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BARREIRA DE SOMBRA

Desde 13.06.1987 ao serviço da Festa Brava

BARREIRA DE SOMBRA

Desde 13.06.1987 ao serviço da Festa Brava

FIM DE ANO, MUDANÇA DE LINHA?

30.12.11 | António Lúcio / Barreira de Sombra

 

Estamos no final do ano de 2011. Será que, face a todos os condicionalismos criados ao longo dos anos e agora mais sentidos que nunca, significará isso uma necessária mudança de linha, de estilo, de acção? Os tempos não são de bons ventos e impõem uma necessária mudança.

 

Mudança na gestão e concepção do espectáculo. Mudança na atitude dos empresários e dos apoderados dos toureiros. Mudança na estratégia dos toureiros e dos ganadeiros. Mudança na abordagem crítica do espectáculo. Mudança no regulamento que rege o espectáculo tauromáquico.

 

A gestão do espectáculo deve, cada vez mais, estar a cargo de empresários com credibilidade e capacitados financeiramente para cumprirem os pagamentos na íntegra a todos os intervenientes. Não pode nem deve haver atropelos, antes um planeamento cuidado de contratação de artistas e de datas de espectáculos, potenciando um elevado número de espectadores em cada espectáculo face à qualidade do elenco apresentado. A própria concepção e duração do espectáculo deve ser repensada: tempos de lide cumpridos com rigor por todos os intervenientes, ausência de intervalos desnecessários, recolha das reses preferencialmente pelos bandarilheiros, por exemplo. Poupar-se-iam minutos importantes na duração total do espectáculo.

 

Mudança na atitude dos empresários e dos apoderados dos toureiros. Apesar do mercado ser curto, tal como o País, é inadmissível que se programem espectáculos à mesma hora ou no mesmo dia em localidades que distam entre si pouco mais de 20 ou 30 kilómetros. Provoca-se a dispersão do público com resultados negativos para todos os intervenientes. E os senhores apoderados, se procurarem menos e melhores corridas para os seus toureiros, deixando o circuito das portáteis para os artistas mais novos ou em vias de se afirmarem, conseguirão melhores resultados económicos e artísticos. Tourear em qualquer lado e a qualquer preço não prestigia a carreira de um artista. Ainda nas adjudicações das praças a concurso, o preço a pagar pelo aluguer deve ser o mais baixo possível, de acordo com a situação actual da conjuntura económica e devem respeitar-se aqueles que nessas praças têm vindo a desenvolver um trabalho sério e de promoção da Festa Brava.

 

Os toureiros têm, também, de repensar a sua estratégia. Ponto final ao comodismo de lidar apenas reses de algumas ganadarias que não trazem emoção alguma ao espectáculo e mais fazem parecer um treino de montadas que uma corrida, ainda para mais, com o público a pagar bem caro o seu bilhete. A estratégia dos toureiros deverá passar, também, por não aceitarem tourear em qualquer lado e a qualquer preço, fazendo valer, isso sim, a sua categoria e a sua respeitabilidade e preferência pelo grande público. Cada corrida tem de ser um acontecimento. Os senhores ganadeiros, com todas as dificuldades que sabemos existirem e que encarecem brutalmente a criação do toiro bravo, têm de apresentar toiros rematados, de 4 anos, com trapio, com mobilidade e que mostrem raça, casta e bravura para colocarem os artistas «en su sitio» e manter o público nas bancadas sempre pendente do que vai acontecer.

 

Falo também na necessidade de mudanças na abordagem crítica do espectáculo. Temos de ser mais rigorosos, respeitosamente, nas nossas análises ao que se passa na arena, ao que faz ou não cada artista em função do toiro que tem por diante, apontando pormenores negativos se os houver sem medo de represálias, venham elas de onde vierem. E nada melhor que não depender económica ou financeiramente de empresas e de toureiros que compram espaços de publicidade, etc, e depois se acham no direito de serem sempre considerados em grande plano. O seu a seu dono, o triunfo a quem triunfa. Mas para isso também faz falta que alguns dos que escrevem sobre toiros tenham mais e melhores conhecimentos daquilo sobre o qual escrevem. Não é por acaso que alguns são respeitados nos seus muitos anos de carreira e com outros se passa o que infelizmente se passa.

 

Finalmente, a necessária e urgente mudança do regulamento do espectáculo tauromáquico. É imperioso que seja colocado em vigor e que seja cumprido na íntegra. Que implique maior seriedade no espectáculo e que os delegados técnicos tauromáquicos tenham directrizes impostas para cumprir escrupulosamente e capacidade para as impor. Só assim se poderá aspirar a uma maior importância do nosso espectáculo tauromáquico.

