AS CORRIDAS VISTAS NO JORNAL “SIZANDRO”, EM “VIDA RIBATEJANA” E nas brochuras DA COMISSÃO DE FESTAS
A busca de elementos escritos que permitam conhecer a evolução das corridas, da composição dos cartéis, e dos resultados artísticos e financeiros, não é fácil. Contudo, na Biblioteca da Câmara Municipal de Sobral de Monte Agraço existe um espólio que, em parte, nos permite traçar essa evolução através do antigo jornal “Sizandro”, do jornal “Vida Ribatejana” e com a colaboração preciosa das brochuras que publicitam as Festas e Feira de Verão em Setembro.
Foi deles que nos socorremos para vos dar a conhecer um pouco dessa evolução pois que o “Sizandro” teve a sua vida nas décadas de 60 e 70, e manteve também uma coluna de tauromaquia, tal como a “Vida Ribatejana” e os registos das festas em programa mais detalhado percorrem as décadas de 80 e 90.
Nas brochuras editadas pela Comissão de Festas recolhemos alguns textos que consideramos de interesse para se conhecer um pouco mais da história da nossa praça de toiros e das vivências dos sobralenses mais ligados à tradição taurina.
Em 1985 foi editado um texto da autoria do Sr. Consiglieri Morais que retrata as esperas de toiros. Transcrevemos, com a devida vénia, parte desse texto:
“Esperas de Toiros de Outros Tempos
Nesses tempos, os cavaleiros do Sobral e arredores juntavam-se e partiam ao encontro dos campinos que conduziam a manada que vinha de Samora Correia ou Salvaterra e que, umas vezes, trazia toiros dos Irmãos Roberto, de Coruche e, outras vezes, de Galrinho & Mendes da Azinhaga.
Tal manada, dirigia-se ao Montijo, onde o gado ficava a pastar no Casal Velho, durante a noite, e era apartado no dia seguinte. Assim, é fácil deduzir qual fosse o percurso da espera: vinha do lado da Freiria, apontava ao Freixo (que havia em frente ao Ferrador), atravessava o Largo, passava ao Chafariz, atingia grande velocidade à esquina da igreja e, depois, subia a Rua Heróis da Bélgica, a caminho da Praça.
Ainda estou a ver alguns desses animosos cavaleiros que costumavam acompanhar a caravana: António Batista; João Padeiro; Chico de Pero Negro; José da Missanga, da Patameira; Joaquim Féliz, dos Folgados; Domingos Dias e muitos outros. Tais cavaleiros, tinham seu garbo e é certo que sempre deram provas da maior coragem. (...)”
Decorria o ano de 1991 e cumpriam-se 70 anos sobre a data da inauguração da Praça de Toiros de Sobral de Monte Agraço. Um outro grande sobralense e homem a quem as Festas e Feira de Verão muito devem do seu brilhantismo, Amílcar Leitão da Silva escreveu o texto que a seguir apresentamos e do qual retirámos alguns excertos:
“Os Setenta Anos da Praça de Toiros
Segundo os dados conhecidos(..) foi a Praça de Toiros, hoje pertencente à Santa Casa da Misericórdia de Sobral de Monte Agraço, inaugurada no Domingo das Festas de 1921, completando 70 anos no próximo dia 11 de Setembro. (...)
Sabe-se no entanto que os iniciadores da iniciativa foram João Simões da Silva Lopes, Eduardo Sande Jordão, Manuel faria e outros e que os Fundos foram angariados da população que ficava com recibos e direito a acções duma futura Sociedade Anónima.
Na verdade, embora inaugurada em 1921 a Sociedade Tauromáquica de Sobral de Monte Agraço S.ªR.L. só foi constituída 29 anos depois por escritura de 31 de Março de 1950, e as Acções, no valor de 10$00 cada, só foram emitidas a 23 de Maio de 1951, praticamente 30 anos após a subscrição. (...)
Por lá passaram os maiores nomes do Toureio de Portugal, de Rufino Pedro da Costa a Manuel e José Casimiro, Núncios e Veigas, Mascarenhas, Condes, Ribeiro Teles, Batista e tantos outros.(...)
Também o toureio apeado foi uma forte tradição durante anos e anos, nela vimos o mexicano Gregório Garcia, o “Carnicerito de México”, Manuel dos Santos, ainda praticante e anos mais tarde grande matador a sair em ombros pela porta grande. Tardes inesquecíveis de Armando Soares, José Júlio, Ricardo Chibanga...”
Mas o jornal “Sizandro” – e porque apenas nos queremos reportar apenas a documentos feitos em Sobral – também nos deu alguns textos de interesse ao longo da sua existência, não faltando as crónicas taurinas assinadas por Jotacêdois e João da Silva Ferreira “El Marreco”.
Trataremos de reproduzir alguns dos textos de maior interesse.
“Tourada no Sobral?
Fala-se que no dia de Todos-os-Santos, aproveitando a grande afluência de forasteiros à feira de São Quintino, a Santa Casa da Misericórdia promoverá um festival taurino em favor do nosso Hospital.
