Falar, ou melhor, escrever sobre a XVII Corrida TV/Norte, um espetáculo que mereceu transmissão em directo, assinada com mais uma bem cuidada direcção de realização de um homem que gosta de televisão, e é um conhecedor aficionado de toiros, Manuel Rosa Pires, é uma tarefa digna de equilibrista. Equilíbrio entre a sensibilidade aprendida, o nosso gosto, e o das opiniões que depois recolhemos, dos que estiveram na praça de toiros, e dos que assistiram pela televisão. Dos que gostam e sabem dos que gostam, na festa. Dos que apenas gostam, como nos amores. Porque gostam.
Mas estivemos lá. Estivemos, vimos, ouvimos e... fomos depois rever no pequeno ecran, o que vimos ao vivo. E o que no pequeno ecran se viu, merece destaque e uma palavra de apreço, pelo que adiciona, neste momento, à continuidade na exigência de um maior numero de transmissões, ou não fosse a festa de touros um bem de interesse cultural, como também, pelo que este tipo de 'directos' agrega na oferta turística, e na manutenção e estreitamento nos laços dos emigrantes com o que 'é nosso'. A Póvoa de Varzim não é o centro dos 'entendidos' da festa de toiros. É apenas, e tão só, uma das cidades portuguesas, por sinal no Norte, onde se procura contribuir para a manutenção e valorização da identidade cultural nacional. Tem quem goste dos toiros, tem até gente que sabe de toiros e cavalos. Sem preconceitos. Com abertura de espírito e respeitadora de diferentes opiniões. Gostam por que gostam. Com cortesia e urbanidade, dizem do que não gostam.
Gostamos de ver uma Praça de Toiros composta de público. Gostamos de ver um mar de gente à volta da Praça de Toiros. Gostamos de ver a 'meia dúzia de inefáveis pandegos' que faziam que protestavam. Gostamos de ver um Director de Corrida, atento, discreto, sensível e eficiente, capaz de dirigir, sem impor. Parabéns Nuno Nery. Um Assistente Veterinário, Dr. Miguel Matias, conhecedor e eficaz. E gostamos de ver três quartos de casa nesta sexta-feira 26 de julho de 2013. Um dia, uma noite, onde a oferta de incontáveis, e gratuitos motivos de diversão e animação, alguns a escassos 300 metros da Praça de Toiros, em tempo onde não abundam, ou sobram Euros, é de realçar, não desprezar, e não olvidar.
O naipe de cavaleiros era de modo a agradar a todos. Joaquim Bastinhas e Luís Rouxinol, no lote dos já consagrados. Sónia Matias e Brito Paes, representavam a quadra de transição. Duarte Pinto e João Maria Branco, a juventude e a novidade. A ganadaria Passanha, pressupunha, exemplares capazes de proporcionar boas lides a cavalo, e rijas pegas. Infelizmente, os Passanhas, passe a boa vontade das declarações do ganadeiro, que não viu, ou não quis ver, o desempenho da seu curro, não foram de modo a respeitar o historial da casa, nem o espetáculo onde participava. Tirando o primeiro toiro, lidado por Joaquim Bastinhas, os restantes cinco, de aspecto apresentável, mais ou menos equilibrado, foram, ou escassos de raça, ou com complicações de lide, desnecessárias. Foram 'melões' a mais estragados. - Se os cavaleiros foram conseguindo ultrapassar as dificuldades da ausência de bravura e casta, aos forcados coube a 'fava' e o tragar o 'fel'.
Joaquim Bastinhas, tinha razão para estar feliz no final da sua actuação. Promoveu uma lide de menos a mais, entendendo o andamento dos 620 quilos do Passanha, montando cavalos ainda com pouca rodagem, numa actuação que empolga o público, e se deixa empolgar, cravando ferros, que muita gente nova, não desdenharia ter coragem e saber para fazer. Incontornável de destacar, os 3º, e 4º. Curtos, e indizível, o sempre incontornável par final. Pegou, ao segundo intento, Ricardo Castelo, cabo do G.F. de Vilafranca.
A Luís Rouxinol, coube um Passanha, tardo e com muito poucas boas intenções, suficientemente escasso de bravura, com arrancadas que tinham tanto de manso como de má intenção. Foi uma lide onde Rouxinol voltou a mostrar que não gosta de defraudar o público, e que não é impunemente que se ganham os favores do público. O 3º. E 4ª. Ferros, foram dois grandes momentos de saber e confiança de, e na montada. O júri, formado pelos seus pares, ao atribuir o prémio de melhor lide, por alguma razão o fez. - Pegou ao 2º. intento, numa pega com muito saber, alma e braço, o cabo do G.F. do Ribatejo, João Machacaz.
Sónia Matias, cada vez mais em demonstração de saber e crer, também não defraudou, nem regateou o carinho que o público lhe tributa. Se o toiro não vem à luta, aí está ela provocando e procurando a briga. Montando o Sultão, abriu a série de curtos, com um ferro a aguentar uma enormidade, num toiro que já se adiantava, onde o 5º. E o de palmo com que rematou alide, foram de registo. Pegou à 3ª. tentativa, pelo G.F. de Vilafranca, Rui Graça, que com muita dignidade, recusou dar a volta, mesmo com o público insistindo.
António Maria Brito Paes, outro jovem cavaleiro a demonstrar saber e crer, apresentou-se nesta corrida TV/Norte, disposto a mostrar porque tem subido no 'escalajon' nacional. Com uma quadra a mostrar que tem havido trabalho de casa, cuidou de lidar mostrando isso e muito mais, numa lide de sempre em crescendo, com ferros de nota excelente na preparação e execução. Faltou toiro, mas não faltou alma ao cavaleiro. E foi com alma, e uns grandes braços, que levaram a uma grande pega de Mário Gonçalves do G.F. do Ribatejo, que lhe valeu o prémio de melhor pega.
Duarte Pinto, viu o seu oponente da ordem sair com irreversíveis deficiências locomotoras, obrigando a correr o turno e lidar em substituição o 'sobrero'. Foi uma lide caracterizada por impecável desenho e execução das sortes, sempre de frente e cravando em 'su sitio'. Seguro e sem transigir, Duarte Pinto brilhou numa lide, onde as 'velhas' regras, são cuidadas e respeitadas. Pegou, pelo G.F. de Vila Franca, à 1ª. Márcio Francisco, numa pega à córnea, valente e enorme.
João Maria Branco, porfiou, empenhou-se, mas não ganhou. O Passanha não estava pelos ajustes, e a João Maria Branco, apesar da vontade, faltou aquilo que o tempo, se ele quiser aprender, lhe pode ajudar nestas circunstâncias. São destas actuações, quando com calma e ponderação depois se revêm, se podem tirar ilações e lições muito úteis. Deixou marcação para voltar à Póvoa. Pegou, pelo G.F. do Ribatejo, à 1ª. numa pega que também era digna de prémio, João Guerreiro. Nesta pega, o segundo ajuda, Raúl Jesus, caiu e partiu uma perna.
Estavam em disputa dois troféus:- 'Casa de Pessoal da RTP', para a melhor lide a cavalo. 'João Moreira de Almeida', para a melhor pega. O júri para a 'melhor lide' foi constituído pelos cavaleiros em praça, e a Vice-presidente da Casa de Pessoal, D. Clarisse Santos. Para a 'melhor pega' o júri foi constituído pela Direcção da Casa do Pessoal da RTP.
José Andrade