2012 poderá ser a mudança na linha, a mudança de agulha que a Festa Brava em Portugal precisa? A dúvida permanece mas faço votos que seja um ano diferente e para melhor.

 

foto: sorisomail.com

ABONOS PARA 2012 NO CAMPO PEQUENO: 20% DE DESCONTO ATÉ AO FINAL DESTE ANO

28.12.11 | António Lúcio / Barreira de Sombra

 

Faltam apenas três dias para terminar o prazo para os actuais abonados do Campo Pequeno poderem renovar os seus abonos para 2012, com 20 por cento de desconto.

 

O prazo termina sexta-feira, dia 30, data até à qual os actuais abonados podem usufruir do desconto de 20 por cento e pagar em quatro fases (25 por cento em cada fase), de acordo com o seguinte plano: 30 de Dezembro de 2011, 31 de Janeiro, 29 de Fevereiro e 31 de Março de 2012.

Por seu turno, os novos abonados poderão subscrever o abono de 2012 também até 30 de Dezembro mas, para beneficiarem do desconto de 20 por cento, terão de o pagar de uma só vez

 

A temporada de 2012 constará de 14 corridas de toiros e uma novilhada e decorrerá ente Abril e Outubro.

 

Salvo algum ajustamento determinado por motivos imprevistos, as datas para o Abono de 2012 serão: 12 de Abril (Inauguração da temporada), 3 e 17 de Maio, 7 de Junho, 5, 12, 19 e 26 de Julho, 2, 9, 16 (novilhada), 23 e 30 de Agosto, 7 de Setembro e 4 de Outubro (Encerramento do Abono, com a tradicional corrida de Gala à Antiga Portuguesa).

 

A empresa mantém o “Cativo Júnior” nos mesmos moldes da temporada de 2011, ou seja, no valor de 100 Euros, sendo oferta o bilhete para a novilhada.

 

                 Tabela de Preços do Abono de 2012

               (14 corridas de toiros com 20% de desconto e a oferta de 1 novilhada)

 

Filas

Sector 1 e 2

Sector 3 e 7

Sector 4,5 6

Barreira

816,00

760,00

704,00

Contra-barreira

760,00

704,00

648,00

1ª C

704,00

648,00

592,00

2ª D

598,00

542,00

436,00

3ª E

542,00

492,00

380,00

4ª F

542,00

492,00

380,00

5ª G

486,00

436,00

352,00

6ª H

486,00

436,00

352,00

7ª I

436,00

408,00

324,00

8ª J

436,00

408,00

324,00

9ª K

408,00

380,00

296,00

10ª L

408,00

380,00

296,00

11ª M

380,00

352,00

268,00

12ª N

380,00

352,00

268,00

 

 

 

 

13ª O

324,00

296,00

240,00

14ª P

324,00

296,00

240,00

 

 

 

 

 

Camarotes

 

 

 

 4 Lugares

 8 Lugares

 

1ª ordem

1520,00

3040,00

 

2ª ordem

1084,00

2168,00

 

 

 

 

 

Cativo Júnior

100,00

+ Kit Júnior

 

 

ALBERTO CONDE IRÁ FAZER TEMPORADA EM PORTUGAL EM 2012

26.12.11 | António Lúcio / Barreira de Sombra

 

Alberto Conde, que nos últimos anos tem estado a viver e a tourear quase só na Califónia (veio a Portugal este ano tourear apenas uma corrida) irá em 2012 fazer temporada no seu país não deixando de ir algumas vezes aos Estados Unidos onde goza de grande cartel junto da Aficion local.

Alberto Conde, sobrinho do saudoso Manuel Conde, e filho também do antigo cavaleiro Alfredo Conde, irá ser gerido pela Casa Inácio Jr.

Um toureiro de dinastia pronto para dar cartas em 2012!

ISABEL RAMOS REGRESSA ÀS ARENAS JÁ NO INICIO DE 2012

26.12.11 | António Lúcio / Barreira de Sombra

 

Isabel Ramos, depois de um ano afastada das corridas devido aos estudos universitários, regressará em força às arenas e já no ínicio do próximo ano.

Está muito ilusionada em voltar e também com novas montadas que irá estrear.

Isabel Ramos continuará a ser gerida pela Casa Inácio Jr., de seu irmão, e promete ar fresco para 2012. Isabel e toda a sua equipa deseja a todos umas Boas Festas.

