A simpatia que tenho pelos FORCADOS, leva-me a ficar bastante sensibilizado se percalço grave acontece a algum. Mais quando é com a própria vida que paga a prática de tão arriscada modalidade. Essa a razão porque me emocionei especialmente com a morte de Ricardo Silva, o “Pitó”, ocorrida em 16 de Agosto de 2002, na Praça de Toiros de Arruda dos Vinhos.
No passado dia 3 de Julho, ao ver a sua fotografia no mural criado em sua memória, comovi-me. Lembrei-me então do que tinha escrito sobre o o infeliz acontecimento que o vitimou. Senti desejo de o dar a ler novamente. É mais uma forma de o fazer lembrado. Da sua família ver que o “Pitó” não caiu no esquecimento. “A ALMA É ETERNA?” é o título desse doloroso escrito.
.”A Morte, além da tristeza, dor, e desespero que traz, constitui um mistério para o homem. Haverá vida depois dela? Se há, para onde a iremos gozar? Haverá céu, purgatório e inferno, como pregam os católicos? Voltaremos à terra quantas vezes forem necessárias para nos purificarmos, para atingirmos o estado de Nirvana, como dizem os budistas? Haverá realmente reencarnação como afirma o Hinduísmo? Só a crença numa qualquer religião nos pode dar uma certeza. Para quem não tem em quem acreditar a Morte continua um enigma.
Ou antes, um acontecimento natural a que ninguém escapa e que não tem história após suceder. Depois podemos “viver” sim, mas só na memória de quem nos recordar.
Porém por vezes a Morte apanha-nos de surpresa. Aparece brusca e prematuramente e o que é natural e inevitável, passa a ser uma tragédia, uma partida do destino.
Foi o que aconteceu na fatídica noite de 16 de Agosto de 2002 na Praça de Toiros de Arruda dos Vinhos. Um toiro ceifou a vida a Ricardo Silva, jovem Forcado do Grupo de Vila Franca de Xira. Tinha 25 anos…
Recem casado, à sua frente toda uma vida para constituir família. Bom filho, bom irmão e amigo do seu amigo. Quando do seu funeral, a dor e angústia de familiares e companheiros era contagiante.
Porém não foram só eles a sentir a injustiça desta perda. As ruas de Vila Franca de Xira encheram-se de gente. O trânsito parou. Conhecidos e anónimos, todos se queriam despedir do Ricardo Silva, o popular “Pitó”, que tantas simpatias granjeara, com a sua maneira de ser simples e agradável. Não há nada que compense ou mitigue a perda de um filho, de um irmão, da pessoa ao lado da qual pensávamos viver para sempre. Nem de um amigo de todos os dias. Mas o Ricardo Silva morreu como um herói. Provou que nos mistérios da Morte, há uma certeza – a ALMA é a última a abandonar o corpo.
O embate do corpo do “Pitó” contra a trincheira foi tão violento que viria a custar-lhe a vida. Logo se intuiu a sua gravidade . Todavia Ricardo Silva, o Pitó, era um FORCADO. Não se rendeu. Havia que consumar a pega.
Bem fechado na cabeça do toiro, aguentou estoicamente as dores. Quando este parou estava esgotado. Foram os colegasque ajudaram a desfazer o abraço fatal. As suas últimas palavras, ditas de forma simples e calma - ESTOU-ME A SENTIR MAL - pressajeavam o pior. Mas denotavam o orgulho, a satisfação, a certeza de ter sabido honrar a jaqueta de ramagens que vestia.
A pega fora consumada.
A ALMA DE FORCADO do Pitó, infelizmente não venceu a traiçoeira Parca mas, obrigou-a a esperar.
E se realmente a Alma não morre, ele ouviu o toque do cornetim chamando para a pega, os emocionados aplausos da multidão que dele se despediu quando a urna, com o seu corpo, deu volta à arena. Imagino-o lá em cima, para onde os padres dizem irem os bons, de barrete na mão e lágrimas nos olhos, agradecendo sensibilizado a distinção recebida.
Eterno descanso é o que desejo para o Ricardo Silva, o “Pitó”
Carlos Patrício Álvares – “Chaubet”