Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

BARREIRA DE SOMBRA

Desde 13.06.1987 ao serviço da Festa Brava

BARREIRA DE SOMBRA

Desde 13.06.1987 ao serviço da Festa Brava

LITERATURA TAURINA - "FRANCISCO MENDES - ESTILISTA DA CAPA" - DE PEPE LUIS

16.07.11 | António Lúcio / Barreira de Sombra

A CORRIDA DA ALTERNATIVA
Foi no domingo 10 de Agosto de 1954 que se realizou a corrida do doutoramento de Francisco Mendes, o que atraiu tão elevado número de portugueses.
Magnífico o aspecto da praça cheia de público até o telhado. Ambiente de alegria e entusiasmo que recrudesceu à entrada das qua­drilhas que saudaram a presidência, em cujos camarotes, decorados com festões de verdura e flores naturais, ostentavam a sua beleza formosas «senoritas» ataviadas à espanhola, com as suas «peinetas», mantilhas de medronhos e garridos «mantones de Manilla». Era dia solene. Recolhidas as quadrilhas, soou uma calorosa e prolongada ovação a Francisco Mendes, que teve de sair aos tércios para agradecer, tudo isto revelador do carinho que Málaga tributa ao toireiro português que naquela praça, nesse ano, logrou tardes triunfais.
Os toiros eram do Conde de Ia Corte, puro sangue de Parlada, com largas antenas na cabeça. O 1.° chamava-se «Gaditano», negro bragado, que foi recebido por Francisco Mendes com três verónicas e meia estupendas. Nesta ocasião estalaram as primeiras ovações da tarde. Vieram os «quites» e Mendes desenhou formosas e arrimadas «gaone-ras» e os «olés» continuaram.
O peão português «Badajoz» cravou dois belíssimos pares de bandarilhas. Procedeu-se, seguidamente, à cerimónia do doutoramento, apadrinhado por António Ordonez. A ternura do público novamente surgiu intensa. Mendes começou a «faena» de muleta com ajudados por alto. O toiro acusou fraqueza de remos e o matador, cuidando muito dele, continuou toireando por alto e logo por naturais, «derechazos» e peitorais.
Era evidente a grande vontade de Mendes no sentido de bem impressionar a multidão. Citou de largo, num desafio persistente. Não veio o toiro às primeiras, mas, num momento de decisão, arrancou, e, então, vimos uns naturais rematados com o de peito, desenhados com pureza, que o público sublinhou com delirantes «olés» e demoradas palmas. A «faena» continuou por «laserninas», «molinetinas», «dosantinas», lentas, e mais «derechazos» que o artista rematou, tocando o testuz do «Gaditano», com a graça que lhe está na alma. Mendes armando o braço para a estocada «pincho en el alto», para depois entrar igualmente recto, aplicando meia estocada e dois «descabellos" que provocaram grande ovação do público que compreendeu o esforço do honesto toireiro.
O 8.°, cornalão como os irmãos, foi o que piores condições ofereceu. Toiros cornalões e de casta não assustam os bons toireiros.  Era  já noite, e toda a praça se iluminou, como por encanto, quando Chico Mendes estava desenhando umas verónicas de maravilha, cruzando-se como os valentes. E o público a acompanhar o artista com manifestações de apreço. Num «quite», Ordonez foi colhido em circunstâncias muito perigosas, mas felizmente sem consequências. Pois, apesar das dificul­dades do «Boguetón» — assim se denominava o toiro — Mendes conseguiu, com esforço honesto, ligar «faena», com belos passes e adornos, l1! chegada a hora da sorte suprema, Mendes entrou valentemente a matar, tão recto que sofreu uma voltareta. O toireiro a levantar-se, o toiro a tombar. E as ovações estalaram em homenagem ao valoroso matador de toiros português.
Os outros seis toiros do Conde de Ia Corte tanta bravura e nobreza traziam que motivaram actuação notabilíssima a António Ordonez, César Girón e «Chicuelo II».

 “Francisco Mendes – estilista da capa”, de Pepe Luis, Lisboa 1958