Em Setembro as Festas e Feira de Verão são a grande montra do Concelho para o exterior. O seu cortejo histórico-etnográfico é de grande riqueza mas as festas vivem, essencialmente, da Festa Brava.
Desde tempos recuados, remontando ao início do século, as esperas, entradas e largadas de toiros tiveram sempre um enorme impacto. Na década de 30 assumiram proporções enormes para a época e as “partidas” de alguns aficionados mais atrevidos foram contadas através dos tempos, de geração em geração.
Nesses anos os toiros vinham a pé, conduzidos pelos campinos com os seus jogos de cabrestos desde as Lezírias de Vila Franca e Salvaterra. No percurso entre Arruda dos Vinhos e o Sobral eram muitas vezes espantados pelo povo e, uma vez tresmalhados, os percalços sucediam-se. Imaginamos...
Foto 1 - Praça Dr. Eugénio Dias
Em tropel, em louca correria, atingiam a entrada da vila vindos do lado do antigo campo da feira, junto ao Soeirinho, passavam pelo largo (Praça Dr. Eugénio Dias) e atingiam o seu destino – a praça de toiros. Mais tarde ficariam num curral entre a Igreja Matriz e a Tasca da Tia Alice. Empoleirados nas árvores e nas varandas, muitas vezes em equilíbrio precário, os mais destemidos por vezes provavam a sua «sopa de corno».
Foto 2 – Apartando toiros no campo
No seu livro “Sobral, Nossa Terra”(1), Carlos Morais recorda essas esperas de toiros nos anos 30:
LARGADAS DE TOIROS
Eis as largadas de toiros,
luta rija que se trava:
peripécias, valentia,
o gosto da festa brava...
E este gosto era, por vezes, motivo para algumas colhidas quase sempre sem gravidade. Mais uma passagem saborosa do livro de Carlos Morais:
Entretanto, não sei bem
qual o estado em que ficastes,
quando um toiro, tão possante,
vos «afagou»... com as hastes!
Durante muitos anos, quando as estradas não eram de alcatrão como hoje, mas de macadame, era possível a entrada de toiros como a seguir Carlos Morais descreve de forma exemplar. Voltamos a citar:
Era um quadro sugestivo
de bravura e valentia
ver os toiros no Sobral,
em tropel – uma alegria...
(...)
Assim, a vila era palco
de esperas aparatosas
que se deviam, em parte
às suas ruas saibrosas.
(...)
Mas eis que surgem os campinos
- pampilho e cinta encarnada -,
conduzindo os seus cavalos
e toiros à desfilada!
Foto 3 – Condução de Toiros
Após entrarem no Sobral, como já referimos, era na curva da igreja que as coisas se complicavam.
Mesmo á esquina da Igreja,
Era belo de se ver:
Cavalos, chocas e toiros,
A toda a brida a correr!
Vivia-se intensamente a Festa Brava nesses já distantes anos 30. E durante muitos anos assim se manteve. A tradição das largadas de toiros e das corridas na praça mantém-se bem viva nos dias de hoje.
Aliás, sobre a tradição das corridas e dos outros espectáculos taurinos, existe na poesia do Sr. Carlos Ribeiro uma referência muito interessante. É do seu livro “Em Louvor do Sobral” editado em 1997 que recolhemos alguns excertos que demonstram esta grande ligação à ancestral tradição de lidar e correr toiros.
LARGADA COM SARDINHADA (1989)
É sempre belo o serão,
Numa noite de Verão.
Vivendo-o me satisfaço:
Assistir a uma largada
E comer da sardinhada,
Em Sobral de Monte Agraço
(...)
Assim comendo e bebendo,
Conclusões vão tecendo
Dessa noite bem passada,
Sobre quem é o mais forte;
O que escapou, por sorte,
Ou o que levou marrada?
Mas sobre as corridas de toiros, o forcado e o toureio, não podemos deixar passar em claro os belos poemas da autoria do Sr. Carlos Ribeiro no livro já citado.
GRANDE FAENA (Fev.89)
(...)
Foi nessa praça pequena,
Mas de grandes tradições,
Frente a frente, na arena,
O toiro e o Zé Simões.
(...)
Tarde de grande faena,
É o toiro bem lidado.
Sai o diestro da arena,
Em ombros é transportado.
(...)
AO FORCADO (Maio.91)
O forcado é um valente
E também é consciente,
Sem deixar de ser vaidoso.
Arriscando a sua sorte,
Vai enfrentando a morte,
Frente ao touro poderoso.
(...)
TOUREIO (Ago.89)
Traje de luzes, cingido,
Bordado de prata e ouro,
O toureiro, aguerrido,
Leva prà frente do touro.
A sua arte é ousada
E, sempre que há corrida,
Arriscar uma cornada
Faz parte da sua vida.
(...)
Foto 4 – Maqueta da actual praça de toiros
Este ano cumpre-se o 1º Centenário das Festas e Feira de Verão e no próximo dia 15 pelas 16h, será recriada uma “entrada de toiros à antiga” pelas ruas da vila, tendo como percurso Rua Miguel Bombarda, Praça Dr. Eugénio Dias, Rua Heróis da Bélgica, Rua João Luis de Moura, Praça de Toiros, a que se seguirá a última largada de toiros das Festas, com entrada livre. Uma entrada de toiros só possível graças à colaboração desinteressada do ganadeiro Nuno Casquinha e do seu staff.
Foto 5 – Conduzindo a manada (Nuno Casquinha)
Contamos consigo em Sobral de Monte Agraço, de 7 a 15 de Setembro no 1º Centenário das Festas e Feira de Verão.