A um mês de colocar ponto final da temporada 2012 do «Barreira de Sombra», uma temporada em que acompanhámos 58 espectáculos, dos quais 11 na região a norte do Mondego, é grande a satisfação de ter participado, em conjunto com o José Andrade, e muitos amigos que estiveram nestes estúdios ou via telefone, em alguns dos grandes momentos desta temporada. E destaco, desde logo, a vitória imensa que foi para a nossa Festa Brava, a realização da corrida em Viana do Castelo, por ocasião das Festas em Honra de Nossa Senhora da Agonia, pelo empenho que teve da Protoiro e de todos os intervenientes nesse espectáculo para o fim fosse atingido.
Mas as vitórias da temporada não se ficaram por aqui e no Parlamento, na Assembleia da República, a derrota dos anti-taurinos, foi esmagadora. Lamentavelmente, o Secretário de Estado da Cultura Francisco José Viegas, que abandonou agora o barco, não foi capaz de colocar em vigor o novo Regulamento do espectáculo tauromáquico que todos anseiam conheça a luz do dia.
Vitória pela forma como a RTP transmitiu quase uma dúzia de corridas de toiros, com bons shares de audiência e com o «Arte & Emoção» a dar cartas nas audiências na RTP/2. Ou ainda para a forma como a Lusa, com o trabalho de Hugo Teixeira, acompanhou momentos marcantes da temporada portuguesa.
Neste ano, marcado pela incerteza, pela pouca disponibilidade monetária da esmagadora maioria dos portugueses, muitas das corridas a que assisti tiveram excelentes molduras humanas, que se reflectem na média estimada de mais de 2500 pessoas por espectáculo. E a diminuição do total de espectáculos em Portugal ficou a dever-se mais às chuvas de Abril e Maio do que à crise, real, que enfrentamos.
Crise que muitos dizem ser também de valores. Mas se a aposta de mantiver, alguns daqueles que despertaram o interesse do público e dos aficionados neste 2012, virão a confirmá-lo em 2013 e, quiçá, a serem os cabeça de cartaz do futuro. No «Barreira de Sombra» não se atribuem prémios aos triunfadores da temporada. Mas destacamos aqueles que nos fizeram sonhar, que nos trouxeram emoções fortes, que fizeram com que os aplausos e os olés saíssem da garganta.
Nos cavaleiros de alternativa destaco João Moura Caetano. Uma temporada de altíssimo nível e uma lide fabulosa como a que lhe vi em Azambuja, mostram que a maturidade está atingida e que 2013 poderá ser o ano do grande “boom”. Filipe Gonçalves foi outra das revelações da temporada, entrando em força e conseguindo bons triunfos. Mais um valor a ter em conta. E Duarte Pinto, autor de uma das melhores lides que vi em 2012, em Santarém, frente a um extraordinário toiro, e estando por cima, com valor e raça, fazendo-nos recuar muitos anos para nos lembrarmos de uma lide desse calibre.
Quanto aos cavaleiros consagrados, destaco uma grande actuação de João Salgueiro a 19 de Julho em Lisboa; de Rui Fernandes em Dona Maria a 3 de Março no festival de homenagem a Alfredo Conde, e a grande temporada de Luis Rouxinol, que comemorou as boas de prata de alternativa.
Quanto aos cavaleiros praticantes, uma palavra de enorme destaque para a raça, a entrega e o valor demonstrados por Salgueiro da Costa. Teve momentos arrepiantes de emoção em várias das actuações que lhe vi e se mantiver esse nível, será rapidamente catapultado aos lugares cimeiros da nossa lusa tauromaquia.
No capítulo do toureio a pé, poucas foram as corridas propícias ao êxito dos toureiros e à afluência de público. Contudo, e apesar de terem existido alguns toiros a proporcionarem faenas de relevo, elas nem sempre aconteceram. Destaco, nesta análise á temporada de 2012, a atitude, o valor e a raça, para além da arte, do novilheiro Manuel Dias Gomes, quer em Madrid, quer em Lisboa ou, ainda, em Vila Franca de Xira. Se dúvidas existissem, ele dissipou-as por completo nesta última corrida e no seu último toiro. É merecidamente um dos triunfadores da temporada de 2012. E no escalão inferior, gostei imenso da progressão demonstrada por Diogo Peseiro, da Academia do Campo Pequeno, injustamente não premiado no Campo Pequeno. A sua atitude foi a de um novilheiro em toda a acepção da palavra. E neste campo da promoção dos jovens toureiros e em especial dos aspirantes a novilheiros, destaque-se, também, a iniciativa do I Ciclo de Novilhadas das Escolas de Toureio.
Quanto aos matadores, o destaque vai para o triunfo de Luis Procuna na Moita a 15 de Setembro e de Pedrito de Portugal no dia 16 também na Moita, naquela que foi a sua única actuação em Portugal. David Mora, Ivan Fandiño e Antonio Ferrera deixaram boa nota.
No que concerne ao elemento mais genuinamente português da Festa Brava, o forcado, viveram-se momentos de imenso brilho e de algum dramatismo à mistura em várias das corridas em que estivemos presentes nesta temporada. Lamentavelmente há a registar uma lesão gravíssima de Nuno Carvalho, do Aposento da Moita. Mas das actuações destacadas, em termos de Grupo, as do Ramo Grande e de Montemor, ambas em Lisboa, mostraram todo o espírito do forcado. E em termos de pegas, a de cernelha protagonizada por João Maria e Carlos Silva dos Amadores de Vila Franca com um toiro de Canas Vigoroux em Vila Franca, pelo enorme momento que foi e pela forma como fez vibrar o público.
No capítulo ganadeiro, e dos mais de 300 toiros e novilhos que vimos lidar em 2012, houve no geral curros bem apresentados, com muita presença, com boas condições de lide, e por isso damos os parabéns aos ganadeiros. Destaco o 6º toiro da corrida de Santarém, a 3 de Junho, da ganadaria de Fernandes de Castro pela bravura, classe e disponibilidade que mostrou; um toiro de Falé Filipe, a 5 de Julho em Lisboa e os erales que esta ganadaria enviou para 10 de Setembro em Sobral de Monte Agraço; e o curro de São Torcato, pela sua qualidade, lidado a 3 de Maio em Lisboa.
Na direcção de corrida, o destaque vai para o nóvel Delegado Técnico Tauromáquico Rogério Jóia que, para a além da competência e rigor, mostrou ser um excelente aficionado e de enorme sensibilidade na condução do espectáculo. Fazem falta mais Delegados come ste critério.
Os veterinários cumpriram no geral, se bem que em raras situações – que aconteceram – não foram tão rigorosos quanto deviam em defesa dos direitos dos animais e dos espectadores.