QUANDO NÃO HÁ SOLUÇÕES, SOBRA O VALOR OU...
Praça de Toiros do Montijo – 24.06.11
Director: António José Martins – Vetreinário: Carlos Santos – Lotação: ½ casa
Cavaleiros: António Teles, Filipe Gonçalves, João Telles Jr, Duarte Pinto, Francisco Palha, Tomás Pinto
Forcados: Ribatejo, Moita, Montijo
Matador: Octávio Chacón
Ganadarias: Arucci (6) e António Charrua (1)
Sempre entendi que a lide é um conjunto, um somatório, das avaliações que os toureiros e os forcados fazem das características dos toiros, da eleição dos melhores terrenos, de serem capazes de discernir e de lutar com inteligência contra a força bruta do toiro. Só assim se conseguem levar de vencida e, em muitos casos, criar arte. Outra coisa é sobrar valor ao artista, qualque que seja a sua condição, e este ser capaz de se impôr pelo arrojo que o seu valor interior o impulsiona a colcoar em tudo quanto faz. Ou... como sucede em muitas corridas, e esta não fugiu à regra, utilizam-se sortes de recurso para sacar palmas.
Outra situação tem a ver com os forcados. Grupos com menos corridas, com menos valores individuais e menos colectivo por força do escasso número de corridas, têm muito mais dificuldades em encontrar as tais soluções que se im põem para o êxito e socorrem-se do valor e da abnegação de uns quantos elementos para tentar o impossível. Não houve toiros impegáveis no Montijo. Houve sim falta de entrosamento, falhas claras dos ajudas (pontas de bola onde é que andarvam???) e nem sempre as soluções terão sido as melhores. Um toiro sem ser pegado (segundo da noite, Amadores da Moita) e 14 tentativas para consumar as pegas de caras aos outros cinco toiros, convenhamos que não abona nada em favor do espectáculo.
Os toiros de Arucci, dois deles com cinco anos cumpridos, estavam bem apresentados, com médias acima dos 600 kilos, tiveram comportamentos distintos mas sobre o manso, com destaque negativo para segundo e quarto, ambos muito reservados e com investidas brutas quando sentiam que podiam colher as montadas. Nos forcados, entraram forte e derrotaram col alguma violência.
Valor e soluções não faltaram a António Telles ante o melhor da corrida. O maestro da Torrinha desenvolveu lide interessante e com ritmo, encontrando os melhores terrenos para deixar a ferragem da ordem, com destaque para a série de curtos em que provocou bem as investias, cravou a preceto e rematou como mandam as regras, numa actução de muito bom nível.
Filipe Gonçalves também assinou boa prestação ante um toiro tardo e que lhe criou dificuldades que soube resolver a contento. Esteve em bom plano a lidar e a cravar, com dois curtos de muito bom nível, pisando terrenos de compromisso e deixando excelente ambiente nas bancadas. Uma actuação muito interessante do cavaleiro algarvio.
João Telles Jr lidou dentro do seu estilo, com muita movimentação, cites bonitos mas com o senão de cravar sempre a cilhas passadas. Um defeito que deve e pode corrigir e, na fase final da lide, sacou dos violino e de palmo para alegrar as hostes, numa lide que não teve impacto junto do aficionado mais exigente.
Duarte Pinto esteve ao seu nível em especial na ferragem curta onde deixou alguns bons ferros em sortes frontais bem marcadas, por vezes entrando ao pitón contrário, numa actuação meritória frente a um toiro que também não facilitou por muito tardo e reservado.
Francisco Palha voltou a estar entre o bom e o sofrível pois se mostrou valor na abordagem das sortes, nem sempre encontrou espaços para que as mesmas saíssem completamente limpas. Teve bons pormenores, na brega, e dois ferros curtos de melhor nota.
Tomás Pinto teve uma lide que não encheu «o olho» como se diz na gíria, alternando também entre o suficiente e o sofrível frente a um toiro que poderia ter dado outro rendimento e outra lide. Finalizou com os violinos, bem afinados.
No toureio a pé exibiu-se com agrado o matador espanhol Octávo Chacón, autor de bons e variados lances de capote e com uma agradável faena de muleta ante um novilho de Charrua a que faltou classe e recorrido. Alguns bons muletazos por ambos os pitóns, variedade e bom gosto, impondo-se ao novilho com sabedoria e maturidade e desfrutando também.
Resta falar das pegas de caras. Pelos Amadores do Ribatejo, o cabo João Machacaz consumou à segunda e Mário Gonçalves com raça à 4ª e a sesgo, vindo a ser premiado com o troféu Adega de Pegões à melhor pega. Os Amadores da Moita, depois de cinco tentativas de caras falhadas deixaram o seu primeiro recolher sem consumarem a pega e no segundo Fernando Grilo consegiu fechar-se e ser ajudado à segunda tentativa. Finlamente, pelos Amadores do Montijo, o cabo Ricardo Figueiredo concretizou à 4ª e a sesgo e Élio Lopes à 2ª.
Direcção condescendente de António José Martins assessorado pelo veterinário Carlos Santos, num espectáculo que se prolongou por quase quatro horas.