EQUILIBRIO, SENSIBILIDADE E BOM SENSO
No seguimento do meu artigo da passada semana (da banalidade à genialidade), e com o reconhecimento expresso de que por vezes me falta capacidade para escrever sobre coisas tão vulgares e tão mal executadas que a vontade é não escerever, decidi hoje avançar com outra opinião que, valha o que valer, é aquela que tenho como causa de muito do mau toureio que vemos hoje nas arenas e que leva a que os ferros sejam cravados mais que à garupa, muitas das vezes a toiro passado... Mas é verdade que às vezes apetece mandar a educação às urtigas tão mau foi o espectáculo!
Se repararem em muitas das fotografias que enchem os sites e os blogs, e até nos jornais e revistas, não se vê o momento do ferro (cuidado colocado pelos editores de fotografia para não prejudicarem a imagem dos toureiros) mas vê-se, claramente, o desequilibrio em que as montadas saem para as sortes e, consequentemente, para os ferros. Vejam quantas fotos existem publicadas em que se vê, logo no início da viagem, o cavaleiro todo pendurado para o lado esquerdo e o cavalo em igual movimento, apoiado nos membros do lado esquerdo e com dificuldades extremas para se equilibrarem de forma a mudar de mão e vencer o piton no momento da reunião. Esforço tremendo e inglório de muitas das montadas...
Aprendi, nas poucas lições que tive de equitação, e sobretudo no que li, que é essencial equilibrio e sensibilidade para uma boa equitação e para que se estabeleça a relação cavalo/cavaleiro que permita que se tornem uma peça única. Já aqui vos dei a conhecer – no artigo “Sobre Toureio a Cavalo e Suas Regras” - alguns excertos do excelente trabalho do engº Fernando Sommer d’Andrade intitulado “Advertências e Regras para o Ensino do Cavalo de Toureio no Séc.XX – Estudo sobre o paralelismo entre a equitação de obstáculos e de toureio”, e que 40 anos volvidos sobre a sua publicação se encontra, mais do que nunca actual.
E como tudo isto me preocupa, fui ao site da Associação do Puro Sangue Lusitano para aquilatar dos critérios de avaliação do concurso que anualmente efectuam sobre o melhor cavalo lusitano de toureio. Passamos a transcrever:
Critério de avaliação – regulamento da APSL – melhor cavalo de toureio
1 – Aptidão Física
Coeficiente: 1
Notas: 0 a 10
- Aptidão física adaptada à função;
- Força que proporcione facilidade e eficiência nas rápidas mudanças de velocidade e trajectória;
- Capacidade de deslocação lateral, com facilidade e harmonia, tanto no quarteio das sortes frontais como nos movimentos a duas pistas;
- Bom equilíbrio;
- Segurança nas passadas;
- Elasticidade;
- Tipo.
Nota máxima: 10
2 – Aptidão Psicológica
Coeficiente: 1
Notas: 0 a 10
- Submissão, boa aceitação do ensino (grau de ensino), das ajudas e da vontade do cavaleiro;
- Capacidade de concentração, atenção e calma (sobretudo nos lances mais exigentes de coragem e esforço físico). Concentração e atenção durante o cite;
- Sujeição e segurança no remate das sortes;
- Aceitação das trajectórias impostas pelo cavaleiro.
Nota máxima: 10
3 – Aptidão Artística
Coeficiente: 1
Notas: 0 a 10
- Habilidade- Encurvação natural no sentido do toiro
- Recolhimento instintivo dos posteriores
- Percepção e controlo da investida
- Domínio da investida através da curvatura do dorso
- Variação da amplitude das passadas de galope
- Facilidade na conquista de terrenos de dentro
Nota máxima: 10
4 – Verdade no Toureio
Coeficiente: 2
Notas: 0 a 10
- A verdade no toureio assenta na abordagem dos terrenos de maior risco e na profundidade como é interpretado o toureio fundamental;
- No toureio a cavalo o toureio fundamental, baseia-se na sorte de frente;
- Deverá valorizar-se – tal como no toureio a pé – a capacidade de carregar a sorte (no sentido do oponente ou ao piton contrário);
- Deverá valorizar-se a reunião ao estribo – com o cavalo rodando sobre as espáduas.
- Deverá ser penalizado qualquer desvio exagerado da trajectória, que prejudique a reunião;
- Deverá ser penalizada a reunião com o cavalo atravessado – garupa na direcção do toiro.
Nota máxima: 20
5 – Criatividade – Comunicabilidade
Coeficiente: 2
Notas: 0 a 10
- Valorização dos lances de maior criatividade do cavalo;
- Valorização da criatividade, beleza e harmonia dos lances que permitem uma corrente de comunicação entre a concepção artística do toureio, a intuição do cavalo e o público;
- Valorização da capacidade que o cavalo tem, por si só, de chegar ao triunfo – Cavalo craque.
Nota máxima: 20
Pontuação máxima: 70 pontos (10+10+10+20+20)
E se tomássemos a liberdade de, um dia destes, adaptar estes critérios às actuações dos cavaleiros? Que resultados obteriamos? Quem seriam os grandes triunfadores da temporada? Responda quem saiba!