É TEMPO DE FAMÍLIA E DE MEDITAÇÃO

23.12.11 | António Lúcio / Barreira de Sombra

 

 

Este será provavelmente o nosso último post de 2011. Aproveitamos para retribuir a todos quantos nos enviaram votos de Boas Festas e de um Feliz Ano de 2012.

DIVAGANDO SOBRE FORCADOS – CHAUBET

21.12.11 | António Lúcio / Barreira de Sombra

Nota introdutória

 

Data de 2005 este texto sobre a figura do Forcado, escrito pelo meu querido amigo Carlos Patrício Álvares "Chaubet" para o site Toiros&Cavalos. É uma homenagem que pretendo fazer não apenas ao "Chaubet", ou aos forcados, mas acima de tudo para recordar o site que fundámos com o saudoso Eduardo Leonardo. Aqui vos deixo mais um texto brilhante do nosso "Chaubet".

 

 

"Há mais de meio século que me interesso pelo Touro e pelo Forcado. Vinte e dois anos vestindo a jaqueta das ramagens, depois como observador atento e estudioso. Estas duas situações habilitam-me a poder fazer um historial do Forcado, o seu nascimento, consagração e desenvolvimento. Devido à confusão existente quanto à sua origem e à apropriação indevida que as classes sociais mais elevadas pretendem fazer do espírito do Forcado, parece-me oportuno esta análise.

 

O meu interesse por esta figura tão portuguesa, vem de achar ser o Forcado, dentro da Tauromaquia Nacional, o mais fidedigno representante da alma lusitana, do arrojo e espírito de aventura que nos levou mar dentro, a descobrir novos mundos para o mundo. O Touro representa o gigante Adamastor, que os nossos navegadores tiveram que enfrentar, quando das descobertas.Só um Povo como o Português, seria capaz de produzir um fenómeno como o Forcado. Digo Povo, porque foi realmente do Povo que saíu o gosto pelo “pegar touros à unha” como se passou a dizer.

 

Quando o homem começou a capturar o Touro em vez de simplesmente o matar, construiu cercados onde o colocar. Contudo, o Touro é um animal nómada e por tal, muitas vezes, invadia pastos alheios, gerando com isso atritos e discussões. Para evitar esses conflitos resolveu-se então, arranjar forma de identificar o touro, dar a conhecer a sua procedência. Cada possuidor de touros, passou a utilizar uma barra de ferro, colocando numa das suas extremidades, uma sigla que o identificava. Cerca de um ano após o nascimento de uma rês, posta em brasa a parte do ferro que possuía a sigla, gravava-se esta nos quartos traseiros do animal. A esta operação de ferrar o gado, ainda hoje utilizada, passou a chamar-se “ferra”.

 

Ora para se aplicar o ferro, era necessário derrubar a rês que, embora ainda jovem, já representava perigo e dava muito trabalho. Constituía mesmo um espectáculo, presenciado por muita gente, o labor dos intervenientes  nesta operação. Os que se especializaram nesta tarefa, porque agarravam os cornos dos bichos, tomaram o nome de “mancornadores”. Simultaneamente trabalhadores agrícolas, utilizavam para algumas das funções que lhes estavam atribuídas, uma forquilha com três aguçados mas frágeis dentes.

 

Porém, quando começaram com o manuseamento do gado bravo, para não o magoar inutilmente e para lhes dar mais consistência, substituíram os três dentes da forquilha por uma estrutura metálica, parecida com uma ferradura, com as extremidades arredondadas, que se fixava numa espécie de cajado. A este instrumento, que lhes servia para manejar o gado, deram o nome de forcado.

 

Ora os fidalgos, quando começaram a exibir-se em espectáculos públicos, certamente por esses homens terem um contacto maior com o gado bravo, levavam-nos para os recintos onde iam actuar. Designados como lacaios, faziam parte das grandes comitivas que os cavaleiros fidalgos sempre apresentavam. Iam munidos dos seus forcados, prontos a acudir a qualquer percalço que pudesse vir a acontecer.

