Estes dois termos são utilizados comummente pela generalidade da crítica em Portugal, confundindo-se um com o outro, quando na realidade reportam a coisas diferentes. Por isso trazemos hoje mais um trecho da Enciclopédia Tauromáquica Ilustrada, de Jayme Duarte de Almeida, editada em 1963 pela Editorial Estampa.
“Lide – conjunto de procedimentos realizados pelo toureiro para conseguir o domínio do toiro que enfrenta. || Execução sequente de diversas sortes com que os toureiros preenchem o seu trabalho nos toiros que lhes compete enfrentar e que algumas vezes se completa com a execução da pega. (...)”(fascículo 10)
“Faena – trabalho realizado pelo toureiro durante a lide; especialmente, o labor do toureiro com a muleta, em cada uma das reses que lhe compete matar. (...)”(fascículo 6)
Vejamos, de seguida, como o autor define enciclopedicamente a lide e depois a faena.
“A lide de um toiro obedece a determinado desenvolvimento, perfeitamente estabelecido e regulamentado na «corrida» espanhola e um tanto arbitrário na «tourada» portuguesa. Assim e no primeiro caso os procedimentos estabelecem a divisão em tércios claramente definidos, o que não sucede no segundo posto que, na chamada «lide à portuguesa» tudo o que normalmente se faz apenas obedece ao costume, carecendo de força regulamentar. Entre nós, até mesmo a anunciada «lide à espanhola», correspondendo ao espectáculo insipiente da novilhada económica (sem «picadores») peca por pouca claridade no seu desenvolvimento, o que é ainda agravado pela ausência da estocada e pelo perigo muito atenuado, o que estabelece ambiente para certos atropelos que se não verificariam se a lide houvesse de ser levada com verdade.
Na estrutura nacional do espectáculo taurino considera-se a lide de um toiro, as várias sortes que o cavaleiro possa realizar, só ou de parceria com outros cavaleiros ao fim das quais o toiro será «pegado» pelo grupo de forcados ou simplesmente por dois deles (pega de «cernelha»); considera-se ainda como lide de um toiro a realizada por bandarilheiros, que ao fim de cravarem uns tantos pares de bandarilhas verão acabar a lide pela maneira indicada para os cavaleiros. Este último caso, porém, muito em voga até ao fim do primeiro quartel deste século, está hoje quase totalmente posto de parte, verificando-se apenas em pouqíssimas praças de província. (...)” (NR – estes textos foram escritos nos anos 60 do século passado)
Quanto à faena, propriamente dita, Jayme Duarte de Almeida escreveu:
“Encicl.: A faena (2ª acepção) é, a bem dizer, uma das mais belas conquistas do toureio moderno. Na verdade o conceito de faena, como conjunto de passes formando um todo de expressão ligada e artística, só aparece quando já está bem entrada a segunda metade do séc.XIX. Antes não havia faenas, visto que os poucos passes que antecediam a estocada eram dados sem qualquer intenção que não fosse a necessidade de colocar os toiros para a realização da sorte de morte. (...)
... é, justamente, a partir de então (segunda metade do séc.XIX),que a sorte de varas vai perdendo uma importância que, automaticamente, se transfere para o toureio de muleta numa troca que permitiria dar à lide maior sentido artístico e conduzir o toureio à sua expressão actual dentro de uma estrutura em que a faena ocupa a mais importante e séria parte da lide apeada, vulgarmente dita «à espanhola».”
in Enciclopédia Tauromáquica Ilustrada, de Jayme Duarte de Almeida, editada em 1963 pela Editorial Estampa, fascículos 6 e 10