FESTIVAL EM AZAMBUJA HOMENAGEOU “CHIBANGA”, POR PAULO BEJA
Azambuja homenageou o maestro Ricardo Chibanga no passado domingo dia 27 num espectáculo sui generis onde os bandarilheiros foram figuras de cartaz e cavaleiros e novilheiros saíram nas suas quadrilhas. Nomes como Luís Rouxinol, Marcelo Mendes, Pedro Salvador e os novilheiros Luís Filipe Cochicho e João Pedro Martins deram uma mão no coadjuvar das lides e faenas. De salientar também que os novilhos toiros foram recolhidos a cavalo pelos cavaleiros amadores Simão Neves, Ricardo Lopes( que toreria em praça), Paulo Pinto e Carlos Santos
Este festival taurino com boa participação de público teve momentos de alegria, risco, emoção e toreria quanto baste para uma tarde entretida que contou com a direcção de Lourenço Luzio.
Mas o momento marcante foi no intervalo a homenagem ao matador de toiros Ricardo Chibanga. A poucos dias de completar 71 anos, já a 8 de Novembro e com quase 40 anos de alternativa que se completarão em 2014, a humildade, respeito e simpatia mantem-se inalteráveis desde que o menino do bairro moçambicano de Malafala em Lourenço Marques, veio para Portugal e apaixonou-se pela festa brava. Com a presença em praça da organização, cartel, Pousada do Campino e os presidentes das Câmaras de Azambuja e Golegã, a terra que o abraçou como filho, foi marcante a emoção das palavras e a chamada ao centro da arena para a maior das ovações da tarde. Bonito ver que ninguém esquece o nosso primeiro matador de toiros africano que somou êxitos por todo o mundo taurino mas não só, pois participou em corridas históricas na China, Indonésia e Grécia por exemplo, onde era impensável levar a festa brava. Inúmeras lembranças e palavras de louvor marcaram este festival dos bandarilheiros.
Quanto ao toureio, Josué Salvado abriu a tarde com um toureio a cavalo nervoso mas que foi crescendo quando o novilho se parou mais. Pormenores de brega e entradas aliviadas em ferros à meia volta foram a nota dominante. Valeu o mérito de se colocar a cavalo frente a um novilho que apesar de andarilho e sonsote colaborou. O seu companheiro João Ganhão veio animar as hostes com um toureio arrojado mas pouco certeiro na ferragem semeando-a pela praça. Quando afinou a pontaria pôs o público de pé com dois ferros de violino e um palmito em final apoteótico a desmontar-se em praça.
Os forcados amadores de Azambuja completaram nesse dia 46 anos de fundação e nas cortesias ouviram os parabéns pela banda local e receberam a primeira ovação do espectáculo. Fernando Coração mandou para a cara do primeiro da tarde Hugo Abreu que brindou aos bombeiros e com segurança citou para receber a dureza do novilho a vir bronco até às tábuas apesar do grupo se ter fechado a tempo. Dura intervenção e especial o labor do rabejador, grande “Fred”. Na segunda André Letra não teve braços no momento decisivo e na primeira tentativa ficou pendurado na córnea acabando por ficar debaixo do oponente. Na segunda ajudas mais em cima mas o novilho foi benevolente e parou-se na viagem deixando o André compor-se na cara.
Na segunda parte, toureio a pé para a prestação de Pedro Gonçalves, o organizador deste festival. Apanhou um novilho perigoso a adiantar-se uma barbaridade e após prova-lo de capote, o tércio de bandarilhas foi complicado propagando-lhe uma voltareta perigosa que o deixou a coxear com um forte hematoma na perna. Mesmo assim colocou o segundo par com decisão. Na muleta melhorou um pouco mais o comportamento, tardo mas a ir pelo seu caminho, foi lidado em terrenos de tábuas e pelo lado esquerdo Pedro sacou-lhe bons naturais. Pouco para o querer do nosso “Morante”
Fábio Machado esteve mandão de capote, mas também este novilho comprometeu nas bandarilhas levando só meio par. Procurando dar distancias e corrigir viagens Fábio mostrou o seu bom toureio e logrou derechazzos expressivos. A terceira tanda, mais relaxada e com o toiro a repetir fez soar olés. Largo o labor mas com grandes momentos, foi bom recordar este Ex novilheiro.
Cláudio Miguel foi uma boa surpresa logo na entrada em praça, recebendo o seu astado com dois afarolados de joelhos em terra para ligar a verónicas a baixar a mão e meia de remate com toreria. No tércio de bandarilhas, onde já é um senhor quis compartilhar com seu mestre Pedro Gonçalves e Mário Figueiredo, que mesmo à civil saltou para a praça. Três grandes pares: Cláudio e Mário a quarteio e Pedro num câmbio em tábuas pois a perna já lhe doía muito. Grande momento de bandarilhas. O novilho denotava pouca força e a faêna teve pormenores mas mais aliviada para o astado não perder as mãos.
O azambujense Paulo Sérgio voltou a agarrar nos trastes por uma tarde e mostrou as boas qualidades que já possuía aquando do novilheiro da pousada do Campino. Capote poderoso num exemplar que investia com tudo e na faêna bons pormenores pelo lado direito embora com Paulo a andar um pouco saltitão entre passes. Faltou mandar mais um pouco para corrigir a brusquidão do astado que não foi pera doce.
A grande surpresa foi a prestação de Joaquim Oliveira. Figura grande e entroncada mas com uma plástica lembrando Maestro Ordoñez logo na forna de abrir o capote e desenhar as verónicas, mandonas, com cadência, quase em câmara lenta e ligando-as ao quite por chicuelinas. Que bom saludo capotero. Bandarilheiro eficiente repartiu o tércio com Cláudio Miguel e com a muleta voltou a mostrar o bom saber e sabor. O jogo de muñeca levando o novilho todo embebido na flanela, os câmbios de mão, sempre com suavidade, sem tarrascadas, buscando o temple, a distância e a ligação adequadas. Muito interessante esta faêna onde os naturais a descair a mão foram soberbos. Pena a voltareta sofrida, talvez por se sentir tão a gosto que se esqueceu por momentos que um toiro não tolera o descuido. Bom final neste festival dos bandarilheiros e uma data a aproveitar no calendário, já que marca também a fundação do grupo de forcados vamos a pensar para o ano com três para cavalo e três para pé afim de redondear mais o espectáculo.
Paulo Beja
Foto: Fernando Clemente