 

Ao lado dos seus senhores, entusiasmados pelos aplausos da multidão, os mancornadores/lacaios, lembraram-se de pedir autorização aos seus amos, para fazerem na praça, o que faziam quando das ferras e que tão apreciado era. Os patrões, não prevendo o êxito que tal feito poderia ter, autorizaram a pretensão. Mas rapidamente se arrependeram…

 

O sucesso dos seus empregados foi imediato, provando que, bem lá no fundo, todos os portugueses se revêem no Forcado, têm no subconsciente, um pouco da sua poesia, audácia e espírito de aventura. O público passou a não prescindir da sua actuação, clamando muitas vezes pelos homens do forcado, incitando-os “À unha!…À unha!”. Perante isto, os Senhores resolveram proibir os seus subordinados de actuar – “se o fizeres vais para a rua”. Disseram. Mas já era tarde.

 

Encorajados pelo apoio do público, os mancornadores/lacaios, decidiram continuar autonomamente. O dinheiro que deixavam de ganhar por serem despedidos, certamente seria compensado pelo que a assistência lhes desse. Criou-se assim, o chamado “Forcado Profissional”.

 

Deste modo, confiados somente na generosidade falível dos espectadores, passaram a enfrentar touros com idade, sem qualidade, corridos e até ao reinado da Rainha D.Maria II, em pontas. Já não falando na circunstância de que, para pegar, raramente haver grupo constituído com antecedência. Os grupos formavam-se ad-hoc, muitas vezes indo buscar às tabernas, os homens necessários para os formarem.

 

Inicialmente, o número de elementos que que alinhavam para a pega era aleatório. Consoante o perigo que considerassem o touro apresentar, assim se escolhia o número de pegadores necessários.

 

Se nos lembrarmos, como diz uma quadra que todos que andam nestas lides conhecem, que para pegar um toiro “é preciso ter confiança na malta”, vemos que para pegar toiros nestas condições, tendo que levar farnel de casa e viajar a pé ou em terceira classe, para conseguir poupar algum dinheiro, dormir ao relento ou onde calhasse, é preciso ser muito valente, ter muito gosto pelo pegar toiros. Não era certamente pelo que ganhavam, que o faziam.

 

Por isso considero estes homens com espírito mais de amador, do que alguns dos que, posteriormente, tomaram essa designação.

 

As touradas ganharam grande relevo e de quando em quando, o Rei e a Corte iam assistir. Quando tal acontecia, armava-se um palanque para a Corte se instalar. Uma rampa que partia da arena dava-lhe acesso. Para impedir que houvesse algum toiro que quisesse fazer uma visita ao Rei, sem ter pedido audiência, a defender esse acesso eram colocados alabardeiros, uma força militar da altura.

 

Inspirados na táctica guerreira do quadrado, eram oito os elementos que compunham essa defesa, a que se passou a chamar “Casa da Guarda”. Como as lâminas das armas dos alabardeiros, estropiassem demasiado os animais que investiam contra elas, considerou-se que oito “homens do forcado” os podiam substituir perfeitamente e assim aconteceu. Foi também a partir daí que se determinou que deviam ser só oito elementos a fazer a pega. Limitação que modernamente não é respeitada. Se o toiro dá muita luta, vemos saltarem três e quatro forcados, a que chamo de “excedentários”, em ajuda dos oito iniciais, fugindo depois do toiro parado, como se ninguém os tivesse visto.

O Touro desse tempo, animal selvagem, feroz mas não bravo, de investida e derrote, agora, com o toiro de qualidade, seleccionado, estudado cientificamente e tentado, se pode fazer, estava for a de questão.

 

Embora nos dias de hoje, por desnecessárias, estejam banidas, nesse tempo, para combater a falta de qualidade dos adversários, os Forcados tinham várias formas de os pegar. omo apareciam muitos toiros com os cornos tendencialmente na vertical, quer dizer, gravitos, havia a pega de costas, que hoje, devido á correcção da córnea dos hastados, dificilmente se poderia tentar. Quando o toiro tinha estas características, não tinha muito peso, se não acudia ao cite, recorria-se muitas vezes a esta modalidade. Enquanto o grupo, no meio da arena chamava a atenção do cornúpeto, o pegador, correndo em diagonal, aparecia-lhe, de surpresa, à frente. Ele investia, o pegador enganchava-se nos seus cornos e seguia pendurado a trajectória que o bicho percorria ao encontro da ajuda dos colegas.

 

Contudo, a pega mais corrente e também mais fácil, era a pega à meia volta, a que os profissionais geralmente recorriam. Com o touro voltado para as tábuas, o pegador surgia-lhe por trás e a curta distância chamava-o. O animal voltava-se e investia contra o inesperado adversário. Por lhe darem pouco terreno e a investida ser instintiva e não preparada, esta era menos agressiva. Mas quando tal modalidade não podia ser aplicada por o touro “abroncar”, não investir, se ele obedecia ao capote, tentava-se a pega “à ponta do capote”. O peão de brega levava o oponente embebido no capote e quando o largava, aparecia-lhe na frente o pegador. Era também um embate em que o toiro era colocado  numa situação inesperada.

