11.11.2024 … A TERCEIRA ABORDAGEM À TEMPORADA 2024 DO BARREIRA DE SOMBRA
"É no dia de S. Martinho que bem cedo pela manhã, gente se mete ao caminho rumo à Feira da Golegã”. É assim que rezam os versos do fado mas a tradição já nem aqui é que era. A massificação da feira, em todos os aspectos, retirou-lhe, na minha modesta opinião, muito do glamour que tinha…
Mas no campo taurino, a temporada que terminou fica marcada por ser uma das que mais espectáculos teve adiados, cancelados, suspensos. Muitas das vezes com justificação das inclemências climatéricas, da falta de segurança do piso das arenas, quiçá também por “chover” na bilheteira, e algumas vezes porque não houve cuidado suficiente em proteger a arena de forma eficaz. E esses adiamentos, cancelamentos e suspensões fizeram mossa financeira.
Nos últimos anos os valores de licitação para as praças de toiros, por 1, 2 ou 3 anos, atingiram valores inacreditáveis. E ninguém faz um estudo económico de viabilidade do negócio, estudando pontos fortes e pontos fracos, artistas e ganadarias da preferência do público, a prática de preços de acordo com a realidade sócio-económica da região em que se insere cada praça. Ninguém o faz e o investimento pode, em muitos casos, ser ruinoso, e não apenas para o empresário.
Tal co o já anteriormente referiu, houve algumas corridas que me despertaram maior interesse, pela sua diversidade, pela qualidade dos cartéis, e que me fizeram sair de casa com vontade, com ilusão de me emocionar e, acima de tudo, porque tinham toureio a pé. Por isso a presença em Évora, em Vila Franca, na Nazaré, na Moita, em Mourão, em Sobral de Monte Agraço e Azambuja na última da temporada onde houve um importante triunfo de António João Ferreira, isto depois dos triunfos de Marco Pérez e Tomás Bastos em Vila Franca, de Bastos e Borja Jiménez na Nazaré, de Dias Gomes em Évora, e dos agradáveis festivais e novilhadas nas restantes praças. E, como não, Roca Rey a esgotar os mais de 11 mil lugares de Santarém.
Esta modalidade, das corridas mistas, quando bem mesclados, permite uma maior abrangência de público, pois garante a diversidade de modalidades e respectiva competição e dá ao público um maior leque de opções. E não temos falta de matadores e de jovens novilheiros que possam competir com os cavaleiros, alguns deles também das novas gerações e que podem, de alguma forma, começar a subir os degraus da fama e criar expectativas junto do grande público. E é da competição que pode nascer uma nova dinâmica de êxito e de presença de público nas bancadas das praças.
Outra das questões é a vertente económica. Nunca foi um espectáculo barato, o dos toiros. E também me parece da leitura atenta de cartazes antigos, e falo dos de há 40/45 anos atrás, que o preço de um bilhete geral de sol não ultrapassava, em média, o salário diário de um jornaleiro. Hoje os preços médios ultrapassam o salário diário de um trabalhador e isso, muitas vezes torna-se incomportável para a generalidade das bolsas, sujeitas a maiores exigências em todos os campos e onde a parte financeira tem um peso muito elevado no orçamento familiar.
Texto: António Lúcio