Ouvimos até alguns nomes como o de Mestre João Núncio e seu filho José Barahona Núncio, José Trincheira, José Simões, grupo de Forcados de Montemor, ganadaria Passanha, etc., etc...(...)”
In Sizandro, nº 7 – Outubro de 1961
A questão da insegurança da antiga praça de toiros fez com que um grupo de sobralenses composto por Fernando Oliveira Gonçalves, Armindo Firmo Dinis, José Francisco da Silva, Álvaro Virgilio Branco, Venceslau Vítor Simões, Francisco Duarte, Amadeu Leandro, Lenine das Dores Cuco, Bernardo Diós Silva, José Lopes, António da Costa Lopes e Aníbal Miguel Carvalho das Neves lançasse um apelo que teve os seus ecos no jornal Sizandro. Aqui reproduzimos a circular datada de 1 de Novembro de 1961, da referida Comissão Pró-Construção da Praça de Toiros e publicada no jornal Sizandro, no nº 8, de Novembro de 1961:
“Sobral, 1/11/61
Ex.mo Senhor
Um grupo de Sobralenses constituiu-se em Comissão com o fim de arranjar fundos para a construção de uma nova Praça de Toiros, que ficará sendo pertença da Santa Casa da Misericórdia desta Vila.
Sabido como é grande o entusiasmo da gente estremenha pelas toiradas e reconhecido o desmedido bairrismo dos habitantes ou naturais do Sobral, embora afastados para longes terras, não duvidamos do grande êxito da iniciativa.
A nova Praça será forçosamente uma realidade bem próxima, assim todos acedam , na medida das duas possibilidades, a colaborar vindo ao encontro do nosso apelo e aumentando o nosso tão grande entusiasmo.
A festa dos toiros tem sido, desde sempre, o mais gritante cartaz das nossas Festas e, consequentemente, da nossa querida Terra. Por isso pugnaremos, sem desfalecimentos, até à conclusão da nova Praça.
Porque a antiga Praça não dispõe das mais elementares condições, nem tão pouco obedece já às exigências da Lei, se pensou em nova Praça. Tornando-se necessário aumentar a lotação para maior defesa, verificou-se ser pequeno o actual local. Assim, a futura Praça de construção arrojada, com todos os requisitos para comodidade do público, com lotação para 5 a 6 mil pessoas, marcará mais uma etapa na vida do Sobral. (...)”
Na mesma edição do Sizandro havia um artigo sobre as condições da Praça de Touros:
“Nova Praça de Touros no Sobral de Monte Agraço
Por esta região do Sobral, tão aficionada como as gentes ribatejanas, correu depressa a notícia que iríamos ter, para muito breve, uma nova praça de touros na vila.
Não estranha a notícia quem, uma vez só, entrou na velha praça de tábuas esburacadas e incertas, escoradas com prumos de eucalipto de efeitos seguros mas de aspecto duvidoso.
Conhece-se o entusiasmo de todo este povo pela festa brava que ainda na última corrida das festas superlotou a praça e sabe-se igualmente que as festas de Setembro perderiam o seu melhor atractivo se não pudessem realizar-se de futuro novas corridas de touros.
Também não é segredo que a Misericórdia do Sobral luta com falta de fundos a que não é estranho o número exíguo de sócios e os maus anos agrícolas que têm caído ultimamente sobre a lavoura. Porque a Misericódia é detentora da quase totalidade das acções da velha praça pode, pois, tomar a iniciativa de uma nova construção sem prejuízo de terceiros.
Por todos esses considerandos, uma Comissão de Comerciantes da Vila resolveu oferecer-se para colaborar com a digna Mesa da Misericórdia na obtenção de meios destinados à efectivação do anseio comum e deslocou-se à residência do Senhor D. António Sobral, Provedor da Santa Casa, que os acolheu da melhor maneira.
Discutida a sua melhor localização, deliberou o Senhor Provedor ceder gratuitamente todo o terreno necessário à praça e respectivos anexos. Sua esposa, D. Maria Ana Passanha Braaancamp Sobral, fez a oferta pessoal de 10.000$00.
Conta-se com uma comparticipação oficial não inferior a 200.000$00 porque o seu rendimento se destinará exclusivamente àquela instituição hospitalar. Daí que a bola de neve parece destinada a tomar vastas proporções havendo a registar por parte do Sr. José Luis Comprido a dádiva de 200$00 que logo entregou ao tesoureiro da Comissão.
Dos seus modestos recursos a Administração de o «Sizandro» oferecerá também duas sacas de cimento porque é vontade firme e decidida dos seus dirigentes colaborar em tudo o que se fizer a bem do Povo do Sobral.
Nas nossas colunas iremos registar todas as ofertas de cimento que aparecerem com destino a esta campanha agora iniciada e aberta no nosso já influente mensário(...).”
In Sizandro, nº 8, Novembro de 1961