 

Igualmente a “cernelha”, injustamente chamada pega de recurso, era utilizada nestes casos. Se nenhuma destas modalidades se podia aplicar, vinha então a “pega ao sopé”, uma espécie de sai sempre, que os actuais Forcados ignoram completamente. O toiro grande, bronco, encrençado,  não respondia a nenhuma provocação. O pegador aproximava-se dele até à distância de um metro, metro e meio, o animal olhava-o, media-o, viam-se os seus músculos a prepararem-se para a defesa, mas não arrancava. O pegador então procurava que lhe chamassem a atenção e quando ele desviava o olhar, metia-se praticamente entre os seus cornos, obrigando-o, digamos, a investir. A pancada era violentíssima pois o touro preparava-se para acometer. Era necessário fechar-se com rapidez e ter bons braços.

 

Presentemente nenhum destes tipos de pega se pratica. Até a cernelha, uma pega sempre bonita, está a cair em desuso. Os toiros são todos pegados de largo ou a meia distância. Sucede ainda, que quando dentro da trincheira, existe uma diferença de atitude entre o Forcado antigo e o moderno.

 

No tempo em que os toiros não tinham qualidade e vinham para a praça  cheios de defeitos, tinha que se estar com atenção ao seu comportamento, para se mandar o peão de brega tentar corrigir qualquer anomalia que se notasse. Se metia as mãos à frente quando investia, se o fazia adiantando um dos cornos, se marrava alto ou baixo, se ensarilhava, se tinha ou não uma boa córnea, por vezes, se tinha algum defeito de visão. Tudo isto podia acontecer no gado que nessa altura aparecia. Por isso, dentro da trincheira, ninguém tirava os olhos do toiro.

 

Agora os componentes dos grupos podem voltar as costas ao que se passa na arena, cumprimentar os amigos e piscar o olho às raparigas. A tentativa de pega é a habitual, de largo ou à meia distância. Depois é só receber o bicho que responde de pronto ao cite, vem, rectilíneo e entra bem e ter bons braços e boas ajudas. Mas, enfrentar um toiro a corpo limpo, confiando somente na força dos braços, vontade, na ajuda dos companheiros e na nossa habilidade e determinação, é sempre um acto de coragem, por muito que, teoricamente, isso se apresente fácil.

 

Os Forcados, como passaram a ser chamados, simplesmente, os homens do forcado, iam ganhando cada vez mais popularidade. Isso despertou a atenção de classes sociais de nível mais elevado, que sentiram desejo de terem o mesmo acolhimento da parte do público.

 

Numa demonstração inequívoca de que o pegar toiros está na índole dos portugueses, sejam desta ou daquela classe social, não foi difícil arranjar Forcados.  Primeiro entre a nobreza, depois entre a burguesia.

Ao contrário do que os ditos profissionais faziam, não pediam nem recebiam qualquer paga pela sua actuação. Mas não pegavam todas as ganadarias e só entravam em corridas para amadores e normalmente, de beneficência. Começaram também, a dar mais espectacularidade à pega, não se confinando apenas à pega à meia volta.

 

A sociedade foi-se modificando, tornando os homens mais desejosos de um bem estar e protagonismo que dantes pouco ambicionavam. A Tauromaquia tornou-se um negócio. Se bem que fosse a sua aficion e não o lucro que o levava a pegar, o Forcado Profissional, já que o espectáculo tauromáquico era um negócio rentável, passou a considerar injusto e exíguo o que recebia. Começou por isso a rarear, quem se dispusesse a ser Forcado Profissional.

A machadada final que lhe deram, foi quando surgiu, em 1944, um grupo amador – o Grupo de Forcados Amadores de Lisboa – a propor-se pegar todas e não somente algumas ganadarias.

 

Na altura existiam apenas cerca de vinte forcados que se intitulavam profissionais, que se dividiam pelos quatro grupos sobreviventes: Grupo de Vila Franca, de Alcochete, Riachos, de Salvaterra e de Lisboa. O que saía de Cabo numa corrida saía como simples elemento. Tivemos assim o Zé da Vila chefiando o Grupo de Vila Franca; Artur Garret o de Alcochete; Serra Torres o de Riachos; Manuel Faia o de Salvaterr e Matias Leiteiro o de Lisboa. Este Grupo aliás, quando comandados pelo valente Adelino de Carvalho, conseguiu um nível exibicional que nunca nenhum outro tinha alcançado. Foi o último a desaparecer. Os espectáculos multiplicaram-se e os grupos profissionais acabaram. Mas o gosto de pegar toiros manteve-se naqueles que, eventualmente, podiam fazer parte deles.

