A corrida de toiros, enquanto espectáculo público em recinto devidamente licenciado para o efeito, encontra-se regulamentada por normativa legal nomeadamente a que foi aprovada e colocada em vigor através do decreto regulamentar nº 62/91, de 29 de Novembro. Uma das questões regulamentada é a dos chamados tempos de lide. E é sobre ela que nos vamos debruçar porquanto entendemos que o abuso frequente dos tempos de lide e a incapacidade de promover alterações de comportamento, impede uma dinâmica adequada do espectáculo e prolonga-o em demasia enfastiando qualquer um.
Vejamos então o que estatui o decreto regulamentar nº 62/91, que passaremos a chamar de RET (regulamento do espectáculo tauromáquico) quanto aos tempos de lide:
“Artigo 44º - Da lide e das pegas
1 - A lide a cavalo de cada rês não deve exceder dez minutos, findo os quais será dado o primeiro aviso; dois minutos depois deste será dado o segundo aviso e um minuto depois o terceiro, ao que de imediato se seguirá a pega.
2 - As pegas de caras ou de cernelha não podem exceder cinco minutos e três tentativas, sendo dados avisos pelo director de corrida ao fim dos dois ou dos quatro minutos.
(...)
5 - Na lide a pé, a faena de muleta não deve exceder oito minutos, findo os quais será dado o primeiro aviso; dois minutos depois deste será dado o segundo aviso e um minuto depois o terceiro, indicando que vão entrar os cabrestos, a fim de recolher a rês.”
Como se pode verificar, existem tempos limite para as lides, as pegas e as faenas de muleta e cabe ao Delegado Técnico Tauromáquico (a seguir designado DTT), através do cornetim de serviço, mandar avisar os intervenientes de que o tempo se esgota. E nem sempre isto acontece, provocando uma ausência de dinâmica e de boa sequência do espectáculo, a nossa peculiar corrida à portuguesa. Mas também o RET é omisso, por exemplo, no que concerne a recolha das reses e na forma como se processará, limitando-se a referir que deve existir um jogo de cabrestos e campinos com vista à recolha das reses depois de lidadas.
Outra das situações que não está regulamentada é a das cortesias. Demoram em média 8 minutos, com os vários cavaleiros a cruzarem a arena por 4 vezes, como se fossem pontos cardeais, quando, em nome da boa dinâmica do espectáculo, poderiam fazê-lo com uma única volta à circunferência, em conjunto, saudando os espectadores e a direcção do espectáculo, retirando-se em seguida. Uns quantos minutos menos...
Depois a cerimónia de entrega do primeiro ferro seguida de cumprimentos entre todos os cavaleiros actuantes e bandarilheiros da quadrilha do primeiro. Se fará todo o sentido no primeiro ferro e primeiro toiro, deixará de o fazer nos restantes pois já todos se saudaram protocolarmente na primeira lide. E poupar-se-íam mais uns bons minutos.
As lides prolongam-se muitas vezes para além do tempo regulamentado sem que o DTT mande o cornetim executar os preceituados avisos e muitas das vezes sem capacidade para se impor a um artista que até esse momento nada fez de relevante mas insiste em mais um ferro muito depois dos tempoos. Cronometrámos lides de 17 e 18 minutos! E existem ainda as voltas após cada ferro e às vezes até após um falhanço. Se cumprissem o estipulado no RET teríamos lides com menos 3 a 5 minutos em alguns casos... O que numa corrida com 6 cavaleiros a repetirem a dose daria entre 18 e 30 minutos a menos...
Quanto às pegas, elas são muitas vezes os momentos altos da corrida. O que não quer dizer que também não hajam incumprimentos em muitas situações. O toiro, mesmo que por inoperância e incapacidade dos forcados, tem é de ser “agarrado”. Porque nesses casos, não é pegado como mandam as regras e os bons forcados defendem com excelentes intervenções. E estes têm de ser defendidos. Mas a verdade é que sempre que se ultrapassam as 3 tentativas de cara e/ou cernelhas frustradas, se está a contribuir para a ausência de sequência e de boa dinâmica do espectáculo. Por vezes são mais de 10 minutos por pega...
Na recolha dos toiros apenas se exige a presença de dois campinos e de um jogo de cabrestos. A tradição do ganadeiro enviar os seus cabrestos e os seus campinos já quase não existe. Serão raras as excepções. E em muitas situações, em que há pouca colaboração dos cabrestos ou falta de entrosamento dos campinos, os toiros demoram eternidades a ser recolhidos. Os bandarilheiros dariam aqui uma excelente ajuda, ao intervirem de imediato mal se percebesse que, de outra forma, teríamos «tourada» para mais dez minutos. E os campinos merecem todo o nosso respeito mas têm de compreender, também eles, que este é um espectáculo onde a celeridade é essencial sempre e quando não se toureia.
Feitas as contas, teriamos menos 30 a 45 minutos menos de duração nos longos 180 da maioria das corridas. Com tamanha duração não há dinâmica nem sequência que aguentem. Porque se os intervenientes no espectáculo se compenetrarem que os tempos são para cumprir e que não é por isso que escutam menos aplausos, teremos um espectáculo ritmado, com sequência, onde o dinamismo e a interacção será maior entre artistas e público. Será pedir muito que façam o esforço de cumprir estes designios?