. E houve pormenores que valorizaram a cerimónia. Em primeiro lugar, com todos os intervenientes no espectáculo presentes, um minuto de silêncio a recordar o GRANDE FORCADO que foi Luís Freire Gameiro, figura de grande prestígio popular entre os rapazes da jaqueta de ramagens, que se realmente há outra vida, lá esteve, orgulhoso com o êxito do seu Grupo e a lembrar corridas em que foi ele, a contribuir para os mesmos.
A entrega das INSÍGNIAS DA ORDEM DE MÉRITO atribuídas ao GRUPO é que não foi feita com a solenidade adequada. O espírito de aventura que o pegar toiros contem, a valentia e estoicismo necessário para o fazer, é comparável à dos nossos antepassados, que embarcavam em frágeis naus em busca de novas terras. O FORCADO tem por isso a simpatia dos portugueses e causa admiração a quem nos visita. Por esta razão pareceu mal tanto a mim, como aos milhares que assistiam ao espetáculo, inclusive a estrangeiros, não ter sido o Senhor Presidente da República, a entregar pessoalmente a distinção recebida pelo G.F.A.de Santarém. A Drª Paula Mattamouros Resende, atual administradora do carismático tauródromo, em atenção ao prestígio do G.F.A.Santarem e à data que se festejava, mandou descerrar, num dos corredores da praça, em local de grande visibilidade, uma placa alusiva ao GRUPO homenageado. O que acabei de escrever é somente a introdução do que realmente me empolgou.
Começou com ver Diogo Sepúlveda, o Cabo, à antiga, lembrando tempos remotos, fazer a primeira pega. Experiente, sabedor, valente e com bons braços, fez excelente pega. À cara do segundo foi um Forcado com apelido que transmite valentia e aficion, João Grave. Um tanto displicente na primeira tentativa foi desfeiteado. "À antiga" (perdoem a repetição) com o mesmo querer, voltou a tentar a pega e, resultou. Seguiu-se Luís Sepúlveda, desconheço se irmão ou parente do Cabo. Mais uma pega a ajudar ao sucesso - perfeita. Lourenço Ribeiro foi o quarto e, mais uma bonita pega. Mas...a cereja no cimo do bolo estava para surgir. Os dois últimos toiros. Foram eles que proporcionaram que se visse em toda a sua plenitude, o extraordinário momento que atravessa o centenário GRUPO.
Ao quinto foi Antonio Goes. Apelido bem conhecido no meio da forcadagem. Pega extraordinária. De raça. Depois de citar e receber bem o toiro, com braços de ferro e alma de guerreiro, aguentou os esforços que o toiro fazia para se livrar daquele opressivo abraço. Espectadores entusiasmados proporcionaram-lhe duas voltas à praça, que demorou mais devido ao tempo que perdia a devolver os lenços, carteiras e chapéus que os espectadores em delírio lhe enviavam. Mas ainda há mais. O ambiente que se vivia na praça era de euforia. Festejava-se o aniversário do mais antigo e prestigiado GRUPO DE FORCADOS e as coisas não podiam estar a correr melhor. Ao último toiro foi João de Brito e estou atrapalhado para fazer comentários ao seu desenho, pois gastei-os todos com o António Goes. Contudo, como os dois me empolgaram de igual modo e as pegas foram idênticas em valentia, correcção, força de braço e vontade, fico-me por dizer que me proporcionaram gratas recordações. OBRIGADO.
Último comentário (importante): a corrida correu assim porque, além da qualidade dos pegadores de caras, houve ajudas --eficientes, oportunas e voluntariozas - se caiam depressa se levantavam para continuar a ajudar. DELICIEI-ME! (pela extensão do texto, nota-se)
Carlos Patrício Álvares (Chaubet)