 

Entretanto, a existência de um grupo amador a não recusar corridas, a pegar todas as ganadarias, levou os outros grupos amadores da altura, a fazerem o mesmo. No entanto, para entrar no esquema de se pegar toiros de todas as ganadarias, não havia nas classes mais privilegiadas, número de voluntários suficiente.

 

Passou-se então a recrutar gente, entre aqueles que teriam ido para profissionais se ainda os houvesse. Os grupos de amadores, passaram assim, a ser para eles, veículo de promoção social, escola de boas maneiras.

 

A par de toda esta movimentação, do mesmo modo havia, nas ganadarias, um cuidado minucioso com a criação do toiro de lide, que cada vez tinha mais qualidade. O que, igualmente, ia facilitando o recrutamento de jovens forcados.

É que, apesar de como já disse, pegar um toiro ter sempre perigo, o sabermos que o toiro, de uma forma geral, tem um arranque pronto e franco, investida e corrida rectilíneas e derrote vertical, ajuda a adesão de candidatos a pegadores. De tal maneira que parece ter-se tornado moda ser Forcado.

 

Igualmente o 25 de Abril teve influência neste surto de grupos de forcados. A seguir à restituição das ganadarias, começaram a aparecer nos espectáculos tauromáquicos animais com pouco peso e, isso é que conta, com pouca idade. Eram os chamados novilhos/toiros que, como se sabe, têm menos perigo que um touro feito.

 

Estas serão as razões que explicam a existência de quase quarenta grupos de forcados, cada um deles, pelo menos os principais, com 20, 30, 40 e até mais candidatos…

 

Também, porque vivendo nós agora, numa sociedade em que a aparência, o dar nas vistas, o fazer-se notado, é factor importante para se ter êxito, o ser-se Forcado, é uma óptima forma de conseguir visibilidade.

 

Evidentemente, no meio dos verdadeiros Forcados que, felizmente, vão aparecendo, há uma grande maioria que só pretende é poder dizer é forcado, que pertence a este ou aquele grupo. Anda por lá três ou quatro anos, faz meia dúzia de pegas e retira-se com lágrimas nos olhos e volta à praça aos ombros dos colegas.

 

Mas pronto!… o tempo e a mentalidade são diferentes. Agora é assim e ponto final. Há cinquenta, sessenta anos atrás, pegava-se por pegar, o Forcado era motivado por um desejo pessoal de testar as suas capacidades perante o perigo. Não tinha qualquer objectivo a alcançar, nem o fazia para agradar a alguém ou para se fazer notado. Quando chegava a hora de se retirar, fazia-o com a mesma discrição com que tinha entrado, sem lágrimas, voltas à arena ou saídas em ombros. Pegava oito, nove, dez, quinze e até, vinte anos. Enquanto se sentisse com ânimo e vontade para o fazer.

 

Por resta razão, por ser mais trabalhosa a pega ou por os toiros, grandes com idade e sem qualidade, imporem mais respeito, nesse tempo havia somente três grupos de forcados organizados e um que aparecia acidentalmente e com várias designações. Eram o Grupo de Forcados Amadores de Santarém, que foi chefiado por António Abreu, D.Fernando de Mascarenhas e depois Rhodes Sérgio, o Grupo de Forcados Amadores de Montemor, chefiado por Simão malta e depois Joaquim Capoulas, o Grupo de Forcados Amadores de Lisboa, chefiado por Salvação Barreto. Chefiados por Duarte Noronha, antes de este ingressar no Grupo de Santarém, mas sempre com os mesmos elementos, apareceram esporadicamnte: o Grupo de Forcados Amadores da Malveira, Amadores Açoreanaos, da Estremadura, os Manuéis, do Ribatejo.

 

Por outro lado, destes grupos, só Santarém e Montemor tinham número suficiente de forcados. Mesmo assim não iam além de dezoito ou vinte.

 

Mas enfim os tempos são outros.

