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BARREIRA DE SOMBRA

Desde 13.06.1987 ao serviço da Festa Brava

BARREIRA DE SOMBRA

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“O CAVALO DA TOIRADA” – IN «CORRIDA – BREVE HISTÓRIA DA TAUROMAQUIA EM PORTUGAL, de Mascarenhas Barreto

24.02.13 | António Lúcio / Barreira de Sombra

 

Dando seguimento ao nosso propósito de divulgar textos de relevante interesse para o aficionado, passamos a dar a conhecer o que Mascarenhas Barreto escreveu no seu livro acima referido a páginas 115 e seguintes sobre o ensino do cavalo de toureio, ele que serviu o Exército português em Lanceiros 2 na Ajuda, quando ainda esta Divisão das Forças Armadas andava a cavalo.

 

“… Para a toirada – além dos andamentos naturais – é essencial estar a montada bem treinada na «saída a galope» imediata, estando o cavalo parado, e na «parada» (travagem) rápida, indo o cavalo a galope, assim como o andamento de «galope oblíquo» e também a «pirueta». Por vezes, os cavaleiros exibem na arena a «galope lateral», e, no desafio do toiro – a citação – realizam, repetidamente, o 1º tempo da figura do «passo estendido» (jambette), em que o cavalo ergue uma das mãos estendida, várias vezes, como que a chamar o toiro. Para o mesmo efeito, também executam o «trote parado» (piaffer), em que a montada, numa mobilidade contínua, sem mudar de lugar, executa – por vontade do cavaleiro – o que costuma fazer, quando impaciente.

 

Para as Cortesias tem o cavaleiro de apresentar o cavalo bem industriado no «trote lateral» e no «recuar acelerado».

 

Os movimentos do cavalo podem ser progressivos (para a frente), retrógrados (para trás) e laterais (para o lado).

 

Tem o cavalo andares naturais, que são o passo, o trote e o galope e andares defeituosos: passo travado, entre-passo (ou traquinado) e furta-passo (ou andadura) resultantes de deficiências físicas do animal, por fraco ou arruinado. Mas, até esta forma de andar pode ser executada com um cavalo normal, por vontade do cavaleiro que, na plenitude da sua capacidade de ensino, pode, sobre a sela, elevar a montada a efectuar toda e qualquer acção de que é capaz em liberdade.

 

Há ainda andares artificiais, como o passo estendido (jambette) e o passo arregaçado (ou de manejo).

Quanto à velocidade de execução dos andares, pode o passo ser ordinário (ou natural), e acelerado; o trote pode ser pequeno (ou curto), grande (ou largo) e rasgado (ou muito largo); a galope ordinário (ou natural) é a 3 tempos; o galope terra-a-terra (lento) e a carreira (veloz) são a 2 tempos; o galope relevado (ou de manejo) é a 4 tempos, com batidas dos quatro membros, isoladamente. E o galope natural pode ainda ser unido (mais curto), ou avançado (mais largo).


Como os membros do cavalo são construídos mais especialmente para os movimentos progressivos, o trabalho de ladear torna-se-lhe mais árduo. Podem executar-se movimentos laterais a passo, a trote e a galope, e, mais simplesmente, movimentos oblíquos.

 

O trote pode ainda ser supenso (passage), em que o cavalo se ergue mais no ar, com menor progressão no terreno, e serpentário, em que ele se desloca como que sobre duas pistas paralelas, ora na da esquerda ora na da direita. Como atrás se disse, no trote parado (piaffer), o cavalo levanta os membros diagonais, como no trote ordinário, mas sem avançar no terreno; ora, este movimento pode ser executado em ritmo lento (ou regular) e precipitado, havendo sempre um tempo de paragem, imediato, sobre 3 membros, estando o 4º no ar.

 

Os movimentos retrógrados podem ser executados a passo, a trote e a galope, sendo estes dois últimos de muito difícil execução. Também o movimento de recuar com parada, a cada passo, ficando o membro anterior do cavalo estendido para diante e imóvel, em toda a distância que houver percorrido, exige particular habilidade.


Pode ainda o cavalo rodar a garupa, sobre o eixo das mãos, apenas deslocando os posteriores (trabalho de ancas), e executar o movimento inverso, deslocando os anteriores e fixando os posteriores (trabalho de espáduas).

 

A Parada, atrás referida, indo o cavalo a galope, consiste numa travagem, que é executada com a ajuda das esporas.

 

Existem também movimentos localizados, que são atitudes instantâneas: o empino e o coice (de um só ou de ambos os posteriores, neste caso «parelha de coices»). Também eles podem ser provocados pelo cavaleiro montado.

 

Os movimentos artificiais, que se consideram figuras de Alta-Escola, são a Meia-Pirueta e a Pirueta, consistindo esta numa volta do cavalo sobre si mesmo, invertendo a sua posição no terreno; fá-lo sobre as pernas, com impulso de uma das mãos, no chão, e estando a outra no ar durante o movimento; a Pousada, em que o animal se apoia bem nos posteriores, flectindo os curvilhões, levantando as espáduas e recolhendo as mãos no ar; a Curveta, que é a execução repetida da Pousada, podendo ainda a montada avançar ligeiramente no terreno; a Garupada, ou salto sobre o mesmo terreno, erguendo-se o cavalo no ar, com os membros recolhidos sob a barriga; a Balotada, que consiste no mesmo movimento, mas progredindo para diante no terreno; a Capriola (ou Cabriola), que é um movimento semelhante ao da Garupada, porém, com extensão dos posteriores para trás; e finalmente, as Passadas Furiosas, nas quais a montada, em pleno galope, a toda a brida, quase que pára, para logo se lançar em idêntica carreira. (...)

 

Com excepção das Passadas Furiosas, todos os movimentos artificiais, chamados figuras de Alta-Escola, ou de Arte-Marialva, poderão também ser executadas para a esquerda e para a direita.

 

É do conhecimento geral que, no movimento de galope para a direita, o cavalo progride com a mão direita mais avançada do que a esquerda e vice-versa, e que, se não o fizer, galopa invertido; e que se chama «mundança de mão», quando, por acção da espora e da rédea, a montada avança um ou outro membro anterior. Ora, o que está menos vulgarizado é a possibilidade de operarem «mudanças de mão», com o cavalo parado, e até «mudanças de perna».

 

Quando a montada vai a passo ou a trote e inverte a marcha, rodando no mesm terreno, executa a chamada Revezada (renversée).

Pode o cavaleiro fazer deitar o seu cavalo, no chão, tanto a passo como a galope, e conseguir que ele bata às portas, se ajoelhe e execute outras fantasias. (...)”