Um abrir e fechar de olhos… Passaram vinte e seis anos num ápice. Viveram-se muitos momentos, datas marcantes, episódios únicos, momentos de prazer inexplicáveis para aqueles que não atingem o sublime da festa brava e de todos os seus rituais, princípios e sentimentos. Se sou aficionado devo-o aos meus pais e aos meus avós. Foram os grandes responsáveis ao levarem-me desde tenra idade, a ver as corridas de toiros em Sobral, Vila Franca, Santarém (grandes feiras agrícolas e Colete Encarnado). Mais tarde, com o meu pai a fazer trabalhos de colocação de publicidade, pude acompanhar a par e passo as grandes corridas da temporada, nomeadamente Campo Pequeno, Moita, Santarém, Vila Franca de Xira,Viana do Castelo, Póvoa de Varzim, Espinho, Figueira da Foz, Nazaré, Arruda dos Vinhos, Sobral de Monte Agraço, Malveira, Cascais, Reguengos de Monsaraz, Alcácer do Sal, não deixando de assistir a muitas outras corridas em tantas e tantas praças que, por vezes, já lhes perco a conta. José Agostinho dos Santos, Manuel Jacinto, Américo Pena, Manuel Gonçalves, José Lino, entre muitos outros, foram responsáveis por muita da minha aprendizagem nos meandros da Festa Brava.
Passaram os anos e, a acompanhar estas corridas, inúmeros foram os toureiros que vi actuar e que marcaram a história da nossa tauromaquia. Permitiram-me ver os mais diversos estilos de toureio e tentar assimilá-los. Nem sempre foi fácil chegar ao entendimento do que cada artista executava mas, sempre atento aos programas de toiros da rádio e da televisão e às transmissões de corridas via RTP, lá fui colhendo ensinamentos. Na realidade, assistir a corridas onde tourearam João Núncio (apenas me lembro da corrida dos seus 50 anos de alternativa, tinha eu 9 anos), Mestre David Ribeiro Telles, José Maldonado Cortes,José Samuel Lupi, Álvaro Domecq, Manuel Vidrié, os irmãos Peralta, Manuel Conde, Alfredo Conde, José Mestre Baptista, Luis Miguel da Veiga… depois Frederico Cunha, João Moura, Manuel Jorge de Oliveira, José João Zoio, Paulo Caetano, Emídio Pinto, João Palha Ribeiro Telles… e tantos outros, tornou-se um privilégio. E no toureio a pé, Mário Coelho, José Júlio, José Falcão(em 2 vezes no ano da sua colhida fatal, tinha eu 10 anos), José Simões, Armando Soares, José Trincheira, para além dos mais novos como António de Portugal, Vítor Mendes, Rui Bento, José Luis Gonçalves, Pedrito de Portugal… sem falar dos estrangeiros Niño de la Capea, Dâmaso González, Ortega Cano, Nimeño, Julio Robles, curro Romero, Rafael de Paula, Eloy Cavazos, Paco Ojeda, Esplá, Manzanares, Espartaco, Ponce, Juli…. Gerações que fizeram as delícias dos aficionados e que tive a sorte de poder ver repetidas vezes e de desfrutar com o seu toureio.
Vinte e seis anos que já passaram e que me parecem, tantas vezes, ter sido ontem. Falo de 26 anos ligado à área da comunicação, na rádio, nos jornais, na net e até na televisão. Algo que, quando contava apenas 22 anos de idade, estava bem longe do meu pensamento e daqueles que fizeram das rádios pirata uma realidade nacional de enorme valia local e regional para todas as actividades.
Em Torres Vedras, onde me estreei nestas andanças, ainda a rádio era uma brincadeira, séria mas meio a brincar, não fora a força do Justino Moura Guedes e do Francisco Bráz, acompanhado pelo João Fernando, pelo Mário Ferreira e pelo Sousa Santos (os dois técnicos) e não teria passado de uma brincadeira de juventude. Mas houve também 3 pessoas em Torres Vedras que foram essenciais para que a vontade de fazer mais e melhor fosse adiante: João Sobreiro, António Verino e o Dr. António Raul Brito Paes. As disputas acesas entre os dois primeiros (isto no bom sentido entenda-se), e os ensinamentos colhidos em Paio Correia nos treinos do Dr. António Raul e do Pedro Franco, foram essenciais para se manter o programa e para colocarmos a tauromaquia em Torres Vedras no merecido destaque.
Sobral de Monte Agraço tem uma tradição tauromáquica bem antiga e enraizada, como o provam os inúmeros documentos e referências que reuni, ao longo dos anos e espero, um dia, vir a publicar. Alguns dos trechos desse trabalho, que entreguei à Câmara Municipal e à Tertúlia Tauromáquica Sobralense, já foram publicados no Barreira de Sombra e o conjunto de cartazes reunidos, desde há cerca de 90 anos, é impressionante pela quantidade e qualidade dos artistas que pela nossa pequena praça passaram ao longo de décadas.
Poderia contar muitas histórias vividas ao longo destes 26 anos de aventura comunicacional nos diversos meios; poderia destacara muita gente com quem partilhei muitos bons e maus momentos. Mas isso ficará para uma dia mais tarde, quiçá quando a praça de toiros de Sobral cumpra 100 anos de existência. Ah! e este ano não se esqueçam que as Festas e Feira de Verão de Sobral de Monte Agraço, que sempre tiveram uma importante vertente tauromáquica, cumprem este ano 100 anos!...