 

O ambiente em que as gerações que se vão sucedendo se movem, está sempre em mutação. Haverá sempre uma geração a desfazer na que a precedeu ou a atacar a que lhe sucede. A actual dentro de anos será passado, também irá sofrer censuras e ataques e assim sucessivamente.

 

Assim, não pretendo atribuir quaisquer louros para o tempo em que fui Forcado. A valentia, o gosto pelo pegar touros, já tenho dito e repito, não é monopólio de qualquer geração. Mas que havia muito menos candidatos a Forcado, é uma verdade…

 

Seja como for, continuo a vibrar e a bater palmas a uma pega bem executada, a admirar os rapazes que se atrevem a enfrentar um toiro."

 

Carlos Patrício Álvares (Chaubet)

“MÁRIO COELHO – DA PRATA AO OURO”

20.12.11 | António Lúcio / Barreira de Sombra

 

Este é o título do livro apresentado ao público no dia 27 de Junho de 2005 na Fundação Mário Soares em Lisboa. Mas é também o tema de fundo com que o maestro vilafranquense nos brinda ao abrirmos o folheto que nos mostra a sua trajectória ao visitarmos a Casa Museu Mário Coelho em Vila Franca de Xira, na Travessa do Alecrim, número 5, junto à antiga Escola do Bacalhau, hoje Escola Àlvaro Guerra. Por isso, decidi, enquanto coordenador deste website, dar-vos a conhecer o texto que retrata parte da história de uma vida vivida intensamente.

 

“Percurso do Toureiro

Mais de 3000 toiros leva Mário Coelho lidados ao longo de uma carreira de 40 anos, onde actuou em 1427 corridas e mais de 200 Festivais de Beneficência. Foi há já meio século que a «Palha Blanco» em Vila Franca abriu as portas ao jovem amador Mário Coelho, numa Quinta-feira de Ascensão. Corria o ano de 1950. Imparável, Mário Coelho apresenta-se novamente em Vila Franca em 1955 prestando prova para bandarilheiro. Dá início, assim, a uma carreira que o iria guindar aos mais altos cumes do valor e da fama. O seu sonho começava a tomar forma: era já Profissional. A Praça do Sítio, na Nazaré, foi a escolhida para a Alternativa para Bandarilheiro, a 13 de Setembro de 1958.

 

«Em prata» iria dançar Mário Coelho alguns dos maiores e mais belos «solos» alguma vez dançados em todo o mundo, frente aos pitóns de um touro. O seu nome ía, aos poucos, alcançando os picos da fama e, em 1960 fixa-se em Espanha, de onde veio a cruzar mais fronteiras e a tornar-se ímpar em todas as arenas que pisava. (…)

 

O público português e estrangeiro ovacionava de pé sempre que o nosso herói lusitano empunhava as bandarilhas e iniciava nova dança rente aos pitóns de um touro. Na Monumental de Madrid saíram pombas brancas das bandarilhas mágicas de Mário Coelho. Ainda em Madrid, após 23 anos de silêncio, a música irrompeu durante um dos seus tércios de bandarilhas infringindo, assim a tradição que permite que a música só toque durante o paseíllo… A música explodiu em som, regida pelas bandarilhas do português Mário Coelho, para não mais tocar desde então.

 

Seis anos se escoaram durante os quais o nome de Portugal ia sendo levado em triunfo  dentro do mundo tauromáquico. Em praças engalanadas a bandeira portuguesa ia sendo hasteada em países como França, Espanha, Marrocos, Venezuela, Colômbia, Equador, México, Estados Unidos da América, Canadá, Angola, Moçambique…

 

… Mas uma vez na Plaza México o nosso estandarte não flutuava. Perante 60.000 aficionados Mário Coelho recusou pisar a arena enquanto no mastro não tremulasse uma velha bandeira verde/rubra, colocada às pressas, remendada e desbotada pelo sol azteca…

 

… Nem perdoou ao jornalista que, por lapso, se lhe referiu como andaluz… Às 4h da manhã Mário Coelho telefonava-lhe a corrigir: «Soy portugués, hombre! De Portugal y de Vila Franca». (…)

Episódios de patriotismo e episódios de humanidade, juntamente com valor e honestidade foram as notas dominantes do seu carácter.

 

Privou de perto e conviveu não só com os grandes vultos da tauromaquia mas também com os mais destacados vultos do mundo das Artes e das Letras como Picasso, Hemingway e Henri Papillon; com conhecidas vedetas e belíssimas mulheres como Ava Gardner, Audrey Hepburn, Deborah Kerr ou Capucine, e Mário Moreno (Cantiflas) ou Orson Welles.  Do seu círculo social também constam a realeza e a política como o Duque de Windsor e Lady Simpson, o Rei Humberto de Itália, Kubitechek de Oliveira, o Duque de Cádiz e o Presidente da República da Venezuela, Carlos Andrés Pérez.

 

Um toureiro é, por excelência, um herói que busca testes em que se prove. A carreira de Bandarilheiro já não proporcionava a Mário Coelho a execução de mais testes nem de mais desafios: era o número um. Era o melhor do Mundo. Tinha chegado ao cume, ao ponto mais alto, mas isso não lhe bastava. Ainda havia mais a provar, ainda havia muito por cumprir. Havia por cumprir um sonho de menino de se vestir de oiro.

O público também o incitava a mais.

 

Então, em 1967, Mário Coelho toma a Alternativa de Matador de Toiros em Badajoz das mãos de Júlio Aparício e com o testemunho de «El Pireo». Confirma a alternativa na Monumental de México em 1975 e na Monumental de Madrid em1982.

 

Cumpriu-se o sonho.

 

Mas não guardou ciosamente para si todo o mérito e conhecimentos.  Facultou-os a jovens que, como ele um dia, ambicionaram vir a pisar uma arena e são hoje figuras do toureio. Jovens de todo o mundo se contam entre nomes como Rui Bento Vasques, Pedrito de Portugal, Eduardo Oliveira, Pepe Luis Nuñez, Oscar San Roman, Adolfo Rojas, Mário Coelho Júnior e os bandarilheiros João José, Pedro Santos e Rui Plácido, apenas para mencionar alguns de muitos.

 

Famoso, elegante, pleno de vitalidade, rico de nome e de sabedoria, o Maestro Lusitano, tal como Camões, ansiou pela «ditosa pátria», sua amada, depois de ter escrito em diáspora, com temple e com o seu próprio sangue, o nome de Portugal e de Vila Franca, à qual tornou com «esta empresa já acabada».

 

Em 1990 chorou a música no Campo Pequeno ao cortar, para sempre, a coleta.”

 

In, Folheto da Casa Museu Mário Coelho

 PRINCIPAIS TROFÉUS E PRÉMIOS – MÁRIO COELHO

 

·         Troféu Diário Ilustrado – 1962

·         Troféu Jornal Acutalidade – 1963

·         Troféu Casa Paco – Feira de Santo Isidro – Madrid 1964

  • Troféu Joselito – Barcelona - 1964
  • Troféu Grupo Tauromáquico Sector 1 – 1964, 1965, 1979
  • Troféu Mayte – Feira de Santo Isidro – Madrid 1965
  • Troféu Casa Córdoba – Feira de Santo Isidro – Madrid 1965
  • Troféu Feira de Zamora – 1965
  • Troféu Feira de Vitória – 1965, 1966
  • Troféu Feira de Santander – 1965, 1967
  • Troféu Feira de Málaga – 1966
  • Troféu Feira de San Sebastian – 1966
  • Troféu Feira de Pamplona – 1966
  • Troféu Feira de Jerez de la Frontera – 1967
  • Prémio Especial Vista Alegre – Madrid – 1968, 1972
  • Troféu jornal Hoopstad – 1971
  • Troféu Casa Armindo – 1971
  • Troféu Feira de Coro – Venezuela – 1971
  • Troféu Cacique de Ouro – Maracay – Venezuela – 1972
  • Troféu Melhor Faena – Barquisimeto – Venezuela – 1972
  • Prémio Imprensa – 1972
  • Troféu Melhor Faena – Maracay – Venezuela – 1972, 1973
  • Troféu Melhor Par de Bandarilhas – Barquisimeto – Venezuela – 1973
  • Troféu Manuel dos Santos – Moita do Ribatejo – 1975, 1984
  • Troféu Sombrero de Plata – Monumental de México – 1976
  • Troféu Lark – Equador – 1976, 1977
  • Troféu Feira de Tuxpan – México – 1976, 1977
  • Troféu Nogales – México – 1976, 1978
  • Troféu Município de Riobamba – Equador – 1977
  • Troféu Rádio Voz taurina de Portugal – 1977
  • Troféu Domecq – Monumental de México – 1979
  • Troféu Daniel do Nascimento – Moita do Raibatejo – 1979, 1984
  • Troféu Rádio Comercial – 1979, 1987
  • Troféu Texcoco – Feira de Texcoco, México – 1981
  • Troféu Tertúlia Festa Brava - 1984

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